«Título europeu? É uma ambição, mas temos os pés bem assentes na terra»

Acredita que o Benfica pode conquistar um título europeu nos próximos 4 anos se for reeleito?

"Os títulos europeus, sobretudo a nível de Liga dos Campeões, são cada vez mais difíceis para países como o nosso. Fizemos aqui o melhor mandato em termos de pontuação europeia e chegámos duas vezes aos quartos-de-final e uma vez aos 'oitavos'. É uma ambição, mas temos os pés bem assentes na terra, combatemos contra os principais clubes do 'top-5' europeu e é muito difícil. Mas relembro que no primeiro ano de Schmidt chegámos ao quartos-de-final, saímos frente ao Inter, mas lembro o que vivemos naquele momento e a ambição que tínhamos. Há de chegar um ano em que as coisas se alinham. Não vou prometer que vamos ser campeões europeus porque é mais uma alínea para encher caderno eleitoral, mas acredito que tem de haver a ambição de chegar cada vez mais longe. É um bom mandato no que diz respeito a isso, mas o objetivo é conseguir mais do que fizemos".

Fim da entrevista

«Vou fazer de tudo para poder dizer que fui melhor presidente do que jogador»

Tendo em conta o passado que tem no Benfica, seria uma humilhação perder as eleições?

"De todo. Porquê humilhação? A história de querer ser melhor presidente do que fui jogador, não estou bem sentado se não tiver essa ambição. Aí não estaria a fazer nada no Benfica. É algo completamente natural, quem não quiser melhorar no dia-a-dia chegou a um limite. Quero andar sempre para a frente. Quero e sonho que o Benfica seja cada vez maior. Cada vez melhor. E tenho de ter essa ambição dentro de mim. E vou fazer de tudo para, no dia em que sair do Benfica, poder dizer que fui melhor presidente do que fui jogador. Se não continuar, não é de todo humilhação. A minha história no Benfica é muito bonita, começa aos 8 anos e hoje estou com 53. Nunca acredito que acabará agora, mas nunca consideraria uma humilhação".

«Thiago Almada? Houve uma tentativa para perceber se tínhamos a possibilidade, que depressa desapareceu...»

Falta algum craque no plantel?

"Thiago Almada foi diferente de João Félix. Houve uma tentativa para perceber se tínhamos a possibilidade, que depressa desapareceu porque houve um clube que ficou com ele. João Félix, houve uma tentativa de trazê-lo de novo a casa. Houve uma vontade grande, mas assim que se mete um clube árabe fica muito difícil...".

"Compreendo toda a situação, tudo o que envolveu a não-vinda dele naquele momento. Não se criou um muro. Se vamos contratar um craque em janeiro? Vamos ver. Esta é uma época muito atípica. Viemos de 60 jogos, do Mundial de Clubes terminado para lá da hora, conseguimos dar 10 dias aos nossos profissionais. E desde esse momento, jogámos sempre de 3 em 3 dias. E resta muito pouco tempo para trabalhar a equipa. O nosso foco neste momento é, no pouco momento que Mourinho tem, conseguir meter o dedo nesta equipa".

Quem é que Rui Costa promete trazer?

"Não faço promessas de anos 80 e 90. Estamos a trabalhar em função das necessidades do clube, do que temos no clube, que consideramos ser um bom plantel. Se chegarmos a janeiro e entendermos que é preciso retocar algo, cá estaremos para responder. Mas estar a prometer coisas nesta altura, dizer que vou contratar A, B, C ou D parece-me errado. Até pelos profissionais que temos dentro de campo".

«Sudakov é um homem muito maduro. Tudo o que se passa no seu país tornou-o numa pessoa mais adulta»

O que tem sido feito pelo Benfica para que haja apoio a Sudakov?

"Total apoio e disponibilidade do Benfica para auxiliar em tudo o que precise. Apesar da idade, é um homem muito maduro. Provavelmente tudo o que se passa no seu país tornaram-no uma pessoa mais adulta. Temos estado muito perto das necessidades do jogador, tentando auxiliá-lo ao máximo no que podemos. E parece-me que tem reagido extraordinariamente bem. É um jogador enorme. Este é um caso particular".

Considera que tenha sido um negócio de risco?

"Estamos cientes do que fizemos, conhecemos bem o jogador em termos futebolísticos e mentais. Estamos muito satisfeitos com ele e ele sabe que tem o clube ao lado dele".

«Quero é que as eleições fiquem fora do estádio durante o jogo com o Arouca»

As eleições têm pressionado a equipa?

