"Justificar ou desculpar crimes em função de interesses ditos superiores tem muito que se lhe". As palavras são de Rui Patrício, um dos advogados do
Benfica, que dedica o seu texto de opinião semanal no jornal 'Sol' à pirataria informática.
"Salvo o devido respeito, tenho assistido com um misto de asco e de riso (mas amargo) a uma certa discussão que vai por esse mundo fora sobre a suposta bondade de certos atos criminosos de pirataria informática. Vários crimes graves, afinal, ao que parece, não só não o seriam, como fariam até o autor ou autores arriscarem a beatificação social, porque com eles o que fizeram mais não foi do que denunciar o mal e contribuir para a transparência. E pronto, já está, não é preciso aprofundar, nem discutir mais, nem pensar. Narrativa feita, narrativa difundida, narrativa arrematada. Para quando a santidade? Ora, isto é – salvo o devido respeito, claro – superficial, distorcido e até um pouco estúpido, sendo também, e sobretudo, muito perigoso", começa por escrever.
"Isto de justificar ou desculpar crimes em função de interesses ditos superiores tem muito que se lhe diga, e vem nos livros, logo aliás nos mais simples sobre a chamada teoria do crime (aqueles que qualquer um deveria ler ou reler, antes de se abalançar a doutrinar a população). Não é assim de qualquer maneira, para qualquer coisa, e com duas pinceladas e já está. Trata-se, em primeiro lugar, de situações excecionais, e extremas. Em segundo, os interesses têm que ser mesmo superiores, em si mesmos, e aos que se colocam em causa com os crimes praticados. Depois, terceiro, tem que haver mesmo necessidade, estrita adequação e ponderada proporcionalidade. Quarto, cumpre encontrar boa-fé na coisa, já agora. E, quinto, sexto, e por aí fora, mais umas coisinhas de nada, mas importantes para se poder dizer que algo que é crime deixa de o ser ou que, sendo-o, não merece censura.
"Mesmo que para aceitar a narrativa tenha que esquecer que, se calhar, os interesses não são assim tão superiores, que a conduta não é necessária, e que vai muito para lá da adequação. E esquecendo, além do mais, que se vende informação, ou se pede dinheiro por ela. Boa-fé, claro, princípios abnegados, mas já agora um dinheirito não caía mal. E espalhar revelações que não se relacionam com nenhuma denúncia relevante também fica bem, e ninguém se importa, são só mais uns pozinhos, e tudo se beatifica com a estúpida (mas vendável a metro e barata) teoria do bom selvagem que salva a humanidade da opacidade e do obscurantismo."
Benfica admite perdão parcial
Os encarnados
admitem um perdão parcial de Rui Pinto, o alegado hacker responsável pelo roubo da sua correspondência eletrónica. Especificando, deixarão cair o crime de extorsão, se o pirata informático disser quem lhe pagou para fornecer os emails.
O Benfica sempre considerou estar perante uma "rede criminosa". Essa tese foi reforçada este mês, após terem sido divulgados documentos da PLMJ Advogados. "A face visível dessa rede criminosa tornou-se pública quando, através do Porto Canal, o diretor de comunicação do FCP surgiu como porta-voz do roubo dos emails", sublinharam, então, as águias.