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José Macedo: «Evolução do boccia é imensa»

É o segundo atleta paralímpico português mais medalhado em atividade nos Jogos

• Foto: Reuters

Destaca-se no boccia e é o segundo atleta paralímpico português mais medalhado em atividade nos Jogos. Já garantiu o apuramento para Tóquio’2020 e analisa uma carreira carregada de histórias e com distinções por parte das mais altas patentes.

RECORD - O José é o segundo atleta paralímpico português mais medalhado em atividade nos Jogos Paralímpicos. Como vê esse facto e imaginava que isso fosse possível há uns anos?

JOSÉ MACEDO - Para mim é um orgulho ser o segundo atleta mais medalhado, mas não é por isso que deixo de lutar por mais medalhas, porque a minha vontade de vencer é mais do que muita. Há uns anos, nunca imaginei que isso fosse possível mas, como já disse, a vontade de vencer levou-me a que tal pudesse acontecer e, assim sendo, continuarei a lutar por mais medalhas.

R - Acaba por acarretar uma pressão extra nas suas prestações devido a esse facto ou não vê a situação dessa forma?

JM – Eu não vejo isso dessa forma porque a pressão existe devido a nós próprios. Ora, ao conquistar várias medalhas, esse facto faz com que os outros exijam sempre mais de nós, mas eu lido bem com as pressões e gosto desse género de pressões, sejam elas boas ou más. Só fazem de mim mais forte!

R - Como vê a evolução da sua carreira ao longo dos anos?

JM – A minha evolução foi fantástica. Fui ganhando várias medalhas e também fui impondo o meu nome no mundo do boccia. Hoje todos olham para mim com respeito, e pessoalmente é um orgulho ser um dos melhores tanto numa escala mundial como também a nível nacional.

R - Começou na modalidade de boccia por que razão?

JM – Comecei em 1992 através de um convite da Associação de Paralisia Cerebral de Braga (APC) e adorei o boccia, muito porque eu adoro desporto. Através dele mostro o que valho e desde 2009 represento o Sp. Braga.

R - Portugal tem tido bons resultados no boccia nas várias provas. A que é que se deve tal facto?

JM – Esse facto deve-se muito ao trabalho feito ao longo dos últimos anos por pessoas competentes e também pelas capacidades e qualidades dos nossos atletas. Mas não podemos adormecer, porque a evolução do boccia é imensa e isso obriga-nos a trabalhar cada vez mais e mais, além de termos de investir em bons materiais.

R - Que rotinas de treino acaba o boccia por ter de diferente de outros desportos?

JM – A principal diferença é que dependemos sempre de terceiros para nos deslocarmos e também precisamos disso para treinar, porque se não, nada feito.

R - Como acaba por ser o seu dia-a-dia? Quanto tempo treina por dia?

JM - O meu dia-a-dia é tranquilo. Passa por estar em casa, ir ao café, navegar pela internet, passear um pouco e ver futebol, o que adoro muito. E depois tenho os dias de treino estipulados, já que acaba por haver quatro sessões por semana, o que equivale mais ou menos a de 10 a 12 horas por semana... Não é algo agradável, porque como já disse dependemos sempre de terceiros e isso dificulta muito os treinos. Além disso, também existem poucos espaços livres e disponíveis para os nossos treinos.

R - Quem tem sido o maior suporte na sua carreira?

JM – Sem dúvida alguma o meu pai. Mas englobo igualmente toda a minha família e todos aqueles que me rodeiam na vida e no desporto .

R - Aponta a que objetivos a curto e longo prazo?

JM – Não prometo medalhas mas sim muito trabalho e empenho e com isso o resto vai aparecer, pois o meu espírito é o de um vencedor, e continuará a sê-lo, independentemente da idade.

R - Você é uma presença constante nos Jogos Paralímpicos? Este ano vai chegar a Tóquio com que ambições? Pretende chegar à medalha de ouro ou será passo a passo?