"É natural, os jogadores são humanos e é natural que acompanhem de alguma forma esta situação. Há um apelo que tenho feito: as eleições vão decorrer no dia do jogo com o Arouca. É um dia histórico, são seis candidatos, vai haver uma operação gigantesca para que o máximo de pessoas possa votar. Mas não nos podemos esquecer que há jogo naquele dia. O que quero é que as eleições fiquem fora do estádio e que a equipa tenha todo o apoio que necessita nos 90 minutos. Este é um jogo de extrema importância. Sei que não é fácil, mas deixo o apelo na mesma".

«Provavelmente Mourinho não esperava poder vir para o Benfica nesta altura»

Imaginemos que Mourinho poderá ir para a Seleção no final da época...

"Já me levantaram essa questão e não deixa de ser curioso. Já se despediu José Mourinho e já se despediu o selecionador nacional. Já temos um selecionador novo, o Benfica já está à procura de treinador... Mourinho é treinador do Benfica. E agradecendo o facto de ter percebido o momento do Benfica, mostrando o interesse e a vontade de representar o Benfica. Provavelmente não esperava poder vir para o Benfica nesta altura. Mas neste momento tem contrato com o Benfica. Essa cláusula não é só para a possibilidade de outro candidato ganhar as eleições, tem a ver também com a saída. Ele tem de pagar na mesma medida. Neste momento, o que temos de falar é na felicidade que sinto em ter José Mourinho no Benfica".

E acredita que o terá muitos anos?

"Eu desejo, e acredito que todos os benfiquistas também, que essa cláusula não faça sentido, mas sim a renovação do seu contrato. É sinal que está a ter sucesso. É o que todos esperamos de um treinador".

«Posso garantir que não há jogadores do Benfica a ganhar 8 milhões por ano»

Villas-Boas referiu que há jogadores no Benfica a ganhar 8 milhões...

"Pessoalmente não quero saber quanto ganham os jogadores do FC Porto, não me preocupa. Pareceu-me estranho que o André tenha falado sobre isso, mas posso garantir que não há jogadores do Benfica a ganhar 8 milhões por ano. São valores incompatíveis para Portugal. Olhe, tinha ficado com João Neves. Mais perto de ficar com João Neves...".

"É uma matéria que tem de ser analisada, como é que um presidente pode ter acesso a valores e como foi feito essa mapeamento. Já confrontei Pedro Proença e estou à espera de resposta. Parece-me muito estranho que esse mapeamento tenha sido feito e anunciado por um presidente. A ser anunciado, teria de ser pela Federação".

Esse anúncio surgiu porque disse que o Sporting estava a ser beneficiado... O que pretende fazer para contrariar isso?

"Não quero que o futebol português seja comunicados semanais e que seja toda a esta confusão à volta do campeonato. Queremos o contrário, e que os árbitros participem no bom sentido. O alerta que fazemos ao Conselho de Arbitragem é que haja medidas para que o futebol português seja cada vez melhor. Que haja menos erros e que o campeonato possa ser jogado em campo. Não é este o meu perfil, mas em defesa do Benfica irei fazê-lo".

Não está em cima da mesa um corte de relações com rivais?

"Não tenho isso em cima da mesa. Acho que para a indústria do futebol, o futebol deve estar unido. Mas depois cada um tem de fazer a sua parte".

Prémio aos funcionários: «Benfica não pára por haver eleições. Isto foi uma coisa planeada desde o início do ano»

Prémio aos funcionários foi considerado eleitoralista... Confirma que esse bónus não foi pago aos treinadores da formação?

"Se lerem essa peça toda, a pessoa acaba a peça a dizer que se sabia que os treinadores também iam receber. A pergunta que tem de ser fazer é que notícia é essa? Faço um cabeçalho a dizer que os treinadores estão descontentes, mas depois acabo a dizer que os treinadores vão receber também. É uma não-notícia. Está toda a gente incluída. Não tem a ver com eleitoralismo. O Benfica não pára porque há eleições. Até ouvi quem dissesse que eu não devia ter contratado um treinador. O Benfica não pára por haver eleições. Isto foi uma coisa planeada desde o início do ano. Chegando a determinados valores, dar um prémio a quem contribuiu para isso. O Benfica tem uma excelente equipa de pessoas. Traçados os objetivos anuais, é natural que chegando aos valores que chegámos, que toda a gente que colaborou tenha tido um prémio. Não tem nada a ver com eleitoralismo. Numa empresa normal isso é feito. E que tenham isso em atenção com Rui Costa ou sem Rui Costa".

