O presidente do Paris Saint-Germain, Nasser Al-Khelaifi, deu os parabéns ao Benfica para reforçar a sua discordância em relação à criação da Superliga europeia. O dirigente do clube francês deixou essa posição bem vincada no discurso na Convenção da UEFA em que se discutiu o futuro do futebol europeu, com a presença do A22, e ao qual
Record teve acesso.
"Ouvimos que a Liga dos Campeões não é emocionante e que o futebol europeu está falido, mas eles continuam a participar nas competições da UEFA. Não compreendo! Ainda na semana passada, o vencedor do grupo do meu clube foi decidido no último minuto. Parabéns ao Benfica, que são os justos vencedores. E no Grupo D (o do Sporting, Tottenham, Eintracht Frankfurt e Marselha) todas as equipas podiam ter terminado no topo ou no fundo do grupo. Contudo, isso não é suficientemente emocionante e eles têm a solução", afirmou Nasser Al-Khelaifi, que é também o líder da ECA (Associação Europeia de Clubes), entidade que é aliada da UEFA no combate à criação da Superliga europeia.
Depois de lembrar que a ECA representa 250 clubes europeus "de todas as dimensões" pertencentes a 55 associações nacionais, o dirigente apontou o trabalho que a entidade tem produzido. "Desde a última vez que nos reunimos, a ECA contribuiu grandemente para a estabilidade, união e crescimento do futebol europeu. É fácil esquecer o que alcançámos. Há pouco mais de um ano, alguns tentaram quebrar a ECA e todo o ecossistema do futebol. Como num filme, na escuridão da meia-noite, tentaram roubar o futebol dos clubes, dos jogadores e dos adeptos. Mas na ECA não quebrámos. Representamos cerca de 250 clubes - pequenos, médios e grandes - e a unidade coletiva dos nossos clubes não pode ser quebrada. Hoje somos mais fortes do que nunca! Somos uma só família e isto ajuda-nos a encontrar soluções para quaisquer desafios que enfrentamos", sublinhou Nasser Al-Khelaifi.
O presidente do Paris Saint-Germain, um dos clubes financeiramente mais poderosos da Europa, enalteceu ainda os resultados obtidos. "Durante o ano passado, a UEFA e a ECA trabalharam dia e noite para fazer mudanças significativas e positivas no futebol europeu - para os jogadores, clubes, ligas, adeptos e todo o ecossistema. A estabilidade financeira começou a regressar ao futebol europeu após a Covid-19, o que é excelente. Foram criadas novas regras de sustentabilidade financeira, que têm sanções desportivas e financeiras. As regras controlam os custos. Encorajam o investimento e novos investidores, sendo que ajudarão a garantir a sustentabilidade do futebol", explicou, detalhando: "A Liga Europa e Liga Conferência tornaram-se torneios espantosos no calendário do futebol. Mais clubes e adeptos em toda a Europa estão a viver a magia do futebol europeu, graças à UEFA e à ECA. Vimos na semana passada os maiores clubes - alguns dos nossos ex-clubes - a lutar pela Liga Europa. Esta é a beleza do futebol."
O discurso de Nasser Al-Khelaifi visou também o futuro a curto prazo. "Foram acordados novos formatos de competição e acesso pós-2024, que dão mais oportunidades aos clubes de pequena e média dimensão, que a ECA impulsionou. Finalmente, a UEFA e a ECA lançaram uma 'joint venture' que criou enormes oportunidades comerciais para o futebol europeu. Os nossos primeiros concursos em França, Reino Unido, EUA e Holanda mostram que o futebol europeu está a crescer em todo o lado", salientou, voltando ao ataque dos defensores da nova Superliga europeia. "Infelizmente, como vimos ontem na nossa reunião com a A22 - talvez se torne A23 ou A24 no próximo ano, uma nova marca cada ano - algumas pessoas ainda estão a tentar reescrever a história e dividir o futebol com apresentações e power-points. Para ser honesto, sinto-me triste por eles, porque ontem provaram que simplesmente não compreendem o futebol e o seu ecossistema", afirmou o qatari, acrescentando: "Muitos grandes clubes não se qualificaram na fase de grupos da Liga dos Campeões. Isso poderia ter acontecido à minha equipa - isto é futebol. Nenhum clube tem o direito divino de vencer."
O dirigente do PSG recorreu a outra modalidade para reforçar a sua posição. "Ouvimos falar de Nadal e Federer. Eu tenho uma pequena experiência no ténis como antigo jogador. Deixem-me dizer-lhes: Rafael e Roger são dois dos maiores atletas da história do desporto. Isto não se deve ao facto de eles jogarem sempre juntos. É porque eles trabalharam muito. Cada partida foi importante, seja qual for o ranking do adversário. Eles nunca pediram uma liga fechada dos melhores jogadores. Eles defenderam a família do ténis. Por favor, não use os seus grandes nomes para justificar os seus fracassos", afirmou em contraponto a um dos argumentos do A22.
O fio condutor do discurso de Nasser Al-Khelaifi foi claro. "O futuro do futebol europeu precisa de considerar os interesses de todos os intervenientes. Todas as ligas, Todos os clubes, as associações nacionais, os adeptos e todas as comunidades que precisam da nossa ajuda. Precisamos de pensar mais particularmente nos adeptos. Na reunião de ontem, a voz dos grupos de adeptos foi ouvida em alto e bom som. Falaram com o coração. O interesse próprio não tem lugar no futebol. E eu concordo plenamente. Também não precisamos de demolir coisas para reformar. Podemos conseguir uma grande mudança positiva a partir do sistema, a UEFA e a ECA já o demonstraram no ano passado", frisou, num apelo à inclusão, finalizando: "Lembrem-se de uma última coisa nos próximos meses. O futebol não é um contrato legal, é um contrato social. Quando os adeptos protestavam nas ruas, não estavam a gritar sobre compromissos legais. O futebol é uma ligação entre clubes e jogadores, entre jogadores e adeptos, entre adeptos e comunidades. Isso nunca irá mudar!"