JM – As minhas ambições serão as mesmas de sempre, mas será sempre passo a passo... jogo a jogo e bem ciente das dificuldades que irão aparecer ao longo da competição.

R - Sente que as pessoas lhe dão outro valor também pelos resultados que tem obtido?

JM – Claro que sinto isso, pois já fui alvo de inúmeras homenagens, quer a nível local, quer a nível nacional, das quais destaco a medalha da Ordem de Mérito dada pelo nosso presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Como também tenho o meu nome num gimnodesportivo aqui na minha freguesia em Merelim, em S. Pedro, Braga, também recebi dois capacetes da legião de ouro do Sp. Braga e fui embaixador da cidade europeia de desporto 2018 aqui também. Tudo isso já dá para ver o reconhecimento que as pessoas têm em relação à minha pessoa .

R - Como é recebido na sua cidade, Braga?

JM – Sou bem recebido e todos têm um carinho enorme por mim. Até me chamam de campeão...

R - Que mensagem é que já recebeu de congratulação pelos seus resultados e que o marcou mais?

JM – São várias, mas as que me marcam mais são as dirigidas por chefes de Estado...

R - Que principais histórias guarda da sua carreira? Há alguma marcante ou engraçada e que nunca esqueça?

JM – Sim, há uma da qual me lembro. Tenho de destacar a final dos Jogos Paralímpicos de Sidney’2000, onde defrontei o meu colega de seleção Armando Costa e venci. Dormimos os dois no mesmo quarto durante três semanas e nessa noite nem falámos. Também durante o jogo, a selecionadora da altura, Helena Bastos, repartia-se no apoio aos dois dizendo ‘Boa, Zé!’ e ‘Força Armando!’. Foi giro ver ao vivo e sentir isso tudo...

R - Como vê a evolução das modalidades paralímpicas em Portugal nos últimos anos?

JM – Vejo de bom grado, pois os apoios governamentais são cada vez melhores e isso ajuda no desenvolvimento das modalidades. Faz com que nos possamos sentir uns verdadeiros atletas e com vontade de lutar por voos mais altos. Isso leva a que as próprias instituições, bem como os clubes, invistam mais no desporto adaptado, para ver se aparecem novos talentos para o futuro, algo que é bem preciso ...

R - De que forma é importante o apoio de entidades como os Jogos Santa Casa?

JM – Na vida nada cai do céu e esses apoios são sempre bem-vindos, pois como temos uma sociedade que ainda não está muito virada para o desporto adaptado, acaba por haver uma maior dificuldade a nível de patrocínios. Por isso, o pouco que há já é muito bom e só temos de agradecer à Santa Casa.

R - Portugal pode chegar às 100 medalhas conquistadas nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Pensam muito nessa meta? Os atletas fala entre si sobre esse assunto?

JM - Basicamente nós pensamos em trabalhar e em dar o nosso melhor. Se isso vier a acontecer, ficaremos todos felizes...

R - Tem definida uma meta de medalhas para a sua carreira? Se sim, em quantas é que pensa?

JM – Não vou definir metas, pois já consegui imensas medalhas e com certeza irei ganhar mais, porque sempre tive e continuo a ter a ambição de vencer.

R - Você participa nas categorias de pares e individual. Em qual das duas prefere competir e de que forma se tem de adaptar a cada um delas de forma diferente?

JM – Gosto de competir nas duas provas. Obviamente que em pares não dependo apenas de mim próprio, já que tem de existir sempre uma sintonia entre os dois atletas, quer nas decisões tomadas quer nas opções relativas ao jogo...

R - Qual é que é a sua limitação? O boccia ajudou a saber lidar com ela?

JM - A minha limitação foi adquirida aos 7 anos. Tive uma encefalite e desde aí estive quatro anos no hospital e depois regressei às aulas em 1984. Conheci o boccia em 1992 e, como adoro o desporto, agarrei a chance, pois tenho garra e muita vontade em vencer. Praticamente nem tenho tempo para pensar que estou numa cadeira de rodas.

Por Filipe Balreira
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