«Há coisas que não aguento mais... facas, cigarros acesos, correntes de metal»: a dolorosa história de Oksana Masters

Solidária com Ucrânia depois de ter sido vítima de abusos e do acidente nuclear em Chernobyl

Oksana Masters, considerada um ícone do movimento paralímpico, despediu-se dos Jogos de Pequim com sete medalhas: três no biatlo (duas de ouro e uma de prata) e quatro no esqui cross-country (uma de ouro e três de prata). 

No total da carreira, participou em seis Jogos Paralímpicos (Londres'2012, Sochi'2014, Rio'2016, Pyeongchang'2018, Tóquio'2020 e Pequim'2022), conquistando 17 medalhas, distribuídas por quatro modalidades, remo, ciclismo, biatlo e esqui cross-country, sendo a norte-americana de maior sucesso nesta edição.

Mas Oksana Masters, com o nome de nascimento Oksana Alexandrovna Bondarchuk, nascida em Khmelnytskyi, na Ucrânia, está incomodada com o que se passa no seu país de origem.

"Tem sido difícil encontrar a minha paixão e o meu desejo de competir nestes Jogos no meio da guerra que o meu país natal, a Ucrânia, está sofrendo" , escreveu Oksana Masters, de 32 anos, nas redes sociais.

"Sinto-me egoísta, impotente e culpada por estar aqui. No entanto, sempre tive muito orgulho em ser ucraniana, ao ver a bandeira ucraniana e agora, mais do que nunca, tenho o maior orgulho em dizer que sou ucraniana. A minha mãe sempre disse que o meu coração ucraniano fez-me mais forte, fez de mim uma lutadora" , acrescentou a paralímpica.

A história de vida de Oksana Masters tem tido no seu trajeto muitos traumas físicos e psicológicos, sendo que o desporto acabou por ser uma espécie de salvação para se manter motivada.

A paralímpica nasceu com inúmeras malformações na cidade ucraniana de Khmelnytskyi, afetada pela radiação do acidente da central nuclear de Chernobyl em 1986. Como consequência, vive apenas com um rim, tem seis dedos em cada pé e nas mãos não tem o topo do polegar. A sua perna esquerda é 15 cm mais curta que a direita, sem o osso da tíbia, pelo que, aos 9 anos, foi-lhe amputada uma perna acima do joelho e, cinco anos depois, perdeu a outra.

As cicatrizes do seu percurso de vida não se ficaram por aqui, segundo as revelações públicas, em março de 2020, por meio de um vídeo intitulado 'Survivor'.

Masters divulgou pela primeira vez o abuso físico, emocional e sexual contínuo que sofreu na Ucrânia, sendo que, em janeiro de 2021, publicou uma carta, revelando ter sido uma vítima nos sete anos e meio que passou em orfanatos durante a sua infância.
 
"A coisa mais difícil é dizer em voz alta é que 'fui abusada'. Ainda há partes da minha história que me lembro como se fosse ontem. Lembro-me de como eram os longos corredores, projetados para serem assustadores, tão frios que era normal ver a própria respiração. E sempre tudo escuro. Lembro-me da noite. A maioria das piores coisas aconteceram ao tardar da noite. Desde então, há uma lista de coisas que não aguento mais: facas, cigarros acesos, correntes de metal. Até hoje, não consigo receber uma massagem sem me assustar. Isso provavelmente dá uma ideia da situação."

A vida da atleta acabou por dar uma volta de 180 graus quando o norte-americano Gay Masters se cruzou na ua vida, dando uma chance à menina desnutrida e assustada. Sua adoção e mudança para os Estados Unidos mudaram sua vida. 

"A minha mãe salvou-me a vida. Ela abriu tantas portas para eu passar e me apaixonar pelo mundo. Ela é a razão de eu estar aqui e nunca poderei compensá-la por tudo o que ela fez por mim", confessou.
 
Oksana Masters é hoje uma mulher renascida, que até se considera com sorte. "Sei que, no final das contas, tive sorte porque o que aconteceu comigo foi o que me levou à vida que tenho agora", reflete, dando graças à sua mãe e ao desporto. 

A primeira vez que ouviu falar sobre os Jogos Paralímpicos foi em 2008, após pesquisa no Google. "Nunca tinha ouvido falar, nem sabia que poderia tornar-me uma atleta paralímpica. O desporto fez-me ver como o meu corpo tem um poder que nunca deve ser subestimado", rematou.
Por Alexandre Reis
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