«Nunca coloquei Vieira em dificuldade, estive sempre à disposição do Benfica»

A sua relação com Luís Filipe Vieira está complicada. Alguma vez foram amigos?

"Tenho dúvida é do contrário, nunca o ofendi em ponto algum. Não tenho por hábito ofender pessoas, vir a público manifestar-me dessa forma. Essa pergunta tem de ser feita a Luís Filipe Vieira. Nunca o coloquei em dificuldade, estive sempre à disposição do Benfica. Não está a haver conflito nenhum entre antigos amigos. Vocês têm visto uma das partes, cada vez que faz uma intervenção, a falar de mim da maneira como fala. E eu, noutra entrevista, já levantei a questão do porquê de me ter mantido lá aqueles anos todos".

Vieira colocou o Benfica na lama?

"Não estamos aqui como há quatro anos a discutir todos os dias os processos em que o Benfica estava incluído. O Benfica, até ao dia de hoje, não foi condenado a nada. O momento dos emails, dos processos, foi aquele. E foi por isso que houve uma alteração presidencial. Era muito difícil haver candidatos a segurar o Benfica naquele momento. E é por isso que digo que dei a cara. No dia em que entro como presidente interino, Vieira é preso nessa semana, depois passam 3 meses até às eleições. Não sou eu que estou a acusar ninguém. São coisas que o Benfica estava a viver naquele momento. E espero que o Benfica não tenha sofrido com isso".

Vieira não tem responsabilidade na falta de credibilidade que diz querer devolver ao Benfica?

"A credibilidade eu devolvi ao Benfica. Naquele preciso momento, no momento que entro como interino, o Benfica está em risco de perder o empréstimo obrigacionista, de ser excluído das provas europeias... Eu devolvi a credibilidade ao Benfica, não tenho a menor dúvida disso. Por todos os processos que estavam a acontecer... Vocês levavam três horas a discutir os processos do Benfica, não se falava se o Benfica estava bem ou não desportivamente. Nestes quatro anos, o Benfica não teve mais buscas, problemas absolutamente nenhuns. E se isso não é devolver a credibilidade, digam-me o que é. Até ao momento ninguém foi julgado e espero, pelo Benfica e pelas pessoas, que não haja mais processos".

«Conti? Não estamos a falar de fraude, mas de uma operação onde o Benfica deveria ser ressarcido. Vamos entregar o valor ao Ministério Público»

Sobre a transferência relacionada com o futebol russo que está a ser investigada...

"Aquilo que se quer dizer na alínea [do comunicado] é que não tínhamos interferência na venda do jogador da Rússia para outro país. Evidentemente, não sou eu que tenho o cargo de perceber se todos os jogadores sobre os quais temos percentagens já foram vendidos ou não. Tenho um departamento para fazer isso. O que se quer dizer com isso é que não temos interferência. Uma coisa é eu ter o direito de preferência sobre um jogador. No caso do Conti não era isso que acontecia. O clube onde ele estava podia vender o jogador para onde bem entendesse sem qualquer interferência do Benfica".

"Quando o jogador está noutro clube e temos preferência sobre ele, é evidente que esse clube não o pode ceder [sem o parecer do Benfica]. Aqui não é o direito de preferência, é uma percentagem. E nem sequer tinha de alertar o Benfica".

Mas o Benfica teve um primeiro impedimento...

"É por isso que digo que houve um erro da nossa parte. Essa parte não entra na parte do presidente. Se era necessário o comunicado ter essa alínea? Provavelmente até não, mas é como acabei de explicar. Não é que não tenha conhecimento. É evidente que depois o meu departamento me alerta. Que saiu um jogador de clube A para clube B onde temos uma percentagem".

Então a forma como isto foi redigido não joga a seu favor?

"Isso foi já muito explicado. O Benfica tem, diariamente, não sei quantos recebimentos e não sei quantos pagamentos para efetuar. Do momento em que há a transferência, do momento em que somos alertados para o facto de não podermos receber esse valor, mandámos ativar esse valor para entregar ao MP e cancelámos todos os outros pagamentos. Não estamos a falar de nenhuma fraude, estamos a falar de uma operação onde o Benfica deveria ser ressarcido. Porque tinha direitos sobre o jogador. Não há qualquer tentativa de fugir do que quer que seja. O Benfica, por motivos da guerra na Rússia, não poderia receber essa verba. Essa sim é uma ordem expressa minha. Acabou a negociação e vamos entregar o valor ao Ministério Público".

Deve o presidente do Benfica ser apresentado nesta altura como alguém que não tem conhecimento de coisas importantes que se passam no clube?

