A divulgação dos emails do Benfica no Porto Canal decorreu no ano de 2017, altura em que Luís Filipe Vieira era presidente e Manuel Brito e Luís Mendes eram apenas sócios do clube da Luz. Desde então, decorreram dois atos eleitorais e o elenco diretivo das águias é agora bem diferente, tendo os associados sido chamados a cargos de topo na estrutura das águias por Rui Costa, desde outubro do ano passado. Pese embora não tenham vivido internamente o momento conturbado que se viveu no clube da Luz na época em que Francisco J. Marques, semanalmente, divulgava conteúdo de correio eletrónico de elementos da estrutura das águias, estes foram agora chamados a prestar declarações no julgamento do Caso dos Emails. Ambos assumem não ter grandes certezas sobre o real impacto fora de campo do que ia saindo no Porto Canal, mas não lhes restam grandes dúvidas que isso passou a influenciar a arbitragem.
"Não sei se se perdeu algum patrocinador, mas em termos de imagem é difícil de recuperar. Fiquei chocado com a divulgação daqueles emails. Em termos reputacionais, teve consequências gravíssimas que ainda hoje estamos a tentar recuperar. Em termos desportivos também. ", assinalou Manuel Brito, tendo depois sublinhado aquilo que poderá ter levado os responsáveis portistas a terem avançado para esta estratégia: "Vínhamos de um bicampeonato, na altura dos factos com quatro campeonatos consecutivos era questão de sobrevivência para o FC Porto ter aceso direto à Champions perante a situação financeira que se vivia. A divulgação dos emails teve impacto notório. Em caso de dúvida, o Benfica foi sempre penalizado. Se formos ver as estatísticas desde então, podemos ver o número de penáltis assinalados a favor do FC Porto ou Benfica. Em caso de dúvidas, o Benfica era sempre penalizado".
Quando questionado se antes do Benfica passar a ser prejudicado, era beneficiado pelas arbitragens, Manuel Brito recusou essa interpretação. "Não era beneficiado. Eu acho que ficaram a penalizar o Benfica depois dos emails. Se calhar antes eram justos para todos os clubes, imparciais", vincou.
O filho do antigo presidente Jorge Brito foi depois confrontado pelos advogados de defesa, onde revelou algumas dúvidas sobre todo este processo. Não sabe se o Benfica apresentou queixa contra Francisco J. Marques pelos danos causados, nem identificou um email que tenha sido truncado, ou um interveniente visado nesses emails alterados, mas assinala que deixou de dar importância ao que o diretor de comunicação portista divulgava, quando percebeu que os emails eram adulterados. Ficaram por assinalar quais eram esses emails.
Luís Mendes, que tal como Manuel Brito chegou à vice-presidência do Benfica em outubro e é desde janeiro CFO da SAD das águias, seguiu pela mesma linha de raciocínio, mas de forma mais cautelosa quando fala das arbitragens, pois diz não ser "especialista" e era apenas a perceção "de adepto".
"Do ponto de vista desportivo, a minha leitura é que tudo o que saiu acabou por ter influência nos próprios agentes desportivas e na forma como interagiam como o Benfica. Podíamos ver as arbitragens a terem algum cuidado nas próprias decisões, mas não sou especialista. É a minha visão de adepto. Mas sempre que havia dúvidas parecia que era decidido contra o Benfica. A minha leitura de adepto era essa".
O responsável do clube da Luz não se pronuncia sobre uma possível quebra nos patrocínios com esta matéria, mas também não quis entrar na discussão das nomeações de árbitros que, alegadamente, seriam mais afetos ao Benfica.
Luís Mendes foi depois convidado pelo advogado de Francisco J. Marques, Nuno Brandão, a ler uma troca de emails entre Domingos Soares de Oliveira e Paulo Gonçalves, onde o primeiro referia que a FPF iria "pagar 50 mil euros pela porta do cavalo". Após a leitura, o vice-presidente foi questionado sobre se eticamente considera aquela missiva reprovável e este respondeu de forma taxativa. "Eu não lhe posso dizer aquilo a que neste caso o Domingos Soares de Oliveira se estava a referir, mas nenhum pagamento pela porta do cavalo é aceitável".
O recente vice-presidente das águias foi ainda questionado pelo advogado de Diogo Faria se o que causou mais dano na reputação da instituição foi a divulgação dos emails ou, "em abstrato, a detenção de um presidente em exercício de funções". "Tem tudo a ver com as circunstâncias pelas quais o presidente é detido. E porque é detido", recusando-se a comentar em "abstrato".