A marcação de uma Assembleia-Geral extraordinária por parte da atual Direção da Académica, presidida por Paulo Almeida, levou a que José Eduardo Simões, seu antecessor, enviasse um email a todos os membros dos atuais órgãos sociais do clube, e ao qual o
Record teve acesso.
Eis o documento na íntegra: "Exmº Senhor Presidente da Mesa da AG da AAC/OAF
Caros membros do Conselho Académico
Associados
Na posse das convocatórias para as reuniões do Conselho Académico (CA) e da Assembleia Geral (AG) da AAC/OAF marcadas para o dia 23/9/2016, venho por este meio informar que não poderei estar presente porque entre 22 e 30 de Setembro estarei ausente de Portugal por motivos profissionais.
Contudo, quero desde já manifestar a minha opinião e oposição firme em relação à forma e conteúdo daqueles textos e respectivos propósitos e objectivos.
Assim:
1º Estando marcada para o final de Outubro (já publicada na Comunicação Social com mais de um mês de antecedência) uma AG ordinária do OAF para apreciar e votar Orçamentos para a época 2016/17 em curso e Relatório e Contas da época 2015/16, não faz qualquer sentido que se marque – ANTES DAQUELA AG DE ORÇAMENTOS E CONTAS – uma outra AG extraordinária com fim tão abrangente e de transcendente importância a que se destina (entre os quais permitir contrair empréstimos e outras operações de crédito; e oneração de bens imóveis do OAF, ou seja, ONERAR PATRIMÓNIO).
2º Acresce que quem está a pedir autorização é a Direcção da AAC/OAF (não a gerência da SDUQ) e nunca houve, nem há, que se saiba, qualquer necessidade do OAF estar a contrair empréstimos e/ou outras operações de crédito, ou para onerar bens imóveis, pois o OAF não possui dívidas ao Estado e à Segurança Social.
3º Assim sendo, não há qualquer razão concreta e aceitável para a Direcção da AAC/OAF pedir autorização para contrair empréstimos ou outras operações de crédito ou pretender onerar bens imóveis (dificilmente os associados entendem o porquê desta convocatória).
4º Quais os fins, afinal? Para a prática de actos que não se justificam nem são justificados sequer?
5º Para além do mais, a forma correcta de tratar estes assuntos é APRESENTAR EM 1º LUGAR OS ORÇAMENTOS 2016/17 (OAF E SDUQ, SEPARADAMENTE) E AS CONTAS DE GERÊNCIA E RESPECTIVOS RELATÓRIOS 2015/16 (OAF E ADUQ, IGUALMENTE). E estes temas de fundamental importância e pertinência vão ser apresentados para análise dos associados na AG de final de OUTUBRO. Até lá nada se sabe. Isto é algo que parece óbvio a qualquer associado.
6º Só nessa AG de final de Outubro se ficará a saber qual o estado da Instituição (OAF e SDUQ), através das Contas; e a estratégia desportiva e financeira definida pelos órgãos dirigentes de OAF e SDUQ, através dos Orçamentos.
7º Até lá, até essa AG de final de OUTUBRO, estamos todos às "cegas".
Ninguém sabe, os sócios não sabem, nada é dito, sobre o que passa na Instituição. Receitas e despesas previstas e já realizadas; o que está a ser pago e o que está a ser adiado; se os salários de Julho dos funcionários já foi pago, etc. Nem sobre a estratégia para a época 2016/17.
Desportivamente, pretende-se subir à 1ª Liga? Esse objectivo existe, ou esta época é para manter na 2ª Liga e para o ano se verá? Financeiramente, os orçamentos do OAF (agora com o Bingo a dar lucro, mais espaços que foram arrendados no Estádio ainda pela Direcção a que presidi) e da SDUQ são idênticos, superiores ou inferiores aos das épocas anteriores? O enorme êxito do "despedimento colectivo" de jogadores implicou indemnizações? Se sim, de que montantes? Ninguém sabe…
A transferência do nosso ex-atleta júnior Xavi para o Futebol Clube do Porto implicou a CEDÊNCIA GRATUITA de 4 (quatro) jogadores do FCP à Académica. Porque razão nenhum atleta do Porto veio? Nenhum interessava, nenhum tinha condições para ser mais valia?
