Se tiver de sair agora, a história como jogador sobrepõe-se à de presidente?

"Espero ser o contrário daqui a uns anos. Espero que a história como presidente seja melhor do que a história como jogador."

Quem não pode ser presidente do Benfica?

"Com toda a honestidade, estou concentrado na minha candidatura. Não vou fazer campanha a favor nem contra ninguém."

Tentará pedir uma revisão da lei sobre a centralização?

"Não beneficiando ninguém, como beneficia o futebol português? Se assim for, nem que a lei tenha de ser adiada."

Como se pode fazer o reequilíbrio que pediu?

"Há uma Federação nova, um Conselho de Arbitragem novo. Temos feito alertas para que as competições nacionais se disputem entre jogadores, treinadores, de uma forma tática. Que seja um campeonato bem dirigido, orientado e bem jogado."

Sente que o Sporting continua a ser beneficiado?

"Dei casos disso. O caso da final da Taça é evidente. Não há ninguém que não perceba que o Sporting foi beneficiado."

Já recebeu por parte da FPF alguma resposta sobre a final da Taça?

"Houve a admissão do erro, o árbitro disse que estavam de luto pelo que se tinha passado, mas a Taça não está no museu e esse é o problema maior."

Aumento do passivo é um ato controlado?

"Completamente. Continuo a admitir isso e a garantir isso. Sou o primeiro a levantar a mão aos meus erros. Mas há uma primeira parte em que o aumento substancial tem a ver com o ano anterior, que tem a ver com a Covid. Aplaudi a medida como administrador de não retirar 1 € a um funcionário. Sem receitas, os valores recaíram nalgum lado. Depois há uma reestruturação no futebol profissional, em conjunto com obras no estádio. Foi um processo medido. O passivo aumentava, mas o ativo também. O Benfica pagou uma verba muito alta de dívida a clubes. O passivo global está a andar para baixo. O ativo aumentou muito e o plano traçado tem tido um incremento nas receitas. Temos o Benfica District para dar uma verba muito alta."

Benfica District é executável?

"É completamente executável, para iniciar o quanto antes se formos eleitos. São 200 M€ mas num negócio paralelo ao dia-a-dia do clube, as contratações, as despesas. É um negócio que está pronto e viável para o Benfica. Vai engrandecer o Benfica, não só na estética mas no crescimento global do Benfica."

Qual é a meta desportiva para os próximos 4 anos?

"Se há uma coisa que me pesa muito na alma neste momento um dos meus maiores desejos era colocar a quarta estrela no emblema do Benfica. Ainda tenho essa ambição. Quero colocar o quanto antes. Foi uma das minhas premissas e um desejo transmitido internamente. É isso que quero. A ambição é ser já campeão este ano e ficar a um campeonato da estrela. Sou o primeiro a admitir que queria mais vitórias, mas sei do trabalho que foi feito. O clube está mais pronto para ganhar do que há 4 anos. É uma das forças que me dá em estar aqui. Seria o último a fazer mal ao Benfica ou a estar num lugar onde não considerasse ter condições para levar o Benfica às vitórias."

Percebe em que ponto a relação com Vieira se estragou?

"Não consigo e se é o facto de hoje ser presidente é errado da parte dele. Não vou entrar em diálogos individuais ou responder individualmente. Posso dizer isto ou aquilo, mas custa-me a perceber. Tenho dificuldade em dizer. Até ao dia em que saiu tivemos várias divergências internais, naturais de quem trabalha tantos anos, mas nunca nada que nos levasse essa situação. Se é por estar na cadeira da presidência é errado da parte dele."

Sente que Noronha Lopes é o seu principal adversário?

"Vamos ver agora. Estou tranquilo. Procuro mostrar aos sócios e adeptos o que quero para o futuro. Serão eles a decidir. Não me preocupo com sondagens ou com quem está perto de chegar à presidência. No meio disto nunca abdiquei de ser presidente e sou quase candidato nas horas vagas."

É Noronha Lopes que tem essa força?

"Não sei. Sei que estavam todos os candidatos e os seus apoiantes. Independentemente de tudo, há um sócio que quer falar e tem essa legitimidade."

