José Herculano avalia clima dos jogos de Portugal: «Em Sochi haverá impacto térmico»
Preparador físico do V. Setúbal na última época passou pelo Lokomotiv e conhece bem a Rússia

O Mundial da Rússia encerra em si uma particularidade poucas vezes vista nas anteriores edições: a dimensão do país, o maior do mundo em área, obrigará as 32 seleções presentes a longas viagens, numa prova cujas duas cidades-sede mais distantes estão separadas por seis horas de avião, ou mais de três mil quilómetros (e atenção que a competição joga-se somente na parte europeia da Rússia!). São, por isso, três fusos horários e climas muito díspares que podem influenciar o rendimento dos futebolistas.
Portugal começará já hoje a ‘provar’ essas diferenças térmicas, num embate entre duas equipas com abordagens diferentes ao clima. "Espanha, em Krasnodar, foi para um clima mais quente, treinando-se em temperaturas superiores às que vai encontrar nos três jogos da fase de grupos. Portugal, ao escolher Kratovo, trabalha num clima mais ameno ao nível da preparação. Em Sochi haverá impacto térmico e existe o problema de a temperatura mais baixa lá ser a mais alta em Moscovo. Se o jogo fosse às 15h locais, Portugal podia apanhar 32 graus. Mas o jogo é às 21h, o que é menos mau, embora haja alguma humidade que pode aumentar as sensações de calor. Tivemos sorte com o calendário nesse aspeto da hora", começou por dizer José Herculano, preparador físico do V. Setúbal na última temporada e que fala com conhecimento de causa, pois passou pela Rússia em 2011/12, ao serviço do Lokomotiv Moscovo, atual campeão russo.
À memória vêm, de imediato, as dificuldades por que Portugal passou no Mundial de há quatro anos, em que a preparação no Brasil foi muito criticada. "Em Campinas a temperatura em que Portugal se preparou tinha uma maior amplitude térmica entre o local de treino e o local de jogo. Aqui não. O nosso último jogo nessa edição foi mesmo no pior clima, aqui será o contrário, pois Portugal jogará em Saransk, num clima mais parecido ao de Moscovo. Os jogadores vão ter melhores sensações na partida que poderá ser decisiva para o apuramento", sublinha José Herculano, frisando que, na primeira fase, o acumular do cansaço é inverso aos problemas que o clima pode trazer.
Elogios ao quartel-general e aviso para ‘oitavos’
A opção tomada pelo Centro de Treinos de Saturn – como Record adiantou, a FPF ‘reservou-o’ pouco depois do Euro’2016 – merece aplausos. "Quando treinei na Rússia era dos melhores centros de estágio. Num país de extremos, penso que a Federação equilibrou as contas com a escolha de Kratovo. Ficou com uma preparação mais equilibrada (viagens, clima, qualidade das acomodações). Não teria feito diferente", referiu.
Porém, com a entrada do verão e o acentuar do calor, o clima pode, aliado ao cansaço acumulado, assumir um papel ainda mais preponderante. E Portugal, consoante o seu desempenho na fase de grupos, terá algo a dizer nesse aspeto. "A grande questão é se passar em segundo lugar. A temperatura vai ter mais influência com o passar da competição e Portugal ficando em segundo voltará a Sochi nos oitavos-de-final", alertou Herculano.
Dicas para fazer face ao clima
Fruto da sua experiência na Rússia – onde até provou maiores disparidades ao nível do clima, pelo facto de o campeonato local não se cingir somente à parte europeia do país -, o ex-preparador físico do Lokomotiv deixa algumas dicas para contrariar os problemas que o calor e a humidade podem trazer.
PREVISÕES PARA OS TRÊS JOGOS DE PORTUGAL*
SOCHI (hoje, 19h00)
Temperatura: 27ºC
Céu limpo
Humidade: 66%
MOSCOVO (20 junho, 13h00)
Temperatura: 22ºC
Céu parcialmente nublado
Humidade: 45%
SARANSK (25 junho, 19h00)
Temperatura: 23ºC
Céu parcialmente nublado
Humidade: 65%
*À hora do início do encontro