"Tem conhecimento no momento em que tem de ter conhecimento. Já expliquei isso mais do que uma vez. Não é uma situação do presidente do Benfica estar às escuras. O presidente do Benfica sabe disso quando tem de saber. Temos dezenas de pagamentos e dezenas de recebimentos a fazer diariamente. Por isso é que tem um CFO a tempo inteiro. [O presidente] Não está lá a ver se esta empresa já pagou ou deixou de pagar, é alertado quando há um pagamento que ainda não foi feito, para um que tem de ser feito. Mas não está na área financeira para saber todos os dias se as empresas já pagaram ou se recebemos o que tínhamos a receber. O presidente do Benfica está a par das situações todas quando tem de saber. E esse ponto explica isso. Não é fugir à responsabilidade, à realidade, mas explicar que o Benfica nesse processo não é tido nem achado. O clube que detém o jogador nesse momento pode transferi-lo quando bem o quer e só depois alerta o clube que tem parte do seu passe".

«Noronha Lopes copiou muitas coisas do nosso programa. E ele próprio já admitiu que copia muito dos outros»

Noronha Lopes levou o programa eleitoral dele e o seu a uma entrevista hoje e disse que o seu são apenas ideias vagas...

"Não ouvi a entrevista, mas acaba por ser engraçado. Estou farto de ouvir que Noronha Lopes copiou muitas coisas de outros programas. E já vi muitas coisas que são copiadas do nosso programa, números. O que fizemos foi continuar o programa de há quatro anos. São os pontos-chave do que temos pela frente. Não adianta fazer programas com 300 páginas. Até posso fazer um com 500 páginas. Mas o que importa é criar pilares bem vincados para o que é necessário fazer no imediato e olhar para o futuro. E é isso que está no meu programa. Os benfiquistas sabem. Não vou estar a fazer um programa de 300 páginas para as pessoas se iludirem com 300 páginas. Isso não existe. E mostra, uma vez mais, que temos uma incompatibilidade entre o que se sonha e o que é a realidade de um clube".

Então estes programas extensos são uma ilusão?

"São uma ilusão completa. O que me adianta a mim estar a dizer aos sócios do Benfica determinadas coisas banalíssimas no dia-a-dia do Benfica? O programa visa focar os pilares do futuro e é isso que tenho no meu programa".

"Não li o programa [de Noronha Lopes]. Já li muitas coisas sobre os 500 mil sócios... E ele próprio já admitiu que copia muito dos outros programas. É sinal que o meu programa não está assim tão mau porque ando a dizer isso há meses. Tem sido sempre 'o programa do Rui Costa isto e aquilo'. Não me admira que um programa que foi contestado tenha muito suco que outros candidatos possam ir buscar".

O facto de ter um programa curto [em tamanho] não quer dizer que queira poucas mudanças?

"Programas com 300 páginas, ou que seja, não vou meter num programa que vou mudar as fechaduras das portas, ou que vou mudar a cadeira do meu gabinete. Se é isso que queremos fazer... O que importa são os pilares necessários para o futuro do Benfica, e isso foi o que fizemos no nosso programa. Indo ao encontro do programa de há quatro anos. E é isso que temos para dar aos benfiquistas: coisas concretas, pilares importantes e que temos a certeza que iremos cumprir. Nunca criaria um programa para encher. Se os outros estão a prometer coisas que não podem cumprir? É evidente que sim".

«Roger Schmidt? Não houve comissão diretamente ao Nuno Gomes. Se depois recebeu...»

Nuno Gomes disse que foi ele quem colocou o nome de Roger Schmidt em cima da mesa. Isso quer dizer que teve um papel de intermediação? Pagou-lhe alguma comissão?

"Aquilo que eu disse, e reafirmo, neste mundo do futebol quando chega às alturas de mercado os agentes desportivos recebem centenas de mensagens. Assim como treinadores. É o Nuno Gomes que faz de facto o primeiro alerta de que Schmidt não iria renovar com o PSV, e aí começámos a estudar isso. Na altura optei por Roger Schmidt. Tinha vasto conhecimento sobre o treinador, tínhamos jogado contra o PSV, até contra o Leverkusen, e era um treinador que me agradava. Avançámos. Não houve comissão diretamente ao Nuno Gomes. Se depois recebeu... Houve um papel de acompanhamento".

"Perguntaram-me se era verdade que Nuno Gomes tinha estado no processo da transferência de Roger Schmidt e eu confirmei isso".

«Críticas de Fernando Tavares a Noronha? Tem o direito de dizer o que quer dizer, como qualquer outro sócio»

Fernando Tavares escreveu uma carta aberta com duros ataques a Noronha Lopes... A sua candidatura revê-se nisto?

