Três dias passaram desde o caso de racismo ocorrido no Paris SG-Basaksehir e, mais a frio, Pierre Webó lembrou tudo o que viveu naquela noite de Liga dos Campeões. Numa longa conversa com o 'Daily Mail, o adjunto do conjunto turco assume que naquele momento, quando foi alvo das palavras da polémica por parte do quarto árbitro, se transformou em alguém totalmente diferente por uns cinco a dez segundos. Diz ter ficado fora de controlo e aproveitou a oportunidade para enaltecer a forma como os jogadores de ambas as equipas bateram o pé para mostrarem a sua solidariedade.
"Ao ouvires a minha voz agora consegues perceber que estou mais calmo. Mas quando vejo a minha cara, ao ver o vídeo, o que fiz, fui tão agressivo... Até eu não iria enfrentar aquele tipo, porque estava mesmo muito agressivo. Foi a primeira vez que me vi daquela forma. Não me lembro de nunca ter tido uma situação daquelas", começou por lembrar.
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Olhando ao incidente de racismo propriamente dito, Webó diz que Sebastian Coltescu poderia ter feito as coisas de forma diferente e impedir toda aquela confusão. "Olhando à minha posição, era muito mais fácil dizer 'eh, é o terceiro, fora!'. Era fácil. Mas também foi fácil para ele dizer aquilo que disse. Para quê utilizar aquela palavra? Foi difícil ouvi-la por parte de um árbitro. Foi um choque. Vinda de alguém que deve estar no controlo de todas as situação, um quarto árbitro de um jogo de Liga dos Campeões. É um jogo de alto nível e aí precisamos de ter pessoas de alto nível. Temos de ter em atenção aquilo que dizemos no campo. Tal como aqui, enquanto falamos, tenho de ter atenção ao que digo".
E se aquilo que Coltescu disse o surpreendeu, também a tomada de posição dos jogadores o deixou de boca aberta. "Quando me vim embora não sabia o que se estava a passar no campo. O Rafael veio ter comigo e disse 'parámos o jogo e não queremos jogar mais'. Eu respondi 'o quê? Não vão continuar a jogar?'. Trinta segundos depois, toda a equipa se veio embora. Perguntaram-me como estava. Estava muito nervoso. Não queria dizê-lo naquele momento...", assumiu.
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Quem também acabou bastante afetado pela situação foi o filho do antigo internacional camaronês. "Ele vê todos os jogos da equipa. Estava muito entusiasmado por ver o tipo de jogadores que iriam jogar e depois aconteceu aquilo... Falamos sempre após os jogos e ele disse-me 'papá, lamento imenso'. Foi muito duro. Vi-o muito abalado. Disse-lhe para não ficar assim, para ser mais forte e agora está muito melhor".
Um dos episódios marcantes para Webó foi também a solidariedade prestada pelos jogadores do Paris SG. "Neymar, Marquinhos e o Leonardo ligaram-me, estavam ali no corredor. 'Lamentamos tudo isto, mas tens o nosso apoio. Não te preocupes, estamos contigo e não vamos jogar. Não aceitamos este tipo de palavras no futebol', disseram-me. Não me apercebi até sair do balneário, mas foi incríve. O Neymar, Mbappé, Diallo, todos os jogadores estavam ali... Saí porque o Leonardo me ligou para falar com ele e quando saí estava tudo em silêncio. Todos ficaram focados em mim. Quero agradecer ao Paris SG, aos jogadores, ao clube e a todos os que estavam lá, pela solidariedade que demosntraram. Estou muito orgulhoso pela sua atitude e quero agradecer-lhes por tudo, pois estive totalmente descontrolado por uns 5, 10 segundos", assumiu.
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Elemento do Programa Educacional para Jogadores Internacionais da UEFA, ao lado de outras figuras como Didier Drogba, Emile Heskey, Kolo Toure and John O'Shea, Webó lembra aquilo que alguns dos elementos do painel lhe disseram e recordou que a palavra 'respeito' é uma das bandeiras da UEFA. "Quando ouvi aquelas palavras [ditas pelo quarto árbitro] pensei que talvez fosse necessário avançarem para alguns cursos especiais para os árbitros. Os meus colegas e os meus mentores disseram-me que aquilo era inaceitável haver algo deste tipo na UEFA. O respeito que têm escrito nas mangas das camisolas... este incidente é o tipo de coisas que não aceitamos".
Ainda assim, Webó deixa claro que muito já mudou. "Estão a fazer um esforço enorme. Reduziram imenso em relação ao passado. Mas ainda se pode fazer mais. Parar com estas campanhas e tomar uma solução definitiva. Uma solução que trave estas coisas, porque o futebol é muito importante, pois une pessoas e nações. A UEFA sabe o que tem de fazer e creio que vão tomar as decisões certas nesse sentido. O futebol é uma grande plataforma no Mundo. É tudo. E vimos isso mesmo nestes tempos de pandemia, que sem futebol foi tudo muito difícil", acrescentou o camaronês.