Na véspera do dérbi entre Sporting e Benfica, Record conta-lhe a história nunca antes desvendada de como Rafael Leão foi desviado das águias pelo clube leonino. Em 2008, então com 9 anos, o pequeno Rafael já dava nas vistas na Associação Foot 21, uma organização sem fins lucrativos e que se autoproclamava como uma escola de talentos - e o talento, acima da média como muitos diziam na altura, fora descoberto num torneio do Amora. Não demorou muito até aparecer um emblema de maior dimensão. Segundo apurou Record, o Benfica surgiu primeiro, contactando a Foot 21 e a família de Rafael Leão. "O sonho dele é jogar no Benfica", terá confidenciado o pai, António Leão, às pessoas envolvidas no processo. A forma de oficializar esta ligação, uma vez que se tratava de uma criança, foi a assinatura de uma ficha de inscrição que seria entregue na Associação de Futebol de Lisboa no período de inscrições para concretizar a mudança para os encarnados na época seguinte.
O Sporting entrou na corrida mais tarde. Quando o observador do clube leonino falou com o pai de Rafael Leão, ficou a saber que o rival Benfica já se antecipara. Ainda assim, não desistiu e perguntou a António Leão se a porta estava fechada para o clube verde e branco. "Não", foi a resposta. Começou então uma operação de charme baseada na persuasão e capacidade de argumentação. O principal trunfo que o clube de Alvalade utilizou para ganhar vantagem foi o historial de aposta nos jovens. Aliás, nas várias conversas com a família de Rafael Leão, os elementos do Sporting recordaram a filosofia seguida na formação e até enumeraram os jogadores ‘made in’ Sporting que, na altura, estavam na equipa principal: Daniel Carriço, Miguel Veloso e João Moutinho, entre muitos outros.
Transporte
Segundo as várias fontes contactadas por Record, o Sporting apercebeu-se ainda de um aspeto que preocupava o pai de Rafael Leão: o transporte. António Leão não tinha capacidade financeira para suportar, quase diariamente, o percurso escola-treino-casa, até pela distância envolvida. O clube leonino assegurou que o pequeno Rafael teria direito a utilizar a transportadora da escola para o treino (Cidade Universitária, em Lisboa) e, depois, do treino para casa (Amora, distrito de Setúbal).
O Benfica havia proposto uma solução semelhante, mas António Leão não sentira tanto esforço por parte do clube da Luz. Mais: o pai de Rafael Leão chegou a desabafar que, depois de assinar pelo Benfica, as águias nunca mais disseram nada. Tinham-se passado dois meses e o silêncio, de certa forma, começou a incomodar. Ao mesmo tempo, os argumentos do Sporting soaram tão bem que Rafael Leão também assinou uma ficha de inscrição pelos... leões.
Chegar às 5 da manhã
Os regulamentos da AF Lisboa diziam que um jogador que tivesse assinado por dois clubes corria o risco de ficar suspenso até haver uma decisão da entidade. Mas as regras também contemplavam uma forma de evitar a sanção. Basicamente, era necessário oficializar a preferência pelo clube pretendido através de uma carta entregue na AF Lisboa 30 dias antes do início das inscrições. "Eu, António Leão, confirmo que o meu filho, Rafael Leão, assinou fichas de inscrição pelo Benfica e pelo Sporting e que o clube que ele pretende representar a partir da próxima época é o Sporting", terá sido, mais palavra, menos palavra, a mensagem assinada por António Leão, porta-voz da decisão do pequeno Rafael.
Esta carta era a prova de que o Sporting havia, oficialmente, ultrapassado o Benfica na corrida. Mas o regulamento tinha outra norma que, de certa forma, podia complicar o processo: em caso de assinatura por mais do que um clube, a AF Lisboa validava a inscrição que fosse efetuada primeiro. O emblema de Alvalade não arriscou e, por isso, o secretário técnico foi para a porta da AF Lisboa às... 5 da manhã de 1 de julho, dia das inscrições. Assim, o Sporting ficou em primeiro lugar na fila, antecipando-se na inscrição de Rafael Leão e de outros jogadores desviados do Benfica.
Evolução
A época 2008/09 marca o início da história de Rafael Leão como jogador do Sporting. De lá para cá, o caminho foi percorrido quase sempre um escalão acima do que a idade indicava. Em 2015, então com 16 anos, assinou contrato profissional; entretanto já renovou até 2022 e com uma cláusula de rescisão de 45 milhões de euros. Um valor que o emblema leonino considera insuficiente, e daí que tencione subir para... 100 milhões de euros. Esta é, também, uma forma de avisar os interessados de que, para contratar o avançado, será preciso abrir os cordões à bolsa. O Manchester City surge, tal como Record noticiou, na lista de tubarões que segue o jovem de 18 anos, conforme comprovam as várias observações ao longo da época, até porque 2017/18 está a ser uma temporada de sonho. Estreia na equipa principal e com um golo como bónus; estreia nas competições europeias e estreia a marcar em clássicos. E os elogios de Jorge Jesus. "O Rafael Leão faz-me lembrar o Jordão, por ser desconcertante e forte no um para um. É um grande talento da Academia". Se não tivesse sido a persistência no passado, hoje Rafael Leão poderia ser uma promessa... do Benfica.
Dálcio também foi desviado
No dia em que inscreveu Rafael Leão, o Sporting registou ainda Dálcio Gomes e a estratégia foi exatamente a mesma. O jovem também jogava na Foot 21 e também tinha assinado pelos dois rivais de Lisboa. Os leões entregaram a tal carta na AF Lisboa com a preferência de Dálcio e ficaram com um jogador pretendido pelo Benfica. Curiosamente, o extremo viria mesmo a vestir a camisola dos encarnados uns anos mais tarde, contratado ao Belenenses. Aliás, a ligação de Dálcio às águias é válida até 2020. Apenas utilizado na equipa B, representou o Rangers (Escócia) por empréstimo na época que está prestes a terminar.
Pai não quer falar do passado
António Leão, pai de Rafael Leão, é um dos protagonistas de toda a história. Aliás, uma vez que se tratava de um jogador menor de idade na altura da luta entre os rivais, é mesmo a figura central de todo este processo de que o nosso jornal hoje dá conta, já que foi através dele que, quer Benfica, quer Sporting, começaram a estudar a forma de resgatar o talento de Rafael. E foi também na qualidade de pai que António Leão acabou por ajudar o filho a tomar a decisão final.
Por isso, Record contactou António Leão e pediu-lhe para contar, na primeira pessoa, a história que o nosso jornal traz nestas páginas. No entanto, o pai do avançado do Sporting preferiu não falar do passado, limitando-se a dizer que já tinham passado muitos anos e que, no seu entender, já não valia a pena recordar a situação.
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