"Tem o direito de dizer o que quer dizer, como qualquer outro sócio. E apelo, até por respeito aos benfiquistas, que esta seja uma campanha limpa e o mais honesta possível. Devemos esse respeito aos sócios. Estão a perguntar-me sobre um 'vice' que não vai continuar - e agradeço o seu trabalho. Cada sócio do Benfica tem legitimidade para fazer o que quiser. Se me está a perguntar sobre o que disse Fernando Tavares sobre Noronha Lopes, vejam também o que se tem dito do outro lado sobre Rui Costa. Há muito tempo. E quando faço o apelo para o Benfica estar mais unido, também visa isso. Foi ao longo do ano todo. E basta perceber de onde as coisas saem".

E saem de onde?

"Basta olhar para o que se passou na Assembleia Geral. Onde é chumbado um Relatório e Contas de 30 milhões de euros. A minha postura? Passiva em que sentido? Insultos dirigidos a mim? A AG foi toda dirigida a mim. E a minha parte foi passiva em que sentido? Quando a AG foi suspensa? Essa iniciativa não partiu de mim, partiu de quem a obrigou a suspender. E depois, há um presidente da AG que suspende a AG. E foi um momento negativo na história do Benfica que espero que não se volte a repetir. Fizemos todos os apelos para que isso acontecesse. Até fiz esse apelo da parte da tarde, onde fui o primeiro a intervir. Eu nunca saí do mesmo sítio. Estive sempre a tentar apaziguar".

Mas a AG ficou marcada pelo boicote a Vieira...

"Certo, mas foi a única coisa que desviou dos insultos que recebi na AG. Partiram de quem? Das listas que hoje se estão a candidatar. O que se passou na AG não se pode passar. O Benfica é um clube democrático e não pode haver o boicote que se passou. É uma manhã que não fica bem ao Benfica, num clube tão democrático. Felizmente, como disse, recuperámos o dia, fechámos o dia de forma normal e tranquila, resolvendo a agenda. Mas o que se passou de manhã não se devia ter passado".

E tem algo a apontar a Luís Filipe Vieira?

"Qualquer sócio pode ir falar, há a abertura para as pessoas se inscreverem. E essa parte de não se permitir que os sócios falem, ou quando um sócio não fala a favor daquilo que quer a plateia, seja vaiado, são coisas que não se devem passar".

Então Vieira foi uma vítima nessa AG?

"Nesse sentido foi".

«É perceber quem foi despedido de um partido por esses motivos [campanhas sujas] e hoje é diretor de campanha de uma candidatura...»

Noronha Lopes apresentou as declarações de IRS... Se tivessem vindo a público informações sobre as suas empresas, teria feito o mesmo?

"Cada candidato faz campanha como acha que deve. Se ele entendeu que tinha necessidade de explicar isso... Se se sentiu no dever ou se achou que deveria apresentar os seus rendimentos e essas folhas, é uma decisão dele. Eu considero que não tenho essa necessidade. Não foi um tema chamado à minha pessoa e até acho normal apresentar-se o que se apresentou. Respeito o que o candidato fez. Da minha parte, nunca foi levantada essa questão. Por que razão hei de estar a seguir uma linha que não considero que seja normal?".

Noronha Lopes deixou no ar que haveria ligação entre a candidatura de Rui Costa e o aparecimento de informações que pudessem comprometer a sua reputação... Pode garantir que ninguém ligado à sua campanha este por detrás dessas informações?

"É evidente que não, até porque nem eu nem ninguém da minha equipa comanda canais televisivos. Mas se quisermos falar dessas situações, basta olhar para as redes sociais para perceber quem tem sido visado por tudo. Quem tem feito campanhas sujas... Basta perceber quem é que há pouco tempo foi despedido de um partido por esses motivos e hoje é diretor de campanha de uma candidatura. Basta olhar para essas situações. A quem me estou a referir? O 'Expresso' divulgou isso. Basta ver quem tem sido atacado na vida pessoal, em tudo. Não tem sido da parte do Rui Costa com toda a certeza. É muito fácil de perceber. O Rui Costa não comanda canais televisivos. Se isto saiu publicamente, foi porque investigaram algo do candidato. Nunca disse que era o melhor gestor do mundo ou jogador para vocês irem averiguar".

Então não aceita quando Noronha Lopes fala em pessoas sonsas?

"Pois claro que não. E basta, volto a dizer, olhar para as redes sociais. E não é de hoje. Para perceber quem tem sofrido com esse tipo de campanhas. É muito fácil perceber isso. A minha campanha trabalha para o meu futuro mandato e para a minha candidatura".

