07 fevereiro 2023 - 17:28
Unanimidade sobre o tema: «Igualdade de género no desporto está melhor, mas ainda há um caminho longo a percorrer»
Cláudia Lopes, Paula Castro, Sara Moreira e Sofia Teles participaram, esta terça-feira, num painel dedicado ao tópico

No âmbito da Cerimónia de Apresentação do Relatório e Recomendações do Grupo de Trabalho para a Igualdade de Género no Desporto, que decorreu na manhã desta terça-feira, na Alfândega do Porto, foi realizado um painel, intitulado ‘Desporto com perspetiva de género’, onde as opiniões foram unânimes sobre o tema.
"Estamos a caminhar bem, mas devagarinho. Temos de chegar à igualdade de género, ponto. Fazer desporto no feminino era uma coisa muito estranha. Agora já não é tanto, mas ainda há um caminho longo para percorrer", começou por dizer a jornalista Cláudia Lopes, acompanhada no painel por Paula Castro, treinadora de andebol, Sara Moreira, atleta, e Sofia Teles, dirigente na AF Porto. "As lotações no futebol masculino não são notícia, mas continuam a ser no feminino, tal como as árbitras. Continuamos a ser peças decorativas. Igualdade de género para existir tem de ser natural, não deve ser notícia", acrescentou.
Pela mesma linha alinhou Sara Moreira, a bastante titulada fundista. "Ainda não há igualdade, mas estamos melhor. É um caminho longo. Sou de uma época, de uma aldeia, em que as meninas ainda eram para ficar em casa e ajudar as mães e não para andar a correr. Muitos desportos ainda são desporto de rapazes. O caminho tem de ser este, não pode haver desportos de rapazes e raparigas", referiu.
Por sua vez, Paula Castro sublinharam alguns dos entraves ao desporto feminino. "Ainda falta muito para podermos falar de igualdade de género. O papel da escola é importante os próprios professores de educação incentivarem as raparigas a praticarem desporto. Na faculdades, as mulheres têm de conciliar os estudos com a carreira, enquanto muitos homens têm o apoio para colocar os estudos em pausa", disse a treinadora de andebol do Colégio de Gaia, frisando: "Não havendo resultados e apoios, o feminino é sempre o sacrificado."
Uma das conclusões do relatório apresentado pelo grupo de trabalho foi o baixo número de mulheres em cargos de poder, algo abordado por Sofia Teles, da AF Porto. "Estamos muito longe de qualquer tipo de igualdade. O desporto é o reflexo da sociedade e isso aplica-se ao dirigismo. Mulheres e homens tem visões diferentes do mundo e é essa diversidade que nos permite chegar mais além", afirmou, considerando que "há um espaço para a mulher no futebol, sem ser necessariamente no futebol feminino".
Cláudia Lopes e Sofia Teles aludiram também para a forma como se olha para a mulher no desporto. "Mulher está muita exposta à critica. Perdoa-se mais facilmente o erro ao homem", atirou a jornalista, apoiada pela dirigente: "Quando estamos nestas posições, somos muito escrutinados e por sermos mulheres somos julgadas de forma mais incisiva e por vezes cruel. Temos de educar a próxima geração para ser diferente."
Finalmente, a questão da maternidade também foi tema de conversa, com a atleta Sara Moreira a exemplificar com a sua própria experiência. "Tive muitas vozes a dizer que não devia parar, no auge da carreira, para ser mãe. Nos homens isso não se coloca. Os clubes ainda acham que se não estás a exercer, não tens de receber. Quando fui mãe deixei de receber do meu clube", contou.
Nesse sentido, Sofia Teles foi bem clara. "Não conseguimos trazer mais mulheres para o desporto se não tivermos horários compatíveis com as responsabilidades familiares. Estamos sempre a perder recursos humanos, porque não nos adaptamos ao horário das famílias. Temos de perceber que há condicionalismos e dinâmicas diferentes por sermos mulheres", frisou, com Cláudia Lopes a reforçar: "A família e a educação são a base de tudo. Nenhuma mulher pode deixar que a condição de mãe as diminua."
Por Marques dos Santos
"Estamos a caminhar bem, mas devagarinho. Temos de chegar à igualdade de género, ponto. Fazer desporto no feminino era uma coisa muito estranha. Agora já não é tanto, mas ainda há um caminho longo para percorrer", começou por dizer a jornalista Cláudia Lopes, acompanhada no painel por Paula Castro, treinadora de andebol, Sara Moreira, atleta, e Sofia Teles, dirigente na AF Porto. "As lotações no futebol masculino não são notícia, mas continuam a ser no feminino, tal como as árbitras. Continuamos a ser peças decorativas. Igualdade de género para existir tem de ser natural, não deve ser notícia", acrescentou.
Por sua vez, Paula Castro sublinharam alguns dos entraves ao desporto feminino. "Ainda falta muito para podermos falar de igualdade de género. O papel da escola é importante os próprios professores de educação incentivarem as raparigas a praticarem desporto. Na faculdades, as mulheres têm de conciliar os estudos com a carreira, enquanto muitos homens têm o apoio para colocar os estudos em pausa", disse a treinadora de andebol do Colégio de Gaia, frisando: "Não havendo resultados e apoios, o feminino é sempre o sacrificado."
Uma das conclusões do relatório apresentado pelo grupo de trabalho foi o baixo número de mulheres em cargos de poder, algo abordado por Sofia Teles, da AF Porto. "Estamos muito longe de qualquer tipo de igualdade. O desporto é o reflexo da sociedade e isso aplica-se ao dirigismo. Mulheres e homens tem visões diferentes do mundo e é essa diversidade que nos permite chegar mais além", afirmou, considerando que "há um espaço para a mulher no futebol, sem ser necessariamente no futebol feminino".
Cláudia Lopes e Sofia Teles aludiram também para a forma como se olha para a mulher no desporto. "Mulher está muita exposta à critica. Perdoa-se mais facilmente o erro ao homem", atirou a jornalista, apoiada pela dirigente: "Quando estamos nestas posições, somos muito escrutinados e por sermos mulheres somos julgadas de forma mais incisiva e por vezes cruel. Temos de educar a próxima geração para ser diferente."
Finalmente, a questão da maternidade também foi tema de conversa, com a atleta Sara Moreira a exemplificar com a sua própria experiência. "Tive muitas vozes a dizer que não devia parar, no auge da carreira, para ser mãe. Nos homens isso não se coloca. Os clubes ainda acham que se não estás a exercer, não tens de receber. Quando fui mãe deixei de receber do meu clube", contou.
Nesse sentido, Sofia Teles foi bem clara. "Não conseguimos trazer mais mulheres para o desporto se não tivermos horários compatíveis com as responsabilidades familiares. Estamos sempre a perder recursos humanos, porque não nos adaptamos ao horário das famílias. Temos de perceber que há condicionalismos e dinâmicas diferentes por sermos mulheres", frisou, com Cláudia Lopes a reforçar: "A família e a educação são a base de tudo. Nenhuma mulher pode deixar que a condição de mãe as diminua."
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