Siga o nosso canal de WhatsApp e fique a par das principais notícias. Seguir

O Rei e os Ministros

EUSÉBIO HOMENAGEADO EM PARIS

Eusébio recebeu ontem, em Paris, o Troféu Jean Borotra do Comité Internacional de Fair Play e da UNESCO, numa cerimónia simples, algo diletante até, mas testemunhada e dignificada pelos mais altos dirigentes do desporto e da juventude mundiais. Como sempre, disponível e paciente, comportou-se como um Rei no meio de uma multidão de Ministros – mais de cem de todo o Mundo, incluindo o de Moçambique, embora nenhum de Portugal.

Figura central da cerimónia, apesar da "concorrência" de uma figura olímpica e do atletismo como Kip Keino e do facto de o futebol não ser propriamente uma vaca sagrada no movimento olímpico, Eusébio deu um beijo no diploma, mas, desta vez, conteve as lágrimas. Pelo contrário, fez uma revelação. "Quando chorei em 1966 no fim do Inglaterra-Portugal, estava a agradecer a Deus, porque nós também tínhamos ganho uma medalha"... ainda que a medalha tenha sido conquistada posteriormente ante a URSS.

Mas na festa de ontem, entre outras pequenas "gaffes", como o erro na data de nascimento, a troca dos apelidos – insistem em chamar-lhe Ferreira da Silva –, o romance ficcionado da sua viagem de Moçambique para Lisboa "de barco", a confusão no filme de apresentação de Eusébio com algumas imagens de Pelé no Mundial da Suécia, a gralha no boletim oficial que atribui o terceiro lugar no Mundial-66 ao... Benfica –, nada diminuiu mais uma eloquente demonstração do eterno prestígio mundial desta figura do Desporto português, numa hora em que a auto-estima do sector anda tão por baixo.

Quando Eusébio foi abraçado pelo Ministro do Desporto de Moçambique, Joel Libombo, seu "patrício" do Bairro de Mafalala, deixou escapar uma "voz baixa" significativa: "Não veio o de Portugal, mas ao menos veio o de Moçambique!"

E ao longo da noite muitos foram os Ministros (da Jugoslávia, da Turquia e da Grécia, pelo menos) que pediram para tirar uma fotografia ao lado dele. E nem os autógrafos faltaram, apesar da formalidade desta homenagem ao fair play no desporto, que regressou à sede da UNESCO, após dez anos ausente.

O apoio português

Os representantes portugueses no jantar oferecido pela UNESCO cumpriram o dever, mas não conseguiram apagar a sensação de falta de uma patente mais elevada. Ao princípio do dia, ainda correu a informação de que o Governo se faria representar pelo embaixador em França, António Monteiro, mas no final quem compareceu foi o Representante Permanente de Portugal na UNESCO, embaixador (de carreira) Marcello Matias, que leu uma mensagem do primeiro-ministro Durão Barroso. A representação portuguesa era formada pelo presidente do IND, José Manuel Constantino, pelo adjunto do secretário de Estado, Alexandre Mestre, e pelo presidente da comissão de ética do COP, Carlos Cardoso. Matias explicou que atestava com a presença dele, "como representante do Estado, o alcance e o apreço do país pela cerimónia".

Ter-se-á desperdiçado, porém, uma boa oportunidade de promoção mundial do Euro-2004 de que Eusébio é, curiosamente, "embaixador" nomeado. Nenhuma referência foi feita a esse importante evento e, para desgosto do próprio Eusébio, as suas relações com a organização são alheias às autoridades portuguesas, nomeadamente a Federação. "Só lido com estrangeiros", lamenta Eusébio, a poucos dias de "assinar" contrato com o suíço Martin Kallen, da UEFA, e com a multinacional Mastercard, para promover as duas marcas até ao final do Europeu-2004.

Eusébio, Troféu Jean Borotra 2002

"Para mim, Fair Play é saber perder e saber ganhar. Ao longo da minha carreira aprendi a perder e a ganhar. Quando perdia dava sempre os parabéns aos adversários. Nasci em Moçambique, pratiquei futebol amador e depois vim [N.R.: não "en bateau", mas de avião, cerca de 30 horas com seis escalas] para o Benfica, onde aprendi o que era o futebol profissional. Com a camisola da selecção portuguesa disputei o Mundial de 1966 em Inglaterra, onde ganhámos a primeira medalha de bronze. Apareci nas fotos a chorar no final do jogo da meia-final com a Inglaterra, mas não chorava por ter perdido o jogo, chorei também porque tinha ganho uma medalha e, também como católico, naquele momento agradeci essa bênção."

Razões para as ausências em Paris

HERMÍNIO LOUREIRO: "No sábado passado, já tive oportunidade de abraçar Eusébio e de lhe dar os parabéns. Gostaria de ter estado presente em Paris, mas não tenho o dom da ubiquidade [visitou ontem a selecção de andebol]. De resto, o primeiro-ministro enviou uma mensagem de felicitações, sendo que fomos representados pelo presidente do IND e pelo embaixador na UNESCO. Mas mais importante do que eu estar presente é o facto de o próprio Eusébio ter recebido este importante prémio, o qual tem um prestígio incrível."
Secretário de Estado do Desporto

BENFICA: O Benfica sublinha ter sido da responsabilidade do clube a divulgação do prémio atribuído a Eusébio em cerimónia realizada no princípio da semana na sala de Imprensa do Estádio da Luz. Os encarnados, através de João Malheiro, congratularam-se ontem com a distinção atribuída ao Pantera Negra. "Pela sua personalidade, pelo seu carácter humilde, pela forma como sempre soube respeitar companheiros, adversários de ocasião, merece esta elevada distinção. Trata-se de mais um forte motivo de orgulho para o Benfica."
por João Malheiro, Director de Comunicação do Benfica

GILBERTO MADAÍL: "É preciso lembrar que foi a FPF a propor o nome de Eusébio ao COP para que recebesse este prémio. Estamos muito contentes por a proposta ter sido aceite e de, agora, Eusébio o ter recebido em Paris. Estamos em fase de restruturação da federação, e, por isso, não pudemos estar representados."
Presidente da Federação Portuguesa de Futebol

Elogios

"Estamos bastante orgulhosos. Eusébio é uma referência de Moçambique a par de Mário Coluna e Maria Mutola, que pelo seu querer e espírito de conquista têm tanta importância para o espírito nacional como Mondlane ou Machel."
JOEL LIBOMBO, Ministro do Desporto de Moçambique

"Este prémio de grande projecção mundial reconhece a correcção e honestidade de Eusébio no desempenho do seu papel de desportista."
MARCELLO MATIAS, Representante de Portugal na UNESCO

"Fair Play é mais do que apenas respeitar as regras do desporto. Fair Play é generosidade, é um acto de dádiva, anónima, ao adversário e à sociedade"
JACQUES ROGGE, Presidente do Comité Internacional Olímpico

Mensagem

O embaixador Marcello Matias entregou a Eusébio, em Paris, uma mensagem do primeiro-ministro José Manuel Durão Barroso. O tributo não podia ser mais singelo. Valendo pelo seu conteúdo de doze linhas, a folha branca não tinha timbre nem selo branco ou sequer assinatura. Além disso, continha diversos erros de acentuação, dando ideia de ter sido dactilografada em Paris num teclado sem tiles...
11
Deixe o seu comentário
Subscreva a newsletter

e receba as noticias em primeira mão

ver exemplo

Ultimas de Benfica

Notícias

Notícias Mais Vistas