Sente que houve uma manobra de dois candidatos na AG?

"Senti que numa Assembleia Geral num clube democrático aquilo não pode acontecer. Foi uma manhã desagradável. À tarde recuperámos a assembleia e fomos para casa com a AG resolvida. Aquela manhã não foi à Benfica. Temos de pensar se é aquilo que queremos para o Benfica. Deixou-se uma imagem muito má."

Nunca lhe passou pensar em ter uma vida mais tranquila?

"Há dias mais difíceis do que outros, mas abdicar do Benfica será sempre extraordinariamente difícil. Vivo o Benfica desde sempre e continuarei a vivê-lo. Vivo o Benfica em qualquer circunstância. Não preciso de ser presidente ou jogador. Fui sempre assim."

Teve um chumbo nas contas. O episódio da AG dá-lhe um indício do que pode ser o próximo mandato?

"Houve um chumbo com contas positivas de 30 M€. É nessa situação que temos de proteger o clube. Estamos em momento eleitoral, estavam todos os candidatos. Não se pode misturar se a equipa ganha com exercícios de contas. Foi chumbado um exercício com contas positivas de 30 M€. É muito estranho. O Benfica não pode mudar de presidente de 6 em 6 meses porque a bola entrou ou deixou de entrar."

Estes novos estatutos deixam a gestão do Benfica refém de uma maioria em AG's mas uma minoria no universo benfiquista?

"Nesse sentido, sim, mas tem de se encontrar um modo em que numa situação crítica possa haver mais votantes do que o que estão numa AG: ou votos noutro dia, ou em dia de jogo para que possibilite que mais sócios possam votar. Numa AG a porta está aberta para todos os sócios. Há uma parte que prefere estar nas AG's e outras que não. Tem de haver uma abertura para haver mais votantes em situações destas."

Vai sondá-lo?

"Tenho tentado trazer de volta vários jogadores do Benfica Campus. Tentei com Renato Sanches, em que as lesões o foram travando, com o Gonçalo Guedes. Tentei João Félix e Nélson Semedo. Se tiver a oportunidade d etrazer Bernardo, trago, como digo de todos os talentos que o Benfica foi formando."

Sente que Bernardo Silva foi um nome atirado para cima da campanha?

"Vejo uma viabilidade no regresso de Bernardo Silva como via no Rui Costa. Ele ainda não chegou à idade com que eu regressei. Bernardo sempre declarou que gostava de jogar no Benfica. Acredito que mais tarde ou mais cedo ele vai ser do Benfica. Essencialmente, ele quer ser jogador do Benfica."

A tendência de não antecipar roturas é um defeito que um presidente não pode ter?

"Se viéssemos de dois anos com Roger Schmidt sem vitórias, seria um absurdo continuar mas vínhamos de um ano fantástico e um menos conseguido em que tínhamos identificado os problemas, onde considerei que o treinador não era o principal responsável. Não é uma questão de segunda oportunidade, mas de alongar um projeto. É difícil fazer um projeto, estando sempre a trocar de treinadores. Acredito nas potencialidades de Bruno Lage. Fomos ganhando a sofrer. O ambiente depois do jogo com o Qarabag... era inevitável que houvesse a troca. Até Bruno Lage percebeu isso. Isto não tem a ver com eleições, mas sim com a época do Benfica. Fui criticado por ir buscar um treinador antes das eleições e a pergunta é: o Benfica pára por causa das eleições? Isto acontece com ou sem eleições. Um projeto mais longo deve ser uma vontade de todos os presidentes. O Benfica é um clube mais exigente. Sem resultados, o ambiente fica difícil para jogadores, treinadores, para toda a gente."

Arrepende-se de ter aguentado Schmidt e Lage tanto tempo?

