Afinal, qual pode ser o impacto concreto de uma medida como o voto eletrónico à distância? A resposta, no caso do Sporting, está numa profunda transformação que faria com que as grandes decisões do clube deixassem de estar nas mãos de uma percentagem pequena dos associados, essencialmente daqueles que residem na região da Grande Lisboa.
Em exclusivo a Record, o vice-presidente do Sporting e administrador da SAD, André Bernardo, reduz a decisão dos sócios este domingo em Assembleia Geral a uma questão de se querer, ou não, abrir o clube a uma nova era, em que todos possam ter uma palavra a dizer. "É mesmo uma questão de ser a favor de querer todos os sócios a poder participar, ou não", admite André Bernardo, em declarações ao nossos jornal, quando questionado sobre as aspetos que dizem respeito à segurança do processo.
"É um processo muito, mas muito mais seguro. É importante que saibamos separar o que é uma opinião - e todas elas são bem-vindas - do que é sustentar algo que não tem fundamento. Só por falta de conhecimento, demagogia ou tentativa de oportunismo político alguém pode afirmar o contrário. Aliás, o voto eletrónico já é utilizado nas AGs eleitorais, utilizando tecnologia. O que está a ser proposto é dar um passo mais à frente e permitir o voto eletrónico à distância. Não há processos infalíveis mas este é muito mais seguro. Será efetuado por uma entidade independente e auditado por outra. É mesmo uma questão de ser a favor de querer todos os sócios a poder participar, ou não", sublinha o dirigente dos leões.
Maioria esmagadora em dois distritos
A abertura do clube à sua real base de apoio é, para André Bernardo, a questão de fundo nesta proposta de alteração dos estatutos. É isso o que dizem os números relativos às participações nas últimas assembleias gerais e, mais do que isso, os dados relativos à origem desses associados que têm marcado presença nas AG e estão em condições de exercer o seu pleno direito.
"Aquilo que temos a possibilidade de decidir nesta AG é se queremos um clube inclusivo, onde todos os sócios podem participar, ou se mantemos as barreiras atuais que resultam em percentagens de votação historicamente baixas: 87% das AGs ordinárias desde 2014 registam uma adesão inferior a 3%. E mesmo a última Assembleia Geral Eleitoral teve uma adesão de menos de 30%", explica-nos André Bernardo, antes de enfatizar um facto: "77% dos sócios do Sporting que estão elegíveis para votar residem nos distritos de Lisboa e Setúbal, o que evidencia que isto vai muito mais além de um tema de distância geográfica. Se queremos o voto universal, é preciso dar uma solução cómoda, fácil e segura. Ela existe, e este Conselho Diretivo opta pela solução que permite que todos os sócios possam de facto participar", declara o vice-presidente do Sporting e administrador da SAD.
Voto nos núcleos é… "demagogia"
Alguns associados, de que é exemplo o ex-candidato João Benedito, manifestam-se contra o voto eletrónico à distância mas defendem a deslocalização do voto para os núcleos. Algo que, na perspetiva de André Bernardo, seria quase "irrealizável", por tudo o que teria de acarretar em termos logísticos, sem que, na verdade, resolvesse totalmente a questão das distâncias.
"Repito o que disse anteriormente: 77% dos sócios do Sporting residem em Lisboa ou arredores. Os núcleos defendem os melhores interesses do Sporting e os daqueles que de mais longe, têm barreiras que podemos derrubar. Portanto, eles serão os primeiros a querer fazê-lo em nome daqueles que representam e sentem na pele essa realidade. De qualquer forma, esse é um não tema porque, quer do ponto de visto estatutário, logístico, quer de segurança seria praticamente irrealizável. Teríamos de multiplicar os recursos dos membros da Mesa da Assembleia Geral, de colaboradores do Sporting, de espaços, de computadores, de segurança, de auditoria do processo, etc… Existe uma argumentário à volta disso por pura demagogia e tentativa de dispersão", acusa André Bernardo.
Para que o voto eletrónico à distância passe a fazer parte dos estatutos do Sporting, a proposta da direção de Frederico Varandas terá de ser aprovada por 75% dos votos e dos votantes, este domingo, em Assembleia Geral. Os trabalhos vão decorrer no Pavilhão João Rocha a partir das 9h30. A fila para votação encerra às 20 horas.