Durante dois anos (o processo começou em 2014) a Direcção a que presidi procurou demonstrar jurídica e institucionalmente à Câmara Municipal de Coimbra que não fazia qualquer sentido a posição (oficial e transmitida por escrito) desta Câmara de cobrar, à AAC/OAF, taxas municipais pela renovação da concessão do Posto de Combustível da AAC/OAF sito na Academia Dolce Vita (operado pela REPSOL). Segundo o Regulamento de Taxas, a AAC/OAF estava isenta do pagamento dessas taxas, sendo essa a base das nossas contestações. Finalmente (com raro sentido de oportunidade, acrescente-se) passado mês e meio de entrada em funções dos novos órgãos dirigentes a mesmíssima Câmara veio ao encontro das nossas posições jurídicas e aprovou essa isenção de taxas (que rondavam os €170.000 (cento e setenta mil euros). Este benefício inequívoco que só agora nos é conferido como será mobilizado?
8º Sem resposta a estas e muitas outras questões, sem as bases de trabalho e o conhecimento da estratégia dos órgãos dirigentes não se pode, nem deve, sequer, pretender pedir um CA e AG extraordinária do OAF, para votar CONTRACÇÃO DE EMPRÉSTIMOS E OUTRAS OPERAÇÕES E ONERAÇÃO DE BENS IMÓVEIS DO OAF. Sublinho, património do OAF. E é o OAF que vai pedir empréstimos? Para quê, se nada deve ao Estado e Segurança Social?
9º Porquê? Para quê? Sem Contas e Orçamentos, como é que se pode pedir que, em consciência, os sócios participem e votem estes importantíssimos temas, se nada conhecem nem nada sabem? Como é que se pode pensar em pedir EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS (OU OUTRAS OPERAÇÕES DE CRÉDITO NÃO ESPECIFICADAS) nestas condições? É um pedido de passar um cheque em branco com os olhos tapados…
10º Como é que, nestas condições, se pode pedir para onerar BENS IMÓVEIS DO PATRIMÓNIO DO OAF? Bens que tanto custaram a adquirir e a construir ao longo dos últimos 11 anos? Onerar rima com alienar, o que pode significar VENDER – TER QUE VENDER (se não se pagarem os empréstimos e quaisquer operações de crédito pretendidas). Sem as Contas e os Orçamentos é inaceitável e incompreensível. Não há justificação possível para essas operações por parte do OAF. Isto parece algo como: sem as soluções que foram prometidas por esta Direcção, pede-se emprestado, empenham-se os anéis e seja o que Deus quiser…
Se não se pagar, adeus anéis. Ou seja: FICA O OAF SEM PATRIMÓNIO.
11º Mas há que acrescentar o seguinte.
12º O actual Presidente da Direcção do OAF (aliás, relembre-se, Vice Presidente da Mesa da AG da AAC/OAF entre 2014 e que, até à sua eleição para a Direcção, esteve presente em todas as AG do OAF; nas AG da SDUQ; e em várias reuniões onde temas desportivos e sobretudo financeiros foram apresentados e tratados, portanto pessoa esclarecida que não pode alegar desconhecimento das matérias em causa) foi claro a afirmar aos sócios, antes das eleições de 12/6, que quem se apresentava tinha condições financeiras para assegurar a sustentabilidade da Académica. Dinheiro (ou a falta dele) não era problema…
13º Pelos vistos, a solução apontada (ou que terá sido angelicamente vendida por terceiro/s) pelo próprio então candidato passava pela venda de um atleta nosso – o Pedro Nuno -, sendo que um grande empresário e um grande clube nacionais iam comprar o passe por 2 (dois) milhões de euros. O atleta, cuja venda estava já apalavrada/feita/concretizada (era uma questão de fácil resolução), nem sequer foi convocado nos 5 jogos da Académica realizados em Agosto, para não se lesionar e poder assinar a qualquer momento. Estava tudo muito bem encaminhado, tudo tratado… Dinheiro não era problema, foi dito e continuou a ser mantido.
