Daniel Seabra lança em livro tese sobre "as pessoas que estão nas claques"
Investigador foca-se no "percurso de investigação nas claques de futebol desde 1992"

O antropólogo Daniel Seabra lança no sábado o livro "Claques de Futebol: O Teatro das Nossas Realidades", uma versão da tese de doutoramento sobre "as pessoas que estão nas claques".
Assim, o livro que será apresentado no Auditório da Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia, no sábado, foca-se na "classe social" dos integrantes destes grupos, mas também "que atitude têm face ao trabalho, à escola, o que pensam da religião, da política, e quais são os seus consumos de lazer", num trabalho "muito focado nas pessoas" e que inclui "algumas narrativas autobiográficas".
"Foi também uma janela de auscultação da cidade do Porto, porque muito do que acontece nas claques é também o que acontece na cidade, sobretudo na questão dos bairros sociais", esclareceu.
Um dado que salta à vista é a "heterogeneidade", mas também "a questão da extrema direita e a sua influência", e que "é mais ténue do que se pensa", uma vez que há também a prevalência "dos partidos de esquerda", sendo que os partidos posicionados mais afastados do centro, para um lado ou outro, acabam por ter mais peso.
Com grande parte do livro dedicado a ouvir os intervenientes, não se fala "só sobre violência e roubos, embora também toque nisso, mas mostra que esse assunto, em si, não é pacífico, há muita gente contra isso".
Analisando o contexto histórico em que surgem as claques em Portugal, bem como o fenómeno do hooliganismo transposto de Inglaterra, a hierarquia da organização e vários estereótipos são confrontados na tese.
No final, há um confronto dos dados recolhidos com a teoria social, em várias dimensões, nomeadamente a "dimensão urbana, geracional, associada à juventude, e a dimensão classista", na qual há "uma prevalência evidente da classe trabalhadora".
Por outro lado, a dimensão urbana mostra a influência da formação e educação para a "reposição de um conjunto de ligações sociais" dentro da estrutura das claques, como na "reprodução de alguns padrões de delinquência", além do contexto do futebol em si.