"[Tenho] colegas de equipa que já me disseram que as avós delas eram quase da minha idade. Ficaram admiradas e perguntam-me como consigo jogar e estou tão bem quanto elas. Penso que sou um bom exemplo e elas estão contentes", contou à agência Lusa Maria Dores Pinheiro, de 52 anos, que alinha no Boticas, dos escalões distritais de Vila Real.
Lançada no desporto através do atletismo, esta professora de Educação Física, hoje em dia a lecionar em Montalegre, município a norte de Boticas, cedo se aventurou no futsal, quando ainda "não havia equipas femininas e jogava com rapazes na rua e na escola".
"Antigamente, perguntavam-me 'o que andas a fazer, maria-rapaz?' e diziam que aquilo era só para os rapazes, mas nunca me importei e eles até me diziam para vir jogar. Eu gostava, jogava na mesma e não foi isso que me levou a desistir. Agora, é totalmente diferente. A prática das mulheres no desporto é aceite e ainda bem que assim é", frisou.
Um grupo de amigas de Maria Dores Pinheiro esteve "por brincadeira" há duas décadas num torneio organizado pela autarquia, abrindo caminho à criação do futsal feminino no Boticas, que já foi interrompido e, entretanto, reativado, sempre na presença da ala/fixo. "Já estamos há cinco anos consecutivos com esta equipa. Há sempre algum sacrifício, sobretudo no inverno, quando chego do trabalho e a seguir já estou no treino. Já não há tempo para fazer mais nada, mas só não treino se não puder e dificilmente falho algum. Quando me comprometo e gosto, faço as coisas da melhor maneira possível", explicou.
Maria Dores Pinheiro entra "quase sempre" no 'cinco' inicial, exceto quando sofreu uma fratura num braço e roturas ligamentares nos dois joelhos, mas admite que tem de ser "muito autoexigente" para "treinar bem, estar em forma e ao nível das outras miúdas". "Não estou a jogar há alguns meses, pois tive uma rotura de ligamentos parcial. Já ouvi pessoas que não entendem o desporto e colegas dizerem-me que não tinha idade para isto e tivesse juízo. Engraçado é que uma miúda de 16 anos de outra equipa se lesionou exatamente no dia em que me magoei com muito mais gravidade. Disse-lhe que não é a idade que determina isto. As pessoas ficaram a olhar para mim e calaram-se", gracejou.
Numa terra onde "não há muitas jogadoras", Maria Dores Pinheiro regozija-se por poder partilhar balneário com as filhas Inês, de 24 anos, e Bárbara, de 21, que vislumbram na mãe um "incentivo" para permanecer no desporto "de boa vontade e com o maior gosto". "A mais velha nunca teve muitas oportunidades e foi um bocado arrastada por mim. A mais nova também, se bem que começou a jogar com rapazes quando era mais nova e, depois, foi para a seleção distrital. Às vezes, as duas ficam atrapalhadas, porque me posso magoar, mas adoram que eu esteja na equipa. Isto é único. Se eu nunca desisto, elas dizem mesmo que, se não fosse eu, se calhar já tinham desistido", confidenciou.
Até 2020, quando deixou o desporto em prol da via profissional, Tiago, de 31 anos, quis também herdar de António Rocha o gosto pela baliza, estimado pelo seu pai desde as peladinhas nos recreios escolares e patente na transição dos relvados para as quadras. "Joguei futebol até aos 30 e tal anos. Depois, vi que tinha muito mais potencial no futsal, pois a baliza é mais pequena e é diferente, embora tenha mais trabalho durante o jogo. Como a minha estatura não é muito alta, dava-me mais jeito. Abracei com toda a força e não me tenho dado mal. Os adversários que o digam", disse à agência Lusa o guarda-redes, de 61 anos, a jogar nos Amigos de Campanhã, dos escalões distritais do Porto.
Titular há cinco anos no clube da sua cidade-natal, este vendedor de têxteis-lar assume que a concorrência na baliza o "obriga a jogar melhor", culminando, mesmo sem tantas vitórias, no "prazer de ouvir árbitros e adversários a darem os parabéns pela exibição". "Vejo muita juventude nos jogos de veteranos. No final, olham para mim e dizem-me que defendo bem. Peço para que continuem e deem sempre o melhor. Uma vez, um desses miúdos até me disse que o pai, que tem a minha idade, estava entretido no sofá a ver televisão e nem se levantava, enquanto eu jogo e sou um exemplo para todos", ilustrou.
António Rocha, que passou pelo futebol amador de Sporting da Cruz e Coimbrões, entre outros clubes da área metropolitana do Porto, vê "a saúde a correr bem", ao ponto de escapar ao conselho médico para "brincar em vez de jogar", após "alguns infortúnios". "No futsal, sofri uma fratura do escafoide. No futebol, tive uma perna partida e rompi os meniscos internos dos dois joelhos. Felizmente, nada foi impeditivo. Faço o que posso e queria ver se jogava mais quatro anos, até aos 65. Antes, a meta era até aos 60, mas sinto-me bem, vão gostando da minha forma de jogar e ser e continuo por cá", concluiu.
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