Foi uma época em cheio para o jovem do Norte que, definitivamente, já encantou Lisboa. Ainda hoje não acredita na "loucura" que foi a noite dos festejos do título. Ser campeão. Ganhar uma Taça. Chegar à Selecção principal. É muita coisa para um jovem de 19 anos, que ainda quer ser este ano campeão europeu de sub-21 e sub-19
Basileia – As coisas correram tão bem que Hugo Viana parece que ainda não acredita. Confessa que está a viver um sonho, após seis meses em que saiu da equipa B de Alvalade para ser campeão nacional e vencer uma Taça de Portugal. Pelo meio, foi chamado à Selecção Nacional por quatro vezes e compreende por que não foi ao Mundial. Está no Europeu de sub-21 de corpo e alma, pronto para voltar a ser campeão como foi em Israel, em sub--16. E ainda espera representar a "sua" selecção de sub-19 no Europeu da Suécia. A ambição deste jovem que, aos 14 anos, chegou à capital para representar o Sporting parece não ter limites.
– Acha que o balneário do Sporting foi a grande arma para a conquista da histórica "dobradinha"?
– É o trunfo de qualquer equipa. É o mais fundamental, porque o espírito de grupo é muito importante e o mais elementar para uma equipa atingir o sucesso. O Sporting tem realmente um grupo de jogadores espectacular e desde o início da época notou-se isso. Também teve pessoas que souberam gerir o grupo da melhor maneira e foi uma aposta ganha.
– Quem foram as figuras mais importantes desta época vitoriosa?
– Há que destacar o plantel todo. Sem o espírito de grupo que sempre revelámos, a equipa não conseguia nada. Mas há que destacar o Jardel e o João Pinto, por razões óbvias. Não houve nenhum destaque pela negativa. Os que habitualmente não jogavam, responderam sempre que foram chamados a jogar. O plantel todo está de parabéns.
– A par do Quaresma, é a grande revelação desta época, o que realmente deve ser motivo de orgulho. Mas isso também implica mais responsabilidade para o futuro. Sabe que as pessoas vão exigir mais de si. Está preparado para responder ao desafio?
– Não levo isso como uma responsabilidade. As pessoas que me conhecem sabem qual é o meu valor. Sabem como é que eu trabalho e até agora acho que nunca desiludi ninguém. Pelo menos, nunca ninguém me disse... O que posso dizer, como é perfeitamente notório, é que este ano correu-me muito bem. Estes seis meses que estive na equipa principal foram fantásticos. Sagrei-me campeão nacional. Foi a Taça de Portugal. Fui chamado à selecção A. Foi espectacular. É uma época que nunca mais vou esquecer, aconteça o que acontecer daqui para a frente. Mas também há que realçar casos como o do Quaresma, ou mesmo do Postiga e do Bosingwa. Todos jovens que também se evidenciaram bastante na primeira época como seniores. Isso só é bom para o futebol português, que este ano esteve exemplar ao nível da aposta em jovens. Só espero que para o ano seja ainda melhor nesse aspecto.
– Quando é que sentiu que o título estava ganho?
– Quando o Boavista perdeu com o Varzim foi um passo muito importante. Só dependíamos de nós e isso é muito importante. Sentimos que as coisas ficaram mais fáceis. Mas se o Varzim não tivesse ganho no Bessa, sinto que dificilmente o título nos podia fugir. Estávamos confiantes e a praticar um bom futebol. Dali para a frente, bastava ganhar um dos três jogos e seríamos campeões.
– Mas não deixa de ser curioso que, a partir desse momento, o Sporting não mais conseguiu uma grande exibição. Faltou estrutura psicológica para aguentar a pressão de chegar a um título que não podia, pelas circunstâncias, de maneira nenhuma fugir de Alvalade?
– Com o Benfica sentimos uma grande ansiedade. Aquele pensamento do "temos de ganhar" para dar uma grande alegria a toda a massa adepta que estava em Alvalade, traiu-nos um pouco. Pelo menos, eu senti isso. Os mais experientes não deviam estar tanto assim. Acho que foi excesso de ansiedade, porque a equipa estava bem psicologicamente. Depois vi o resumo na televisão e penso que não estivemos tão mal como muita gente disse. É verdade que as melhores oportunidades foram do Benfica, mas o domínio do jogo foi equilibrado.
– Ficou surpreendido com tamanha "explosão" de sportinguistas na noite em que o título ficou confirmado com a derrota do Benfica na Luz?
– Nunca na vida pensei que o Sporting tivesse tantos adeptos e que fossem tão "malucos". Foi a um domingo à noite, muitas pessoas trabalhavam no dia seguinte, e estiveram connosco na festa até às quatro da manhã. Foi impressionante.
