Bölöni lembra Sporting de Ronaldo, Quaresma e Viana: «Eram crianças no balneário e homens feitos no relvado»

No dia do seu 70.º aniversário, o treinador faz um balanço da sua carreira que, contando os anos como jogador, tem mais de meio século. A passagem por Alvalade está nas melhores memórias

• Foto: JOSÉ MOREIRA

No dia do seu 70.º aniversário, o treinador faz um balanço da sua carreira que, contando os anos como jogador, tem mais de meio século. A passagem por Alvalade está nas melhores memórias

RECORD - Completa hoje 70 anos. Pode fazer um balanço de carreira incluindo as épocas como jogador?

LÁSZLÓ BÖLÖNI – Infelizmente já são 70 anos [risos]... Penso que construí uma carreira bonita. Enquanto jogador fui internacional pela Roménia e, posteriormente, cheguei a selecionador do meu país. Na primeira fase, a jogar, ganhei a Taça dos Campeões Europeus [pelo Steaua Bucareste em 1986, numa final frente ao Barcelona] e a Supertaça Europeia  [1-0 ao Dínamo Kiev]. Não ganhei tudo mas tenho orgulho nas minhas conquistas. O que alcancei deixa-me muito satisfeito.

R - De todos os títulos qual é o que o deixa mais orgulhoso?

LB – Tenho de dizer que foi vencer a Taça dos Campeões Europeus. Foi um feito extraordinário, mesmo a nível global, essa final frente ao Barcelona, que vencemos nos penáltis [0-0, 2/0]. Já como treinador tenho muito orgulho em chegar da Roménia e ter conseguido vingar no futebol ocidental. Este dado demonstra o valor do meu trabalho e ultrapassa todas as outras coisas. Consegui exercer o meu trabalho em França, Portugal, Bélgica… Foi algo difícil mas eu consegui e estou muito contente por isso. Depois, há também os títulos e as taças que venci no Sporting e no Standard. São igualmente recordações muito importantes para mim.

R - A propósito, o que o levou a aceitar o Sporting em 2001?

LB – Antes de aceitar o cargo de selecionador romeno já tinha trabalhado no futebol francês e gostei muito. Para mim a liga francesa está entre as quatro melhores do Mundo. É normal dizer-se que o melhor futebol é jogado em Inglaterra, Itália e Alemanha, mas o futebol francês está ao mesmo nível dessas ligas. Após ter deixado a seleção do meu país pensei que, se tivesse a oportunidade de voltar ao futebol ocidental, rapidamente ia aproveitar. Houve também fatores pessoais que me levaram a aceitar a proposta do Sporting naquela altura.

R - Ficou surpreendido com a qualidade do plantel, com Cristiano Ronaldo, Quaresma...

LB – [interrompe a pergunta] É preciso recordar que, na fase em que os encontrei, ainda não eram jogadores feitos. Eram jovens e estavam num patamar mais baixo. Eu no Sporting tive de facto jogadores extraordinários como João Vieira Pinto, Rui Jorge, Paulo Bento, Pedro Barbosa, que já eram extraordinários. Depois também havia o Jardel, que fez uma época fantástica, e o próprio Niculae. Tinha de facto bons jogadores, e também tive a coragem de pegar em jovens como o Hugo Viana – penso até que foi o primeiro -, o Custódio, o Quaresma e o Ronaldo… Essa foi a minha segunda grande satisfação no Sporting: ter pegado nesses jovens e começado a trabalhá-los desde a minha chegada. Foi com grande prazer que os vi chegar à Seleção Nacional, e alguns até ao mais alto patamar a nível mundial, como o Cristiano Ronaldo. Esse trabalho só foi possível pela coragem que eu e a direção mostrámos nessa altura. Juntos conseguimos formar uma geração de jogadores muito valiosa para o Sporting.

“[Hugo] Viana sempre foi muito inteligente. fiquei logo convencido que ia voltar como dirigente ao Sporting”

R - Nesse período, alguma vez pensou que teria de dar tantas entrevistas a falar de Ronaldo?

LB – Nunca pensei nisso. O meu grande prazer foi ver um jovem a quem dei uma oportunidade de entrar tão novo no plantel principal e vingar. O Ronaldo mostrou logo muita coragem e muito entusiasmo no trabalho que realizou, e isso ajudou-me a potenciar o talento inato dele.

