Paulo Bento foi o convidado da Grande Entrevista da RTP. O selecionador nacional abordou uma série de assuntos relativos ao presente e futuro da equipa que comanda e olhou também aquilo que tem sido a sua carreira. O arranque fez-se com a memória do pai, com Paulo Bento a assumir que gostaria de partilhar com o progenitor tudo o que tem vivido nos últimos tempos.
"Gostaria que estivesse neste momento perto de mim, tal como gostava que estivesse quando acabei carreira como jogador. Foi das pessoas que mais me apoiou na carreira como jogador e gostaria que estivesse presente comigo. Infelizmente não é possível", assumiu.
Questionado sobre o facto de ter pertencido a uma geração de jogadores onde não existia "vedetismo", o selecionador foi claro: "Sempre houve jogadores a terem um maior destaque, pela forma de estar na profissão e pela vida pessoal. Ainda joguei com alguns dos que marcaram uma geração, como Figo, Rui Costa e João Pinto. Também o Pedro Barbosa. Em termos de qualidade marcaram uma geração, mas o que escolhemos depois em termos de convivência entre vida pessoal e profissional, já depende do caráter de cada um."
Elogios rasgados a Ronaldo
Bento e Ronaldo foram companheiros como jogadores. De lá para cá muito mudou, mas as qualidades do craque português do Real Madrid continuam a ser bem evidentes para o selecionador nacional.
“Não fiz nada de especial com ele nem com outro jogador que tenha estado neste estágio. Convivi com ele no meu final de carreira e com o arranque da carreira dele Já tinha muita vontade de trabalhar nessa altura e muita capacidade de trabalho. Essa capacidade foi sempre defendida pelos seus treinados. O que posso dizer, para além do potencial que ele tem, é aquilo que é como profissional. Sempre preparado e empenhado no que faz", garantiu.
"No caso de Ronaldo, não parecia justo que tivesse de resolver todos os problemas da Seleção. Parece-me que estando envolvido numa dinâmica conjunta pode render ainda mais", explicou depois sobre as mudanças no desempenho do jogador, antes e depois da chegada de Paulo Bento.
Diferenças para Queiroz
Questionado sobre o mau ambiente entre jogadores e Queiroz, patente no Mundial'2010, Bento resguardou-se mas não se furtou à questão: "Devemos pensar nesta nova fase que começou e nas vitórias averbadas, que são muito importante rumo ao Euro'2012. Devemos deixar de parte esses problemas, que existiram, mas acho que não devemos estar a voltar a esse tema."
"Fui contratado para um objetivo e isso é o que me preocupa - levar Portugal ao Europeu. A mim preocupa-me neste momento conseguir os objetivos. Encontrei um grupo crente no apuramento, porque essa era a minha função. Não era importante para mim saber se os jogadores acreditavam ou não no apuramento, mas sim olhar para o futuro", explicou depois.
Mudanças necessárias
O treinador assumiu as mudanças que efetivou ao chegar à Seleção Nacional, dentro e fora de campo. As mexidas no miolo foram as mais relevantes, mas há outras.
“No setor defensivo também mexemos, porque o Sílvio estava na convocatória, mas optei pelo João Pereira. No meio campo, Moutinho e Carlos Martins têm vindo a jogar e foram chamados por mim. Raul Meireles passou a médio defensivo, porque também tinha mais ritmo competitivo. Na frente Ronaldo voltou após lesão, enquanto Nani e Hugo Almeida continuaram no onze", explicou.
"Para além disso era necessário ser equilibrados e rigorosos em tudo o que fazíamos fora do campo, cumprindo as regras e sendo exigentes nas tarefas do dia a dia. Tudo foi aceite pelos jogadores e assim conseguimos uma boa exibição e resultado frente à Dinamarca, conseguindo depois também reagir às vicissitudes do jogo com a Islândia e ganhar", rematou.
Carta de Mourinho
A carta enviada por Mourinho a apoiar a Seleção Nacional também foi abordada: "Foi uma coisa que o Zé [Mourinho] decidiu fazer e que ajudou à motivação e toda a envolvência que é necessário ter para ajudar a Seleção Nacional. Gostei de a receber, mas sabemos que é preciso fazer mais coisas para chegar aos objetivos. Contudo, como grupo, gostámos muito de a receber."
Questionado sobre a possibilidade que chegou a ser aventada de Mourinho ficar ao leme, Bento foi humilde: "Já o disse. O melhor do Mundo ou Paulo Bento? Claro que fiquei feliz por estar envolvido desde início como possibilidade para comandar a Seleção."
Futuro com portas abertas
"As portas da Seleção estão abertas a muito mais jogadores. Depende do trabalho deles, mas ninguém pode pensar que as portas estão fechadas aos que não vieram para estes dois jogos. a convocatória foi feita para estes dois jogos, agora temos mais de um mês para observar jogadores, para ver o rendimento deles nos clubes, criar uma relação de proximidade com os jogadores e, acima de tudo, criar um leque abrangente de jogadores que podem servir a Seleção", explicou, depois de ser questionado sobre uma eventual base no grupo que comanda.
"Os meus critérios são simples. Convocar os que estão melhores para defender o prestígio da Seleção. Não pode haver lugar cativo para ninguém. É óbvio que há jogadores que fazem parte de uma base,mas também esses dependem do que fazem nos clubes", rematou sobre o tema.
Sem mágoa para com o Sporting
Judite de Sousa perguntou se Paulo Bento teria algum tipo de mágoa para com o Sporting, de onde saiu. O treinador manteve-se fiel à sua palavra no dia do adeus aos leões: "Não guardo mágoa, mas sim orgulho por ter representado um grande clube como jogador e como treinador. Vejo a minha saída como um fator normal no futebol e não tenho qualquer tipo de mágoa."
"O futebol português vive problemas em termos financeiros e mesmo assim consegue competir com grandes equipas. Para mim o mais importante tem a ver com a questão da Seleção Nacional. De há uns anos a esta partes estamos habituados a ver Portugal fazer boas figura nas grandes competições e é isso que temos de fazer. estar no Euro'2012 e depois fazer boa figura. Para isso precisamos dos clubes portugueses e também dos internacionais com atletas portugueses", explicou depois.