A União Ciclista Internacional (UCI) lamentou esta segunda-feira o apoio dado pelo Governo espanhol aos protestos pró-Palestina, que fizeram cancelar a 21.ª etapa da Volta a Espanha em bicicleta, que culminaria num circuito em Madrid.

"Lamentamos que o primeiro-ministro espanhol e o seu governo tenham apoiado ações tomadas durante uma competição desportiva que poderiam prejudicar o seu bom desenrolar e, em alguns casos, tenham manifestado a sua admiração pelos protestos", transmitiu a entidade que rege o ciclismo, em comunicado, um dia depois dos caos que se verificou em Madrid.

O organismo acrescenta que "esta posição está em total contradição com os valores olímpicos, respeito mútuo e paz", temendo ainda que esteja "em dúvida a capacidade de Espanha para acolher grandes eventos desportivos internacionais".

Também hoje, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, manteve-se firme nas suas declarações, reafirmando admiração pelos manifestantes: "Sentimos imenso respeito e profunda admiração por uma sociedade civil espanhola que se mobiliza contra a injustiça e defende as suas convicções pacificamente".

No domingo, milhares de manifestantes pró-Palestina invadiram o circuito final da 21.ª e última etapa da prova espanhola e 'travaram' o pelotão a 56 quilómetros da meta, em protesto contra a presença da equipa Israel-Premier Tech.

Duas pessoas foram detidas por desordem pública, após os incidentes, que causaram ferimentos a 22 polícias, com a 21.ª tirada da Vuelta a acabar por ser cancelada pela organização, assim como as cerimónias de pódio.

Desta forma, João Almeida (UAE Emirates) ficou privado de festejar oficialmente o segundo lugar na geral, atrás de Jonas Vingegaard (Visma-Lease a Bike), e o facto de ter igualado o melhor resultado de sempre de um português numa grande Volta, 'imitando' Joaquim Agostinho, que foi 'vice' na Vuelta em 1974.

Embora o dispositivo de segurança na capital espanhola fosse o maior de sempre num evento desportivo e o maior desde a cimeira da NATO, em 2022, ninguém conseguiu travar os manifestantes.

A Vuelta ficou, assim, marcada por constantes alterações ao percurso, uma etapa cancelada, outra sem vencedor, e uma outra com uma meta improvisada, culminando nos incidentes de domingo.

As forças israelitas têm em curso uma ofensiva na Faixa de Gaza que causou mais de 64.600 mortos no território governado pelo Hamas desde 2007, após um ataque do Hamas no sul de Israel, em 07 de outubro de 2023.

Israel, que anunciou uma operação para tomar a cidade de Gaza, no norte do enclave, tem sido acusado de genocídio e de usar a fome como arma de guerra, que nega.

A ONU declarou em agosto uma situação de fome no norte de Gaza, o que acontece pela primeira vez no Médio Oriente.