Rui Costa não quer receber salário de presidente: «Benfica não pode ser visto só como empresa»

Já disse que não pretende receber salário. Porquê?

"Foi uma escolha minha e acho que tenho direito a essa escolha. O Benfica não pode ser visto só como empresa. O prazer de trabalhar aqui sempre foi por outras razões, não foram os monetários que me fizeram representar o Benfica seja em que área for. Foi uma escolha minha e vou continuar assim".

E como responde a quem diz que é uma questão de transparência?

"Não contesto quem quer vir e quem quer ser remunerado como tal. Onde é que está aqui a ausência de transparência? Nunca estive no Benfica por esses fatores. Caso contrário não voltaria aqui para jogar, não teria ficado como 'vice' e não tinha assumido este cargo de presidente. Foi uma escolha minha, considero normalíssimo quem queira ser remunerado. Considero fundamental que haja determinados cargos diretivos que sejam remunerados. Dá-nos a possibilidade de ter melhores escolhas, mas a minha opção é essa e acho que tem de ser respeitado. Não devo essa transparência ao Benfica com toda a minha história no Benfica".

«Transferência de João Neves para o PSG não foi por um valor baixo»

Em relação ao seu projeto desportivo, a oposição acusa-o de ter vendido demasiados jogadores. No seu programa, diz que um dos objetivos é manter os atletas de maior valor o maior tempo possível. Essa medida é o reconhecer que falhou noutra altura?

"De todo e dou-lhe exemplos claros. O que digo e bem sei, e bem quero, é que os plantéis do Benfica tenham estabilidade a longo tempo. Mas também não é menos verdade que o Benfica há quatro anos tinha um plantel completamente diferente, mais de 70 jogadores com contrato, e foi feita uma reestruturação enorme. Que me leva hoje a dizer que o Benfica hoje está mais pronto. Com uma equipa mais jovem e muito mais valor desportivo e até em termos de valorização, algo que não tinha há quatro anos, quando tínhamos 13 jogadores acima dos 30 anos. O Benfica, quando se fala de títulos nesta altura, vinha de três anos com uma Supertaça. Nesta renovação, foi preciso trocar muitos jogadores, coisa que espero que o Benfica tenha condições de não fazer no futuro".

E no caso de João Neves?

"Quando se faz uma reestruturação grande, contrata-se e saem muitos jogadores. É natural que se falhe alguma coisa. Se foi um erro? É completamente diferente. Os clubes portugueses terão sempre de vender. E quem disser o contrário está a mentir aos sócios do Benfica. Se têm de ser jogadores da formação? Depende sempre dos valores e dos clubes que procuram os jogadores. Se vier um clube de meio da tabela dos 'top-5', é evidente que os jogadores não queiram sair. Mas quando são os colossos, casos de PSG ou Real Madrid, é normal que queiram ir. E os salários oferecidos são completamente incompatíveis com o que podemos oferecer...".

Então quem disser que, no seu lugar, não venderia João Neves, está a mentir?

"Está a mentir, não sei que engenharia financeira faria... E não tem a ver com a dimensão do Benfica, mas sim com a da Liga Portuguesa em comparação com as principais europeias. É como em todas as profissões. Se de um lado tivermos uma empresa pequena e tivermos o convite de uma empresa grande que nos dá muito melhores condições, vamos aceitar. O jogador não pensa de forma diferente. A questão do João Neves foi a mais falada destes quatro anos, mesmo em termos de valor. É evidente que o João Neves tem valor em termos emocionais por ser benfiquista, mas nesse ano é a segunda transferência mais cara do mundo. Ficou a 4 M€ da mais cara. Não foi um valor baixo. Para a questão emocional, é evidente que os jogadores deviam valer todos 300 M€. O mercado não funciona assim".

Reforçou que quer manter os jogadores mais tempo. Mas se um clube grande aparecer por um jogador da formação...

"Vou dar um exemplo flagrante de um jogador que não era da formação: Álvaro Carreras. Até fui contestado por ter colocado a opção de compra. Como é que se diz a um jogador que não vai para o Real Madrid naquela altura? Por acaso o Real até pagou a cláusula... Isso acontece em todos os clubes. Basta olhar para os lados".

E não podia ter subido o salário do João Neves?

"Não tem a ver com salário, evidentemente teria o salário máximo se tivesse ficado no Benfica. O João tinha contrato até 2028. E estaria a menos de metade do que poderia auferir saindo para o PSG"

Então como pode prometer que não vai fazer o mesmo?