"São dois casos completamente diferentes. Roger Schmidt deslumbrou, sobretudo nos primeiros 8 meses. No segundo ano, tivemos lacunas na substituição de jogadores que até prejudicaram o trabalho de Schmidt. Acreditamos que o primeiro ano dele não tinha sido uma casualidade. Queríamos um projeto a longo prazo. Pode falhar-se um ano e recuperar a seguir. Fizemos uma pré-temporada que alimentou a esperança. O início do campeonato foi o que foi, o ambiente estava muito mau à volta da equipa e do treinador. Substituí-o. Com Bruno Lage, para além de confiar na capacidade dele, vínhamos de um Mundial. Íamos fazer uma supertaça e um playoff da Liga dos Campeões. Fazer uma substituição aí era a morte do artista. Não havia condições para ninguém preparar uma época neste curto espaço de tempo. Foi chegar dos EUA, descansar uma semana e depois jogar com o Sporting. Tinha de ser um treinador consciente dos jogadores que tinha e das dificuldades dos adversários. Era impensável trocar um treinador naquela altura. Acreditava em Bruno Lage. Depois do playoff, os resultados foram o que foram e decidimos trocar Bruno Lage, não pela falta de confiança, mas porque o ambiente da equipa, do estádio e à volta do treinador carecia de uma mudança."

Como vai ser o mercado de janeiro?

"Vamos esperar pelas eleições. Ainda temos de trabalhar até dezembro. Antes do mercado de janeiro, vão regressar Bah e Manu e que têm a fisicalidade e a qualidade que precisamos. Regressam entre novembro e princípios de dezembro. Depois teremos tempo para pensar se esta equipa precisa de mais um reforço."

Como vai equilibrar o mercado e a aposta na formação?

"Continuamos a ter muitos bons talentos na formação. Há 11 no plantel. Não estando a viver um momento de muita saúde em termos de futebol, até porque nos jogos que temos ganho não tem havido grandes margem, não é o melhor ambiente para lançar um jovem às feras. Os nossos miúdos irão aparecer. Mourinho lançará os nossos miúdos e está à espera do melhor momento para não prejudicá-los."

Vai querer renovar o contrato se for eleito?

"Esta cláusula é por Mourinho perceber o momento do clube e que dá a possibilidade a outro candidato, não pretendendo a continuidade de Mourinho, conseguir uma saída em que não tenha de pagar o contrato todo. Penso que posso falar por todos ao dizer que a renovação de Mourinho significava que o Benfica estava como todos queriam. Temos de pensar que a cláusula não vai ser válida, mas sim uma renovação pelos êxitos que possa ter. Acredito que seja o desejo de todos os candidatos. Na altura, depois vê-se. Tem um contrato por dois anos. Não há pressa."

Todos os candidatos, excetuando um que falou em Klopp, falaram do acerto na contratação

"É difícil colocarmos em causa um treinador desta envergadura, calibre e currículo. Quando trocámos de treinador, ele estava disponível, muito disponível. Acredito que todos os candidatos estejam contentes por terem um treinador desta dimensão no clube."

Mas isso não faz soar o alarme da insuficiência do plantel?

"O plantel do Benfica não está insuficiente e acredito que para Mourinho não esteja. Todos os treinadores querem sempre mais um jogador e, chegado o momento de podermos ir ao encontro de alguma necessidade, cá estaremos para corrigir isso."

A explicação sobre a falta de substituições

"O jogo estava numa toada muito descendente e poderia condicionar um jogador mais jovem. Tenho um treinador com uma experiência enorme, com mais de 200 jogos a nível europeu, para ter a confiança e a consciência de que ele procura para fazer o melhor pela equipa e pelos jogadores. O facto de ter um treinador com 200 jogos na Liga dos Campeões faz-me acreditar que ele sabe o que está a fazer."

Mourinho disse que a equipa é competente em organização, mas tem dificuldades em transição. Isso não está ligado ao valor dos jogadores?

Os jogadores são perfeitamente adaptáveis. Bruno Lage queria Aursnes à frente de Dedic pela capacidade ofensiva de Dedic. Perdemos um ala esquerdo no final do mercado e fomos buscar um que faz as três posições na frente. Colmatámos as saídas. A equipa não está a ser tão agressiva porque, fisicamente, chega tarde. Entre lacunas e o facto de não haver tempo para treinar, percebo a dificuldade que Mourinho está a ter. Publicamente, ele falou da falta de tempo. Estou muito à vontade com aquilo que Mourinho diz. Que não se comece a pensar que há uma divergência entre o que pensa o treinador e o presidente. Isso não existe. Conversamos diariamente sobre o plantel. Ele faz o planeamento. O jogo não nos saiu bem, mas considero que a equipa começa a fraquejar ontem quando deixa de igualar o que o Newcastle estava a fazer. Na primeira parte, dividimos o jogo com duas ou três ocasiões para ficar em vantagem. Depois do 2-0, a equipa perdeu um bocado o norte."