R - Sobre Hugo Viana, atualmente ele ocupa o cargo de diretor desportivo do Sporting. Alguma vez o imaginou nessas funções?

LB – Sim, imaginei. Ele e o Cristiano Ronaldo já tinham uma maturidade muito grande, aliás foi mesmo essa maturidade dos dois que me surpreendeu quando comecei a trabalhar com eles. O Hugo Viana tinha um grande pé esquerdo e, além da qualidade futebolística, tanto ele como o Cristiano Ronaldo, já tinham essa maturidade. O Ronaldo, o Quaresma e o Viana no balneário pareciam umas crianças mas depois, no relvado, revelavam-se homens feitos. Em relação ao Viana, conseguiu ir criando uma lista de conhecimentos pois sempre foi uma pessoa muito inteligente. Eu reencontrei-o passados muitos anos nos Emirados e, nessa altura, fiquei logo convencido que o Viana ia voltar como dirigente ao Sporting. Lembro-me que nessa conversa ele já falava como um jovem dirigente que, apesar da idade, também mostrava uma larga experiência. Nós nunca adivinhamos o que vai acontecer no futuro, mas recordo-me perfeitamente de ter falado com uma pessoa muito inteligente que é ainda dotada de qualidades humanas muito profundas.

R - Passados 20 anos continua a ser recordado com saudade pelos adeptos. Gostava de ter ficado mais tempo?

LB – Essa questão não se colocou. Tive uma boa oferta para trabalhar no Sporting, desenvolvi o meu trabalho e regressei a França para prosseguir a minha carreira. Portugal foi um capítulo que fechei, mas continuei em contacto com o Sporting e com Miguel Ribeiro Telles [ex-presidente da SAD] que é uma pessoa extraordinária. Também continuei a acompanhar a carreira do Ronaldo que foi conquistando Bolas de Ouro atrás de Bolas de Ouro – e foi batendo todos os recordes –, tal como a de outros jogadores. Sinceramente nunca pensei que iam ficar tantos anos sem vencer um campeonato após a minha saída pois é um clube importante para milhões de portugueses. O Sporting ficou-me no coração.

R - Pode apontar o jogo que lhe deu mais prazer ganhar em Portugal e explicar porquê?

LB – O primeiro clássico contra o FC Porto que ganhámos 1-0 com um golo do Niculae. Esse é difícil de esquecer [risos]. É difícil escolher pois no Sporting ganhámos muitos jogos. As vitórias frente ao Boavista também eram difíceis pois o clube estava muito forte nessa época. Ganhámos e perdemos jogos com Benfica e FC Porto, mas também recordo o último dérbi com o Benfica, disputado no Estádio Nacional, que vencemos por 2-1. Como foi o meu último dérbi é algo memorável para mim, mas desafio os sportinguistas a escolherem o melhor.

R - E qual foi o jogador que mais gostou de treinar?

LB – Essa pergunta é muito difícil. Já falei de um conjunto de jogadores mais experientes, que na época estavam perto dos 30 anos, como o Rui Jorge, o João Pinto, o Beto, o Barbosa... Estamos a falar de internacionais que disputaram Mundiais. Os bons jogadores são aqueles que resistem e se mantêm ao mais alto nível durante anos a fio, e depois ainda juntam a esta capacidade um conjunto de qualidades humanas. Seria incorreto para mim escolher um, até porque depois tive aquele grupo de jovens. O Cristiano é excecional, mas também tinha o meu Mustang, o Quaresma, com quem estabeleci uma relação forte. E não posso esquecer o Hugo Viana. É certo que o Ronaldo bateu todos os recordes, mas para mim todos eles foram extraordinários. Só posso dizer que todos ajudaram a que o Sporting ficasse no meu coração. É claro que respeito o FC Porto e o Benfica, são dois clubes fantásticos, mas o Sporting para mim será sempre o melhor.

No dia do seu 70.º aniversário, o treinador faz um balanço da sua carreira que, contando os anos como jogador, tem mais de meio século. A passagem por Alvalade está nas melhores memórias

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Por João Soares Ribeiro
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