"Este ano fizemos um mercado ambicioso. Não foi só o Benfica, o mercado português bateu recordes este ano. Estamos em condições de chegar a contratações de um valor mais alto do que há uns anos. O que ainda não conseguimos fazer é em termos salariais equipararmo-nos com outros clubes europeus. Temos de crescer financeiramente para estarmos mais preparados para podermos segurar mais jogadores. Poder ter salários mais altos do que hoje podemos oferecer para que essas diferenças possam ser reduzidas. Para os benfiquistas perceberem: não gosto de comparações com outros clubes, mas é uma questão do futebol português. Está abaixo dos principais mercados. Hoje com outra nuance que se chama Arábia Saudita. Como é que os clubes portugueses podem competir com isso? Países que podem oferecer em líquido o que nem em bruto conseguimos oferecer? E quando entra essa situação... Por isso é que digo sempre que os jogadores são vendidos por duas razões: porque os clubes não podem deixar de vender, outra porque os jogadores querem ir para essas grandes ligas, onde vão melhorar substancialmente as suas carreiras, como em termos financeiros também".

Polémica com sondagem: «Benfica não liberta dados de ninguém, temos de apurar quem os libertou. Da esfera do Benfica, isso não aconteceu»

Polémica com sondagem recente, acesso indevido a contactos telefónicos... Já apurou o que aconteceu?

"O Benfica não liberta dados de ninguém, temos de apurar quem os libertou. Da esfera do Benfica, isso não aconteceu. Se alguém pode ter acedido indevidamente? Vamos saber quando vieram cá para fora. Podem nem ser recentes e temos de perceber como foi feita a queixa. De certeza absoluta que do Benfica não foram libertados. Vai haver uma investigação. Há aqui outro dado importante: o timing desta libertação. Quando foi feito, como foi feito... Pode até ser algo antigo. Não consigo precisar porque é o que vamos apurar. Não há, neste momento, a possibilidade de se libertar dados de sócios cá para fora. É isso que temos de apurar, não sabemos o timing da saída nem de onde saíram. Se pode ser um antigo funcionário? Pode ser muita coisa. Seria estupidez da minha parte dizer algo. Se quem está neste momento no Benfica tem responsabilidade? Evidentemente que não, caso contrário seria uma carta branca e não dois ou três casos".

«Quem ficar nesta cadeira tem como missão imediata tentar unir os benfiquistas»

Acha que há candidatos que estão a tentar prejudicar o Benfica?

"Basta olhar para aquilo que foi o ano inteiro para perceber o que estou a dizer. E faço esse apelo. Quem estiver dentro desta missão a partir do próximo mês: primeira medida a tomar é unir a família benfiquistas. Há seis candidatos, é normal que haja crispação, que o ambiente esteja aceso. Quem ficar nesta cadeira tem como missão imediata tentar unir os benfiquistas. Quem não ficar, tem o dever de não desunir a família benfiquista".

João Diogo Manteigas disse que a sua candidatura queria unir... Como vê cada uma das candidaturas?

"Como tem percebido, tenho procurado falar de mim, da minha candidatura. Mostrar aos sócios os 4 anos de mandato e promover os próximos. Falo muito mais em resposta do que em provocação. Considero que não seja a forma como os benfiquistas querem ver a campanha para o seu clube. Outra, porque tenho a responsabilidade de ainda ser presidente do Benfica. É a isso que apelo. Quem estiver nesta cadeira, que una os benfiquistas. E que tenha o apoio dos que não ganharem para que nada façam para desunir. Se contam com o meu apoio? Completamente".

«Nunca estive a ser preparado para assumir a presidência, mas sim para fazer as funções que me foram atribuídas»

Na apresentação da sua candidatura, quando assumiu a presidência, disse que não estava preparado. LFV, na altura, apresentou-o como sendo o seu sucessor. Afinal, esteve ou não a ser preparado?

"Nunca estive a ser preparado para assumir a presidência, mas sim para fazer as funções que me foram atribuídas. Não era para estar a estudar ou a preparar-me para presidente. Evidentemente que os anos no clube me deram uma preparação para poder assumir aquela responsabilidade. Em relação à palavra impreparado, é como quisermos ler a frase toda. Podemos ler a frase, ou ligar só à palavra. Não há ninguém que esteja preparadíssimo para estar a fazer uma coisa e, no mesmo dia à noite, ser presidente do Benfica. Jamais, pelo respeito, carinho e amor ao clube, assumiria um cargo desta dimensão e responsabilidade se não me considerasse preparado para o que tinha pela frente".