Foi difícil ouvir as palavras de Mourinho?

"Eu percebo o que Mourinho quer dizer.  A olhar de fora posso considerar que o Benfica tem um grande plantel e a trabalhar com ele pode pensar que falta uma pedra ou outra. Temos falado do que temos hoje em mão. Não é tempo de falar já do mercado de janeiro, porque temos um problema para resolver agora. O plantel pode resolver este problema facilmente. Há jogadores que ainda precisam de aparecer mais, que não mostraram ainda o que esperamos dele. O facto de não termos tempo para treinar é um handicap muito grande, nomeadamente para Mourinho, que acabou de chegar. O plantel está bem formado, tem qualidade e vai aparecer. A época está toda em aberto."

"Jogámos frente ao Chelsea há bem pouco tempo e não houve esta diferença tão díspar e até acabámos o jogo por cima, sentindo que merecíamos mais. No Dragão, não tendo ganho, fizemos um bom jogo. Fomos buscar um meio-campo mais robusto e Sudakov, que é mais técnico. Lukebakio veio dar mais velocidade. Quando o Benfica esteve no mercado foi bastante elogiado. Quando ganhou a Supertaça e as pré-eliminatórias foi bastante elogiado. Teve uma quebra, tenho-a identificada. Tem de ser resolvida. Há jogadores que estão furos abaixo da realidade deles que vão aparecer e melhorar."

As declaraçoes do Mourinho sobre o plantel

"O plantel é suficiente, tão suficiente que já fez coisas boas. Não quero carregar na mesma tecla porque pode suar a desculpa. Quando digo que esperávamos esta queda física mais tarde, não estou a acusar o ex-treinador de preparar mal a equipa. Falo das condicionantes da temporada, o facto de não haver férias e o tempo de pré-temporada depois de uma época desgastante. Podem perguntar-me: se jogamos de 3 em 3 dias, quando é que isto vai passar? É um dos problemas desta época. A pré-temporada é uma base tremenda para se fazer uma época e desde que começamos a Supertaça temos jogado de 3 em 3 dias. Só não o fazemos quando há jogos de seleções e vão muitos jogadores às seleções. Ontem teve muito a ver com a questão física. Quando houve cansaço a diferença de ritmo foi abismal. Temos um bom, um grande plantel. Fomos ambiciosos no mercado, mas fizemos um bom plantel. No futuro veremos o que pode ser ajustado, pela forma como Mourinho queria jogar e o Bruno quer jogar. Bruno Lage disse que tinha feito um plantel com a estrutura. Mourinho, quando jogou contra o Benfica pelo Fenerbahçe, elogiou muito o plantel do Benfica. Não podemos analisar só por esta fase que o plantel está ou não bom. Sempre que entendemos reforçar no mercado de janeiro, fizemo-lo."

Foi um jogo, uma fase ou a equipa não consegue competir a este nível?

"Não é uma fase boa. A segunda parte não foi boa. Na primeira parte, o Benfica equilibrou, criou situações para estar em vantagem e podia ter obtido mais. A segunda parte não foi à Benfica. Não reagimos à desvantagem, era obrigatório reagir. A partir do 2-0, houve uma queda muito grande da equipa. Fisicamente, a equipa está com lacunas. Pensávamos que esse período pudesse vir mais tarde, mas veio mais cedo do que esperávamos. Na segunda parte, notei muito que a equipa teve dificuldades para acompanhar o ritmo. Naquela segunda parte, não é a imagem da equipa e do clube. Todos temos a consciência disso. Os jogadores também. Temos de superar esta fase. Na Liga dos Campeões, nada está perdido, mas complicámos a nossa vida."