Um relatório de fiscalização policial cujo resultados foram conhecidos esta terça-feira indica que a polícia foi culpada de "complacência, negligência e esforço concertado" na tragédia de Hillsborough, que em abril de 1989 causou 97 vítimas mortais durante um jogo de futebol no Estádio Hillsborough, em Sheffield (Inglaterra), entre Liverpool e o Nottingham Forest.

Após 36 anos de luta na justiça, as famílias e amigos das 97 vítimas mortais receberam as conclusões de uma investigação de 14 anos realizada por um órgão de fiscalização policial sobre a conduta da polícia.

Doze polícias, a maioria deles de alta patente, deveriam ter enfrentado processos disciplinares por má conduta grave devido a falhas registadas naquele dia no estádio.

O órgão de fiscalização constatou ainda que os polícias tentaram minimizar as responsabilidades, desviando a culpa para as vítimas, os adeptos do Liverpool.

Nas investigações que se seguiram à tragédia, e ainda de acordo com este novo relatório, os polícias responsáveis "pela investigação também demonstraram parcialidade ao tentar proteger os seus colegas, adulterando provas e apresentando conclusões que levaram as famílias a descrever o processo como uma "tentativa de encobrimento" policial.

“O que eles [familiares das vítimas] tiveram que suportar ao longo de mais de 36 anos é motivo de vergonha nacional”, pode ler-se no relatório.

O órgão de fiscalização policial identificou 12 policiais que "têm que responder" por conduta gravemente inadequada. Mas nenhum deles enfrentará processos disciplinares, pois todos ou estão reformados ou já morreram.

Nenhum polícia foi condenado por qualquer crime relacionado com o desastre de Hillsborough, e nenhum enfrentou processos disciplinares enquanto estava em serviço.

O desastre de Hillsborough, em Sheffield, aconteceu em 15 de abril de 1989 e provocou a morte, por esmagamento, a 95 adeptos do Liverpool e ferimentos em 766. Dois outros envolvidos no incidente morreram no ano seguinte e em 2021.

Com o Estádio Hillsborough, com capacidade para 54 mil espetadores, praticamente lotado, mais de 2.000 adeptos do Liverpool que foram assistir ao jogo com o Nottingham Forest foram autorizados a invadir uma área em pé atrás de uma baliza e a abertura de alguns portões para aliviar o fluxo provocou o esmagamento.

Um inquérito original registou vereditos de morte acidental, que as famílias das vítimas se recusaram a aceitar.

Esses vereditos foram anulados em 2012, após uma investigação abrangente sobre o desastre que examinou documentos anteriormente secretos e expôs irregularidades e erros cometidos pela polícia.

O hooliganismo predominou no futebol inglês ao longo da década de 1980, e houve tentativas imediatas de atribuir a culpa aos adeptos do Liverpool e defender a operação policial.

Uma falsa narrativa que culpava os adeptos alcoolizados, desordeiros e sem bilhetes do Liverpool foi criada pela polícia, que só foi revertida pela campanha incansável das famílias enlutadas. E que agora este relatório vem comprovar.