Até que se caiu na realidade.
14º Afinal, tudo não passou da venda de um sonho, de um castelo de areia, de uma "promessa" inconsequente de que o futebol é fértil. Sobretudo promessas, apoios e venda de sonhos, tão fáceis quando se está fora dos órgãos executivos. Depois vem a realidade e os sonhos de dinheiro a rodos a entrar transformam-se noutra figura. No caso daquele atleta, nem 2, nem 1,5, nem 1 milhão. Apenas uma proposta de 300.000 (trezentos mil euros) que já tínhamos foi mantida, podendo ainda o atleta ficar na Académica por empréstimo na época 2016/17. Esta proposta não foi aceite pela actual gerência da SDUQ, tal como não aceitou propostas para venda dos passes dos atletas IAGO e NI PLANGE. E do famoso empresário que ia investir e colocar jogadores na Académica, nem vê-lo…
15º E agora? A gerência da SDUQ tomou as opções que tomou. Mas há que perguntar: afinal quais são as condições e garantias financeiras que os actuais órgãos dirigentes executivos apontam para a Académica e que antes das eleições de Junho se gabavam de ter e prometiam? Apenas um novo patrocinador (com a dimensão que tem, mas que saúda) que, ao que se sabe, já entregou à SDUQ as verbas referentes aos 3 anos da parceria. Mais nada? Alienação de passes dos atletas? Vendas de camarotes? Novos arrendatários de espaços da Académica? Outras parcerias e patrocínios das inúmeras empresas com quem os actuais dirigentes possuem relações profissionais ou de amizade? Onde estão?
16º Afinal as condições e garantias são pedir empréstimos e outras operações de crédito não especificadas, e por essa via onerar, eventualmente alienar e vender o património do OAF, que tanto nos custou construir e adquirir.
17º Se são estas as "soluções" (porque os actuais órgãos dirigentes da Académica afinal não possuem outras…) que se apresentem em 1º lugar as contas (o retrato da situação) e os orçamentos (o quadro estratégico). Só depois, e consoante o que for apresentado, votado e aprovado (ou não), se pode eventualmente passar para temas como empréstimos, operações de crédito não especificadas e oneração de património. Se se justificar, o que não é o caso presente.
18º Tal como nos é apresentado, manifesto frontalmente a minha oposição a estes pedidos de autorização apresentados ao CA e AG de 23 de Setembro próximo. E considero (até pelas posições e garantias dos órgãos que foram eleitos em Junho passado) que, nestas circunstâncias, esses pedidos de autorização de empréstimos, operações de crédito não especificadas e oneração de património, são uma afronta para os associados.
19º Relembro mais uma vez que o actual Presidente da Direcção foi Vice Presidente da Mesa da AG da AAC/OAF entre 2014 e à sua eleição para a Direcção. Esteve presente em todas as AG do OAF; nas AG da SDUQ; e em várias reuniões onde temas desportivos e sobretudo financeiros foram apresentados e tratados (nomeadamente numa realizada no Estádio em Maio deste ano, horas antes da AG em que deu o passo no sentido de se candidatar), sendo portanto pessoa esclarecida e que não pode alegar desconhecimento das matérias em causa. Pelo que:
20º Apelando à sensatez e bom senso dos órgãos dirigentes da AAC/OAF, solicito que sejam adiadas as reuniões do Conselho Académico e da Assembleia Geral do OAF de 23 de Setembro de 2016, para data posterior à realização da AG ordinária marcada para final de Outubro próximo, e onde serão apresentados, debatidos e votados os Orçamentos e as Contas.
Cumprimentos
José Eduardo Simões
Sócio nº 448
Membro do Conselho Académico (por inerência)"