Os 25 anos da queda do Muro de Berlim, ocorrida a 9 de novembro de 1989, foram assinalados no passado domingo um pouco por toda a Alemanha e não só. Aquele que foi um dos principais eventos históricos do século passado proporcionou a reunificação germânica, menos de um ano depois – celebrada a 3 de outubro –, e mudou a forma como vemos o Mundo. De então para cá as mudanças foram muitas, sobretudo para os alemães, mas as diferenças subsistem entre a região que constituía a chamada RDA e o resto da nação.
Segundo os últimos dados, o rendimento “per capita” na zona leste é apenas 66% (em 1991 era de 43%) do que se regista a oeste e os alemães orientais ganham, em média, menos 780 euros do que no Ocidente. O desemprego é também mais elevado (9,1% contra 5,8%), apesar de se registar o valor mais baixo desde a reunificação (em 2005 a taxa era de 18,7%). E se 75% dos alemães orientais consideram que a reunificação foi vantajosa, só 48% dos ocidentais veem mais vantagens do que desvantagens.
No desporto e, em particular, no futebol, a separação entre as duas regiões é clara. Em Berlim, o Hertha – da zona ocidental da cidade – continua a ser o único clube a alguma vez ter disputado a 1.Bundesliga, pois jamais uma equipa do Leste o conseguiu. Mas, no geral, o cenário não é diferente. Apenas quatro clubes oriundos da antiga RDA chegaram à elite do futebol germânico e desde 2008/09 que não se vê futebol de primeira liga no Leste da Alemanha.
Queda acentuada
A situação atual é bem esclarecedora quanto às diferenças entre as duas regiões. “Não é preciso dar muitas voltas para perceber a realidade do futebol do Leste quando seis das melhores equipas de então estão agora na 3.ª divisão”, referiu Eduard Geyer, o último selecionador da RDA, à agência DPA, considerando que a diferença é “irrecuperável”. Como exemplos, podemos falar do Dynamo Berlin ou do Lokomotive (depois VfB) Leipzig – o primeiro foi 10 vezes campeão da RDA (recorde) e está agora no 3.º escalão; o segundo foi à final da Taça UEFA em 1987 e está... extinto. Ou do Stahl Eisenhüttenstadt, vencedor da última Taça, agora nos distritais e a jogar para 150 espectadores.
O facto de os clubes passarem de ser financiados integralmente pelo Estado antes da reunificação para uma economia de mercado então inexistente na região leste explica as dificuldades, tal como a fuga dos melhores talentos para os clubes mais fortes da zona ocidental. “Nem tudo teve a ver com a reunificação”, admitiu Matthias Sammer, antigo internacional pela RDA e pela Alemanha e agora diretor desportivo do Bayern Munique, apontando erros de gestão. Mas começa a existir esperança. Seja o Union Berlin, o Aue ou mesmo o RB Leipzig, os únicos clubes de Leste no 2.º escalão.
Dresden e Rostock mas pouco mais
Com a reunificação, os dois primeiros classificados do último campeonato da RDA (1990/91) integraram a 1.Bundesliga: o Hansa Rostock (o campeão) e o Dynamo Dresden (o que conquistou mais troféus, com 8 títulos e 7 taças da RDA). O primeiro resistiu mais tempo, com duas descidas pelo meio, mas o segundo nunca se recompôs após a despromoção em 1995, e está no 4.º escalão; já o Hansa Rostock disputa o 3.º. O desaparecido VfB Leipzig e o Energie Cottbus – o último a cair, em 2009, e atualmente na 3.ª divisão – foram as outras equipas a integrar a elite do futebol alemão, mas com passagens fugazes. Esperam-se melhores dias...
