Os holofotes da fama não combinam bem com André André, um rapaz humilde, de 26 anos, que sempre se habituou a trabalhar na sombra, seguindo as pisadas do pai António André, que assumia o papel de guerreiro nas batalhas que o FC Porto travou nas décadas de 80 e 90 para atingir o sucesso.
Mas o golo marcado ao Benfica obrigou o jovem internacional português a mostrar-se e no rescaldo do clássico esteve no centro das atenções. O reconhecimento foi geral e aqueles que melhor o conhecem garantem que a fama não o vai perturbar. Antes pelo contrário. Será mais um estímulo para continuar nesta caminhada vitoriosa rumo ao estrelato.
"Não estou nada surpreendido com esta afirmação do André no FC Porto. Basta ver a forma como se impôs no V. Guimarães. Além das suas qualidades como jogador, também é um grande homem. Quando cheguei ao Varzim nem hesitei em dar-lhe a braçadeira de capitão, mesmo tendo ele 21 anos. Identifiquei logo nele um grande caráter, disponibilidade, equilíbrio e empenho", recordou Dito, o treinador que apostou nele no Varzim, depois de uma passagem fugaz pela equipa B do Deportivo da Corunha.
"Lembro-me que tivemos uma conversa quando ele regressou do Deportivo e perguntei-lhe por que motivo não quis ficar lá, porque era um bom campeonato. O André disse que aquilo não era para ele. Quando perdiam, os jogadores vinham a rir-se no autocarro. Estava fora de questão continuar lá. Isso diz bem da sua personalidade", lembrou Dito, que telefonou ao jogador do FC Porto uma hora após o clássico: "Disse-lhe em jeito de brincadeira que já estava a justificar os 30 milhões da cláusula de rescisão..."
Espírito de liderança
Alexandre Vila Cova, atual diretor desportivo do Varzim, partilhou o balneário com André André quando este deu os primeiros passos na equipa principal dos poveiros e também se desfaz em elogios ao amigo com quem tomou, ontem, o pequeno-almoço.
"Sempre teve uma grande ambição e recordo-me que quando ele começou a trabalhar connosco, ainda júnior, juntamente com o Neto e o Yazalde, disse que queria ser titular do Varzim. Na altura até lhe disse para ter calma, que era muito novo", revelou o antigo central, que vê no médio portista um jogador com características especiais.
"Basta ver que foi capitão no Varzim, fez o mesmo no V. Guimarães e não tenho dúvidas de que em breve será também no FC Porto. É um elemento aglutinador, junta toda a gente no grupo. Tem uma mística fantástica que faz dele um craque", referiu ainda.
Integrado na Seleção
O dia 31 de março deste ano não foi propriamente memorável para a Seleção Nacional, dado que perdeu pela primeira vez frente a Cabo Verde, num jogo de caráter particular disputado no Estoril, mas para André André teve um significado especial. Foi nessa data que se estreou com a camisola das quinas, tendo entrado ao minuto 65. "Conseguiu equilibrar a luta a meio-campo e fez circular bem a bola. Procurou entender-se com Pizzi e Ukra, confirmando-se como opção a ter em conta", escreveu Record na apreciação à sua exibição nesse encontro.
E a verdade é que André fixou-se entre as opções de Fernando Santos. Esteve no banco de suplentes diante da Itália e o mesmo aconteceu na recente jornada reservada para as seleções, frente à França e à Albânia. Tendo alcançado o estatuto de internacional ainda ao serviço do V. Guimarães, André aproveitou a transferência para o FC Porto para se consolidar como jogador de Seleção, marcando uma posição forte na corrida para o Europeu do próximo ano, mesmo tendo uma concorrência feroz.