"Tenho muito a aprender"
– Ainda é possível ensinar alguma coisa a um jogador que, aos 19 anos e na sua primeira época de sénior, ganhou o campeonato, a Taça de Portugal e foi chamado à Selecção A?
– É claro que sim. O "mister" Bölöni já disse que ainda tenho de aprender muita coisa. A cabecear melhor, a jogar melhor com o pé direito e a defender mais. Ele é muito rigoroso e isso só é bom para os jogadores. Na próxima época, já espero melhorar esses pormenores e, quando tiver os meus 25/26 anos espero que já possam dizer que sou um jogador completo.
– Como é que foi quando chegou ao balneário do Sporting?
– Cheguei envergonhado... Só via as pessoas a passarem por mim e a cumprimentarem-me. Naquele momento, estava a viver um sonho. Acho que ainda vivo. Ainda há pouco tempo, fui fazer uma sessão fotográfica com o João Pinto e ele contou que no ano passado lhe pedia autógrafos. Isso é a pura verdade e acho que pode explicar como me sentia quando me vi a jogar ao lado dele e de outros que eram os meus ídolos.
– Que tipo de conselhos teve dos seus novos companheiros e ídolos?
– Tive de todo o tipo e de todos. Agradeço a todos. Dentro do campo, sempre me apoiaram e davam-me conselhos sobre como me devia posicionar.
– E como foi jogar ao lado de Paulo Bento e Rui Bento?
– São jogadores muito experientes. Dão uma consistência muito grande ao meio-campo. Já se conhecem há muito tempo e complementam-se. Jogar ao lado deles dá-me muita segurança. Não me posso esquecer das funções defensivas, mas também me dá mais liberdade de acção e posso ir mais à frente arriscar mais um pouco.
– Pode recordar os momentos que o marcaram mais no seu jogo de estreia na I Liga?
– Foi contra o V. Guimarães. Já estava a treinar com a equipa há duas semanas. Ao ver aquele estádio com tanta gente fiquei emocionado. Mas os momentos que antecederam o jogo foram os habituais com algum nervosismo. Só que quando entrei tive a sorte de fazer um cruzamento para o Jardel que deu golo. É outro facto que não vou esquecer.
– Teve algum momento da época em que sentiu que não estava a corresponder às expectativas?
– Depois do jogo na Luz, senti que não estava bem. Houve uma quebra de forma que até me afectou um pouco psicologicamente. Mas com o apoio dos meus companheiros e da equipa técnica, recuperei depressa e consegui acabar bem a época.
– Num balanço global da época, esperava mais dos outros candidatos ao título?
– A partir de uma determinada altura, o Benfica e o FC Porto ficaram um pouco distantes do Sporting e Boavista, mas acabou por ser um campeonato emocionante. Valeu, acima de tudo, pela luta entre o Sporting e o Boavista.
– E acha que o Sporting seria campeão sem Jardel?
– É claro que o Jardel veio ajudar muito. Não é qualquer jogador que chega à terceira jornada e, mesmo assim, marca os golos que ele marcou.
"Leixões foi equipa corajosa"
– E o que é que achou da prestação do Leixões na final da Taça. Chegou a complicar...
– Dou os meus parabéns ao Leixões. Foi uma equipa muito corajosa, embora não tivessem nada a perder porque chegar a uma final da Taça já era uma conquista enorme para eles. Mas jogaram o jogo pelo jogo e até nos surpreenderam um pouco pela forma como o encararam. Não tinham nada a perder. Nós é que tínhamos ganho o campeonato e havia que mostrar porque somos o campeão nacional. É verdade que o jogo não correu muito bem, também devido ao cansaço acumulado de uma época muito desgastante, mas deu para ganhar e o Leixões mostrou que tem uma excelente equipa e merece a subida de divisão.
– E houve mais alguma coisa que o surpreendeu ao longo desta época?
– A única coisa que me surpreendeu fui eu próprio. Nunca pensei dar uma resposta destas a todos os acontecimentos, que passaram a grande velocidade. Nunca pensei chegar tão cedo à equipa principal do Sporting. Nunca pensei ser internacional A com esta idade. Não sabia que tinha esta autoconfiança.
"É um risco sair já de Portugal"
Já disse inúmeras vezes que se sente bem no Sporting, o que se compreende depois de uma época de estreia com dois títulos nacionais. Falou-se de muita coisa, mas parece que os italianos já o conhecem melhor. Admite a hipótese de, no imediato, chegar ao Calcio?
– Itália não é um futebol que me fascina. É muito mais o espanhol. Se chegasse neste momento uma proposta muito tentadora para mim e para o Sporting, teríamos de a estudar. Tinha de ser mesmo uma proposta muito boa para me fazer ponderar, porque continuo a achar que é um risco sair já de Portugal.