Então, em 2020, Rui Costa foi trunfo eleitoral para Vieira?

"Não considero que tenha sido. Fui convidado a ser 'vice' do Benfica e na altura aceitei. Mas ninguém esperava que, passado um ano, acontecesse o que aconteceu e eu tivesse de virar presidente da manhã para a noite, ninguém está preparado para isso. Não me escondi, dei a cara e assumi, sabendo o que tinha pela frente, a responsabilidade. Mas não podia deixar de dar a cara pelo clube num momento tão importante, era um dia muito perigoso para a vida do clube. Não me escondi nesse dia e muito menos me esconderia agora".

Então, agora, está preparado para renovar o mandato?

"Sei o trabalho que fiz. Percebo e respeito que se fale dos títulos que se ganhou ou deixou de ganhar, mas sei o trabalho que foi feito nestes quatro anos. E hoje discute-se se o Benfica ganhou pouco ou ganhou muito. Há quatro anos, quando entrei, não era isso que se discutia no Benfica. Sei o trabalho que fiz, sou o primeiro a querer ganhar mais, mas tenho consciência que o Benfica hoje está muito mais preparado para ganhar".

E se não pudesse votar em si, em quem votava?

"Percebo e respeito a pergunta, mas evidentemente não vou dizer isso. Neste momento vou votar em mim próprio e não vou fazer campanha por outros candidatos".

E vai continuar a ter vida ativa no clube se não for eleito?

"Não me consigo afastar do Benfica, tive sempre uma vida muito ativa no Benfica. Não caí aqui de paraquedas, não vim para aqui para ser presidente, cheguei aqui com oito anos como atleta e antes já era adepto de estádio e pavilhão. Terei sempre uma vida muito ativa. No dia em que não estiver nesta posição, serei um incondicional adepto como sempre fui. Não me vou afastar do Benfica, com uma nuance que é nunca prejudicar o Benfica"

Então não se vai afastar mas também não vai ser oposição?

"O Benfica não é de A, B ou C, é dos benfiquistas. Tenho o maior orgulho de dizer que sou o presidente que chegou aos 400 mil sócios no mandato. Do lado de fora serei um dos 400 mil".

«Vejo noutras listas muito mais gente do passado do que na minha»

Candidatos acusam-no de ser uma candidatura que representa o passado...

"Não tem nada a ver com o passado, do passado vieram também muitas coisas boas. O Benfica não pode apagar o passado todo e não pode estar sempre a falar do passado. Mas basta olhar para o trajeto destes últimos quatro anos, para as minhas listas, para a administração atual. Vejo noutras listas muito mais gente do passado do que na minha. Pese embora continue a dizer que o passado não pode ser apagado. Sou um candidato que tenta privilegiar as coisas bem feitas do passado e alterar as que considere que não estão bem feitas. O Benfica não pode apagar o passado, pode sim melhorar. Houve muita coisa bem feita".

Então poderá dividir eleitorado com Vieira?

"Não sei... Não sei com quem poderei dividir ou deixar de dividir. Qualquer candidato deve pensar como estou a pensar. Não foi tudo mal feito no passado. Houve aspetos muito negativos, desde logo o que levou à mudança de presidentes, mas há coisas que têm de ser melhoradas e outras continuadas. E é o que procuro fazer todos os dias"

«Primeira ou segunda volta? Estou convencido, acima de tudo, que irei estar aqui nos próximos quatro anos»

Está tão preparado para ganhar como para a hipótese de as perder?

"Estou preparado para continuar à frente do Benfica e estou aqui na condição de candidato. Estou sempre preparado para ser benfiquista em pleno, mas neste momento claro que o objetivo é ser candidato à presidência do Benfica".

Convicto que conseguirá fazê-lo à 1.ª volta?

"Não sei se na 1.ª volta ou na 2.ª, são os sócios que irão ditar quem será o presidente e em que fase será. Mas estou convencido acima de tudo que irei estar aqui nos próximos quatro anos. Com quem irei disputar? Não faço ideia, não tenho ligado às sondagens, não tenho ligado muito àquilo que são todas as programações sobre os candidatos que estão menos ou mais à frente. Tenho procurado o meu trajeto. Durante todo este período, relembrar que não deixei de ser presidente, e por isso resta-me menos tempo do que os outros. Mas privilegiei sempre o facto de ser presidente atual do clube, e com tanto para fazer seja lá até que dia for".

Rui Costa na CMTV

Rui Costa, atual presidente do Benfica e um dos seis candidatos à liderança das águias, concede esta noite uma entrevista à CMTV. Para acompanhar também em Record, a partir das 22h00.