Nuno Félix
Ginásios transformados em escombros, campos que servem hoje de cemitérios improvisados a uma geração de atletas apagada do seu tempo de vida, da vida que para nós continua e na qual encontramos uma das suas expressões máximas de humanidade no Desporto.
O genocídio em Gaza já apagou a vida de quase um milhar de desportistas palestinianos. Desde outubro de 2023, contam-se já mais de 900 atletas mortos em consequência direta da ofensiva israelita, segundo organizações desportivas locais.
O "Pelé de Gaza" , Suleiman al-Obaid, figura lendária do futebol palestiniano, tinha 41 anos, cinco filhos e uma carreira marcada por mais de uma centena de golos e 24 jogos pela seleção nacional. Foi morto a 6 de agosto, quando esperava por ajuda humanitária no sul da Faixa de Gaza.
Mohammed Shaalan, antigo jogador da seleção de basquetebol, perderia a vida em Khan Younis dias depois, a 20 de agosto, enquanto procurava igualmente recolher alimentos e medicamentos para a filha doente. Tinha 40 anos e era reconhecido como um dos maiores talentos da modalidade na região.
Allam Al Amour, atleta medalhado nos 3.000 metros no Campeonato Asiático de Clubes realizado em Doha em 2023, no final do mesmo mês, a 27 de agosto, acabou igualmente assassinado por forças israelitas perto de um ponto de distribuição de mantimentos.
Em Julho do presente ano a Associação Palestina de Futebol (PFA) contabilizava 421 futebolistas mortos ou vítimas de fome, incluindo 103 crianças. A federação denuncia ainda que 288 instalações desportivas — entre estádios, ginásios e clubes — foram destruídas, a maioria em Gaza, mas também vinte na Cisjordânia. A própria sede da PFA (Palestinian Football Association) não escapou aos ataques aéreos.
O desporto palestiniano, que tantas vezes serviu de refúgio e afirmação identitária a uma população extremamente jovem mas subtraída de outros motivos de esperança no futuro, foi alvo prioritário dos ataques da IDF.
O mínimo que podemos fazer é honrar a memória destes desportistas, denunciando a guerra que os assassinou e elogiando os poucos de entre nós que efectivamente fizeram e fazem algo, que por muito simbólico que seja, tenta pôr fim a este massacre.