– Mas há propostas que só podem surgir uma vez e não se podem recusar...
– Concordo porque o futebol é feito de momentos. Nós temos uma carreira que pode durar, no máximo, até aos 35 anos ou até aos 30 anos. Ou seja, temos de saber aproveitar todos os momentos. Mas não sei...
– Acha que tinha espírito para ser emigrante no futebol aos 19 anos?
– Para já não penso nisso porque não chegou qualquer proposta. Mas acho que não teria qualquer problema. Afinal de contas, há poucos exemplos de falta de adaptação. Já vim sozinho de Barcelos para Lisboa com 14 anos e consegui adaptar-me. Não me assustava nada esse aspecto. Sei que nos primeiros meses é muito, muito difícil, mas com o devido apoio não deveria ter problemas.
– O mesmo apoio que teve da sua mãe na fase mais decisiva da temporada. Isso foi importante para manter a serenidade e continuar a ser regular na equipa do Sporting?
– Claro que sim. Foi muito importante. Desde a separação dos meus pais que, a cada dia que passa, estou mais ligado à minha mãe. Temos uma relação espectacular. É a ela que tenho de agradecer a educação que tenho, a minha maneira de ser e estar. Qualquer pessoa deve louvar a mãe só porque nos fez nascer. No meu caso ainda mais, porque vivo com ela e é ela que leva com as minhas chatices e que me apoia nos momentos mais delicados e que me dá conselhos. Neste momento, é a pessoa mais importante da minha vida.
"Nada sei acerca do Celta de Vigo"
– Hugo Viana desmentiu qualquer contacto com o Celta de Vigo. "Não me chegou nada às mãos e garanto que assumiria caso existisse alguma coisa", garantiu o jogador, que tem contrato com os leões até 2005, e que a meio da temporada reviu o seu vínculo, elevando a cláusula de rescisão para 20 milhões de euros (4 milhões de contos).
O jovem leonino deixa ainda uma mensagem: "Se saísse, a proposta teria que ser muito boa para mim e para o Sporting, que me fez como homem e jogador."
Entretanto, Record sabe que ao clube de Alvalade não chegou nenhuma proposta do Celta. E o próprio clube espanhol desmente interesse no jogador. "Não negociámos Hugo Viana, não há nada", afirmou Felix Carnero, secretário técnico do clube galego ao site "Mais Futebol".
"Seria arriscado levar-me já a um Mundial"
– Estar no Mundial era só um sonho, ou acha que devia ter mesmo sido convocado?
– Fui chamado aos quatro jogos e só tenho de agradecer ao senhor António Oliveira as oportunidades. Havia muitos colegas meus que me diziam que já estava certo no Mundial, mas sempre disse que não. Sabia que era importante estarem lá os jogadores mais experientes. É verdade que fiz muitos jogos como titular do Sporting, mas tenho de reconhecer que é uma ascensão muito rápida e, julgo eu, seria um pouco arriscado levar-me já a um Mundial.
– Não está a ser humilde em excesso?
– Estou apenas a ser sincero. É claro que gostava de ir a um Mundial e, se tivesse sido convocado, ia fazer tudo para ser útil. Não é que ainda não me sinta preparado para ir ao Mundial,mas acho que ainda não tenho aquela experiência que outros jogadores, ao longo de uma carreira cheia de títulos e competições, já ganharam.
– Não vai acabar a época sem lutar por mais um título, o de campeão da Europa de sub-21...
– Está a ser, de facto, uma época de sonho. O meu objectivo agora é ser campeão da Europa. Já fui de sub-16 e agora quero voltar a ser. Estou empenhado para ajudar esta selecção e penso que temos uma equipa muito boa. Bastante equilibrada e com valores já há muito confirmados.
"Todo o plantel solidário com Niculae e Sá Pinto"
– Quando marcou o seu único golo, ao Paços de Ferreira, fez questão de o dedicar ao Sá Pinto e ao Niculae. Foi uma forma de tentar minorar o sofrimento dos dois?
– Graças a Deus nunca me aconteceu nada parecido. Jamais tive uma lesão grave, mas muitas vezes pensei como deve ser estar na pele deles e imaginei o seu sofrimento por não poderem dar o seu contributo à equipa e, ainda por cima, saberem que isso seria durante muito tempo. Nesse jogo fui eu que manifestei a minha solidariedade, mas todo o plantel estava solidário com o Niculae e o Sá Pinto. Toda a gente falava regularmente com eles, mas achei que era uma mensagem bonita dedicar-lhes o meu primeiro golo no campeonato.
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