«O futebol perdeu os 'Chalanas' do antigamente»

Carlos Manuel abordou o panorama do futebol atual na palestra "Os Tesouros do Desporto do Barreiro", realizada em Alcântara

"O futebol perdeu os 'Chalanas' do antigamente". Esta frase de Carlos Manuel, antigo internacional português que representou equipas como Benfica e Sporting, resume bem aquilo de que se falou na palestra "Os Tesouros do Desporto do Barreiro", que se realizou este sábado na Gare Marítima de Alcântara. O panorama do futebol atual foi o principal tema do evento, onde estiveram presentes várias personalidades do Barreiro, que elevaram o desporto da cidade ao mais alto nível, quer nacional, quer internacionalmente.  

Carlos Manuel referiu que "o futebol está a perder cada vez mais gente", sendo que, por vezes, "há jogos da distrital que têm mais espectadores do que alguns da Primeira Liga". Para o antigo jogador, este cenário deve-se ao facto de este desporto ser movido pelo dinheiro e não pela paixão, como outrora. "Antigamente, no Barreiro as coisas eram diferentes, tínhamos um jogo, uma bola, as oficinas da CP, as fábricas e pouco mais... o lado socioeconómico daquele distrito morreu muito, quando as fábricas caíram... foi-se perdendo tudo. Hoje em dia, a estrutura do futebol é muito financeira e não há emoção num jogo. A nível de treino evoluímos, mas a nível de jogo, perdemos os 'Chalanas', que eram quem nos empolgava. Perdemos aquelas jogadas fenomenais, a criatividade e a magia e o futebol de rua, onde isso prevalecia", vincou. 

Diamantino Miranda, antigo jogador do Benfica, mas também de Boavista e V. Setúbal, que começou por dar "os primeiros pontapés numa bola" na Companhia União Fabril, atual Grupo Desportivo Fabril do Barreiro, esteve igualmente presente na palestra e concordou com estas ideias, no entanto, apontou os treinadores como os principais culpados. "Acredito que iremos voltar ao tempo dos 'Chalanas', mas para isso é preciso mudar o paradigma dos treinos. Um treinador não pode explicar a um miúdo como se faz um passe, quando lhe passa a bola com as mãos...os treinadores de formação da atualidade não têm a qualidade dos de antigamente... Dão nomes às fintas, quando deveriam demonstrar como se fazem", referiu. Diamantino foi ainda mais longe e frisou que "hoje em dia, joga-se futebol pelo dinheiro apenas. Antes, jogava-se para comprar o que fazia falta, por exemplo um apartamento. Atualmente, um jogador é uma mercadoria para venda. Quase ninguém começa e acaba a carreira no mesmo clube".

Por sua vez, José Augusto, antigo internacional português bicampeão Europeu pelo Benfica, além de confessar que o Benfica e o Barreirense são os seus "dois grandes amores", mencionou o lado positivo do futebol atual: "No meu tempo, era obrigatório cumprir os contratos que tínhamos com os clubes e só depois é que podíamos renovar ou sair para onde quiséssemos. Eu não assinava contratos quando comecei a jogar, apenas assinava a ficha da Federação para ir a jogo. Houve uma grande mudança no futebol, o que foi bom para os jogadores e para os clubes, porque ter um jogador contrariado... não era positivo". 

Além de personalidades ligadas ao futebol, também marcaram presença no evento Carlos Bóia, campeão do mundo de remo que participou nos Jogos Olímpicos de 1972, Sérgio Rocha, mestre internacional de xadrez, e Miguel Gavinha, ex-basquetebolista eleito o melhor jogador da liga em 2013/14, ao serviço do Galitos. 

Estes afastaram-se do tema do desporto-rei e focaram-se nas suas modalidades. Tal como Carlos Bóia, que lamentou o facto de o remo ter perdido atletas, com o passar dos anos, dizendo que "tem de haver mais trabalho por parte da Federação de Remo para motivar os jovens, indo por exemplo às escolas divulgar a modalidade", Miguel Gavinha também confessou que o basquetebol sofreu mudanças, apesar de que, no Barreiro, há uma grande aposta nesta modalidade. "Antes, o basquetebol era diferente. Acho que é geracional. Hoje em dia, os jovens estão diferentes. No entanto, o talento do Barreirense continua a crescer. A cidade tem deixado a sua marca, quer com jogadores, quer com treinadores. O Barreiro é especial e no desporto é sinónimo de talento".   

Por fim, Sérgio Rocha destacou a importância da cidade da Margem Sul na valorização dos vários desportos. "O xadrez do Barreiro existe há muitos anos. Em 1992, fundámos o Clube de Xadrez do Barreiro que, em 1998, foi considerado a capital nacional do xadrez. A cidade aposta na modalidade, mesmo que esta não tenha a mesma dimensão que o futebol. Nas escolas do Barreiro, tenho cerca de 1000 alunos a aprender a jogar e adoro ensiná-los. Sinto-me muito realizado com todos eles", afirmou.

Autor: Inês Cunha
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