Unanimidade sobre o tema: «Igualdade de género no desporto está melhor, mas ainda há um caminho longo a percorrer»

Cláudia Lopes, Paula Castro, Sara Moreira e Sofia Teles participaram, esta terça-feira, num painel dedicado ao tópico

• Foto: Ricardo JR
No âmbito da Cerimónia de Apresentação do Relatório e Recomendações do Grupo de Trabalho para a Igualdade de Género no Desporto, que decorreu na manhã desta terça-feira, na Alfândega do Porto, foi realizado um painel, intitulado ‘Desporto com perspetiva de género’, onde as opiniões foram unânimes sobre o tema.

"Estamos a caminhar bem, mas devagarinho. Temos de chegar à igualdade de género, ponto. Fazer desporto no feminino era uma coisa muito estranha. Agora já não é tanto, mas ainda há um caminho longo para percorrer", começou por dizer a jornalista Cláudia Lopes, acompanhada no painel por Paula Castro, treinadora de andebol, Sara Moreira, atleta, e Sofia Teles, dirigente na AF Porto. "As lotações no futebol masculino não são notícia, mas continuam a ser no feminino, tal como as árbitras. Continuamos a ser peças decorativas. Igualdade de género para existir tem de ser natural, não deve ser notícia", acrescentou.

Pela mesma linha alinhou Sara Moreira, a bastante titulada fundista. "Ainda não há igualdade, mas estamos melhor. É um caminho longo. Sou de uma época, de uma aldeia, em que as meninas ainda eram para ficar em casa e ajudar as mães e não para andar a correr. Muitos desportos ainda são desporto de rapazes. O caminho tem de ser este, não pode haver desportos de rapazes e raparigas", referiu.

Por sua vez, Paula Castro sublinharam alguns dos entraves ao desporto feminino. "Ainda falta muito para podermos falar de igualdade de género. O papel da escola é importante os próprios professores de educação incentivarem as raparigas a praticarem desporto. Na faculdades, as mulheres têm de conciliar os estudos com a carreira, enquanto muitos homens têm o apoio para colocar os estudos em pausa", disse a treinadora de andebol do Colégio de Gaia, frisando: "Não havendo resultados e apoios, o feminino é sempre o sacrificado."

Uma das conclusões do relatório apresentado pelo grupo de trabalho foi o baixo número de mulheres em cargos de poder, algo abordado por Sofia Teles, da AF Porto. "Estamos muito longe de qualquer tipo de igualdade. O desporto é o reflexo da sociedade e isso aplica-se ao dirigismo. Mulheres e homens tem visões diferentes do mundo e é essa diversidade que nos permite chegar mais além", afirmou, considerando que "há um espaço para a mulher no futebol, sem ser necessariamente no futebol feminino".

Cláudia Lopes e Sofia Teles aludiram também para a forma como se olha para a mulher no desporto. "Mulher está muita exposta à critica. Perdoa-se mais facilmente o erro ao homem", atirou a jornalista, apoiada pela dirigente: "Quando estamos nestas posições, somos muito escrutinados e por sermos mulheres somos julgadas de forma mais incisiva e por vezes cruel. Temos de educar a próxima geração para ser diferente."

Finalmente, a questão da maternidade também foi tema de conversa, com a atleta Sara Moreira a exemplificar com a sua própria experiência. "Tive muitas vozes a dizer que não devia parar, no auge da carreira, para ser mãe. Nos homens isso não se coloca. Os clubes ainda acham que se não estás a exercer, não tens de receber. Quando fui mãe deixei de receber do meu clube", contou.

Nesse sentido, Sofia Teles foi bem clara. "Não conseguimos trazer mais mulheres para o desporto se não tivermos horários compatíveis com as responsabilidades familiares. Estamos sempre a perder recursos humanos, porque não nos adaptamos ao horário das famílias. Temos de perceber que há condicionalismos e dinâmicas diferentes por sermos mulheres", frisou, com Cláudia Lopes a reforçar: "A família e a educação são a base de tudo. Nenhuma mulher pode deixar que a condição de mãe as diminua."
Por Marques dos Santos
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