RB Leipzig e Union Berlin estão na corrida por um lugar ao sol
Com apenas três clubes no 2.º escalão, não parece fácil vermos na próxima época a região leste da Alemanha representada entre a elite. Mas o português Sérgio Pinto acredita. “Não demorará muito. O RB Leipzig [7.º] e o Union Berlin [13.º] querem subir e têm condições para isso. Especialmente os primeiros, pois têm o apoio da Red Bull. Subiram este ano e o objetivo era chegar à 1.Bundesliga no próximo ano, mas podem fazê-lo já. Financeiramente não têm problemas, têm forte apoio numa cidade importante e um estádio muito bonito”, revelou o veterano médio do Fortuna Düsseldorf, também na luta pela promoção, num campeonato “muito equilibrado e espetacular”.
Filão parece esgotado após muitas promessas
A reunificação alemã, menos de um ano depois da queda do Muro de Berlim, permitiu à seleção germânica – que acabara de se sagrar campeã mundial – a chegada de reforços. Franz Beckenbauer, o então selecionador, afirmou mesmo que a Alemanha seria “invencível” nos anos seguintes. Não foi isso que aconteceu. A Mannschaft precisou de mais 24 anos para voltar a festejar um título mundial e só foi campeã europeia em 1996. É que a integração dos futebolistas de Leste não tem sido fácil. Logo no primeiro jogo, Matthias Sammer foi o único titular vindo da ex-RDA e Andreas Thom saiu do banco para marcar um dos golos frente à Suíça (4-0) a 19 de dezembro de 1990. De então para cá, um total 37 jogadores chegou à seleção vindos do Leste, alguns com grande protagonismo: além de Sammer, Michael Ballack ou Bernd Schneider tornaram-se incontornáveis, destacando-se ainda Kirsten, Heinrich, Jeremies, Linke ou Jancker, sem esquecer o ex-benfiquista Enke. Mas, com o advento do novo milénio, o filão começou a falhar e os últimos anos demonstram-no: se no Mundial’2002 havia sete jogadores de Leste na equipa, em 2006 esse número baixou para quatro e Toni Kroos foi o único em 2010 e 2014.
Kroos contra a corrente
Entre os jogadores ainda em atividade, só há sete internacionais alemães oriundos da ex-RDA. Mas com reais possibilidades de fazer parte das escolhas de Joachim Löw são apenas dois: Marcel Schmelzer, lateral-esquerdo do B. Dortmund que tem sido chamado esporadicamente, e Toni Kroos, um dos craques da Mannschaft e que alinha no Real Madrid.
O médio de 24 anos é natural de Greifswald, próximo de Rostock, foi o primeiro jogador nascido após a queda do Muro a chegar à seleção principal e é uma bandeira da sua região mas também a maior figura da equipa. Como outros talentos nascidos no Leste, Toni deixou muito cedo a terra natal para crescer em Munique – trocou o Hansa Rostock, onde era treinado pelo pai, pelo Bayern em 2006, com 16 anos.
Desde que Kroos e Schmelzer se estrearam, em 2010, só Maximilian Arnold – já nascido após a reunificação – foi chamado por Löw. E quando confrontado com o facto de ter sido o único jogador de Leste na equipa campeã mundial, a resposta de Toni Kroos foi esclarecedora: “É verdade que sou o único? Então, provavelmente, serei o último.”
NÚMEROS
2 - títulos internacionais (Euro’96 e Mundial’2014) conquistados pela principal seleção alemã após a reunificação. Nos 20 anos anteriores, a então RFA ganhara dois Mundiais (1974 e 1990) e dois Europeus (1972 e 1980)
6 - clubes do Leste da Alemanha que jogam no 3.º escalão, entre eles três históricos da ex-RDA: Hansa Rostock, Energie Cottbus e Dynamo Dresden
7 - internacionais pela RDA que alinharam, depois, pela Alemanha unificada: Matthias Sammer, Andreas Thom, Ulf Kirsten, Thomas Doll, Darius Wosz, Heiko Scholz e Dirk Schuster
Stanisic assistiu para os golos de Boniface (14') e Patrik Schick (74')
Nenad Bjelica lamentou o facto de a equipa não ter conseguido levar os três pontos para Berlim
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