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O discurso de Bruno de Carvalho na Web Summit: Agentes, TPO e a dica para os clubes sobreviverem

Presidente do Sporting recordou que o Sporting tem estado na vanguarda em muitos pontos

• Foto: Mariline Alves
Bruno de Carvalho foi um dos oradores no segundo dia da Web Summit, abordando aspetos como a recuperação financeira do Sporting, o papel dos agentes e a TPO [n.d.r.: Third-Party Ownership ou partilha de passes] e ainda a forma como os clubes terão de se reinventar para sobreviver no futuro.

Desafios financeiros no sporting. "Quando chegámos o Sporting tinha quase todos os jogadores na posse de fundos, mais de 500 milhões de dívida e tínhamos de melhorar ainda mais a Academia, reforçar o nosso estatuto e mostrar que era possível fazer dinheiro no futebol. Começámos a trabalhar muito e mudámos muito no primeiro ano pois cortámos metade dos custos e fomos segundos classificados, entrando logo na Champions, o que não acontecia há seis, sete épocas. Melhorámos a dívida para 240 milhões e trouxemos os melhores jogadores de volta. Começámos a ter as nossas próprias ideias para o futebol, mercado e partilha de passes. Fui uma das caras contra o TPO [n.d.r.: Third-party ownership] e a favor do vídeo-árbitro. Todos diziam que eu era louco por não ser possível introduzir tecnologia e porque era muito bom falar de arbitragem todas as semanas, e que sem o TPO os clubes iam morrer. É bom ver o Sporting, ao final desses cincos anos, um clube bem falado em Portugal e no Mundo. Estamos numa situação financeira estável. Ainda não ganhámos o título mas estamos bem colocados este ano. O que digo é que quando acreditamos e temos capacidade... no futebol quando somos um pouco loucos atingimos os nossos objetivos."

Doyen e a derrota em tribunal. "Não é uma instituição, é algo... não sei o quê. Há muito para mudar pois quando se luta contra algo que não se sabe quem são as pessoas e de onde veio o dinheiro, e eles podem ganhar, significa que o futebol tem muito para resolver. Foi um dia triste para o Sporting mas também para o futebol. Porque algo que ninguém sabe bem o que é ganhou. Estamos aqui, conseguimos lidar com isso. Às vezes perdemos de forma injusta e temos de continuar a acreditar em nós. Se tivemos de lutar esta guerra, assim o faremos."

Comissões e papel dos agentes. "De 2013 a 2016, foram pagos 1,1 mil milhões em comissões, falamos aqui em dólares (915 milhões de euros). Se colocamos isto em 14 anos, em simples matemática é algo como 4,4 mil milhões em comissões. Mas isto é apenas matemático. Jorge Mendes fez transferências de 1,2 mil milhões em 14 anos. Portanto, sim, é um grande agente, com quem o Sporting precisa também de lidar e também a nível mundial. É muito e está a crescer a influência dos agentes, estão a crescer muito também as comissões. Estão a duplicar em relação a 2010. Só no Big Five são muitas. Inglaterra é uma liga que compra mais do que forma, mas é muito dinheiro em comissões."

Guerra com West Ham por William Carvalho? "Não foi uma grande batalha, para isso teria de estar interessado na batalha e eu não estava interessado no West Ham. Portanto, não foi uma grande batalha."

Compra de clubes por um só proprietário e como resolver. "Agentes têm cada vez mais poder e os jogadores têm cada vez mais medo de fazer algo sem os seus agentes. Portanto, os agentes estão a facilitar ou apenas para ganhar dinheiro com negócios? Às vezes encontro agentes que querem ajudar o negócio; outras vezes vejo outros que... a FIFA diz que os clubes devem primeiro chegar a acordo e depois o clube comprador pode falar com o jogador. É a regra e nós devemos ser o único que a cumpre... O que acontece é que o agente diz que se não recebe nada, o jogador não sai. Temos de criar regras. Quem vai meter as mãos nisto? Federações? Não. Ligas? Não, não acredito. Tem de ser o Governo. Falamos de um mercado de 33 mil milhões, o mesmo da indústria de Hollywood, mais do que os outros desportos juntos. Os Governos têm de fazer algo sobre as intermedições e a pertença de passes. Não acredito que tenhamos a capacidade de resolver estes problemas ao nível de Federações e Ligas."

Futebol obscuro na Europa. "Noventa por cento dos clubes na Europa não tem contas públicas e isso é um grande buraco negro. Se os Governos continuarem a assobiar e a não fazer nada, isso será mau para o futebol. No Big Give, há 18 nacionalidades diferentes a possuir 44 clubes. Os últimos foram da China mas há 18 nacionalidades diferentes. Não percebo por que os clubes não percebem o motivo do negócio não poder ser lucrativo. Fomos a única administração no Sporting que teve um mandato de quatro anos com lucro, fazendo-o com boa gestão, vendendo e comprando bem, tivemos recorde de receitas na última época. Os clubes estão a esquecer isso e apenas tentam atrair dinheiro de investidores e compradores. Tenho receio quando vejo um estudo de Harvard que diz que 65 ou 75 dos clubes europeus estão na falência ou perto e 60 por cento no Mundo igual. Quero que o Sporting continue a ser pertença dos adeptos. Por isso investimos muito na nossa Academia, somos os únicos com dois Bolas de Ouro. Temos 55 nas principais ligas. Temos dificuldades em mantê-los? Barça e Juventus tiveram o mesmo problema em ganhar-nos. Os árbitros não estiveram muito bem mas pronto, eles querem clubes sexy, eu prefiro bons clubes. Não percebo o que é um clube sexy, um dia alguém irá mostrar-me." 

Que apostas devem os clubes fazer para sobreviver. "No futuro vão perceber que é preciso meter dinheiro nas respetivas academias e criar ligação com os adeptos, com as novas plataformas, criando dinheiro pela Academia. É o que temos feito com sucesso nestes cinco anos. Quem não entender entrará em falência ou um dia tudo neles mudará. Todos os clubes recebem muito dinheiro das TV mas temos de olhar para as novas plataformas. É fácil que todo o Mundo esteja ligado ao teu clube, colocando dinheiro na área digital. Estamos a tentar melhorar nessa área, pois no futuro queremos ligar-nos aos nossos adeptos sem ser apenas pela TV. Depois dos próximos cinco anos, quem estiver ligado por outras plataformas é quem vai sobreviver. Primeiro, criar valor pelos jogadores e Academia e depois encontrar novas fontes de receita, pois as receitas de TV rapidamente sobem mas também descem. É a forma de criar valor para os clubes no futuro. Estamos a criar um monstro, metendo tudo junto e no fim somos apenas um clube. No futuro vamos perder esta dimensão estratosférica e voltar outra vez ao básico - os adeptos e honrar a história dos clubes e dar-lhe cada vez mais valor. O segundo equipamento desta época no Sporting é feito pelos adeptos. O nosso lema está escrito em braile e isto é tambem uma inovação. Todos deve estar unidos no futebol."
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