A ÚLTIMA etapa do Campeonato Nacional de Skate, vertente "street", foi emoção até o último minuto para saber quem seria o campeão da temporada na categoria profissional. Jovens revelações apimentaram as disputas com nomes mais consagrados e quem ganhou foi o público que antes de conhecer o líder assistiu ao espectáculo no Pavilhão da Parede, concelho de Cascais, no passado fim-de-semana, altura em Ricardo Fonseca passou o ceptro, que teve por cinco temporadas consecutivas em suas mãos, ao amigo Francisco Lopez, este uma revelação de outros tempos, mas que só agora galgou o posto mais alto da hierarquia "skater".
"Tudo foi resultado de um grande esforço e trabalho de muito tempo", declarou Francisco, também conhecido como França, um pouco atordoado com a inesperada notícia. O pódio desta quarta prova do Nacional foi igualmente uma surpresa não fosse o primeiro classificado um estreante na categoria profissional: Carlos Neves, campeão nacional amador, em 99. Carlos exibiu grande técnica nas suas manobras e Francisco Lopez, que demonstrou um certo nervosismo nas duas "runs" finais, ficou em segundo, acabando por estabelecer um empate técnico com Ricardo Fonseca.
"O ranking é formado a partir dos três melhores resultados de cada atleta e neste sistema França e Ricardo tiveram um empate técnico, que foi resolvido comparando-se a pontuação da pior etapa de ambos", explica Dulce Pereira, do Radical Skate Clube, organizador do evento. Neste caso Ricardo alcançou um oitavo lugar, seis postos abaixo de França, que se sagrou assim campeão.
"Ganhar é bom, mas nunca espero a vitória porque ando de skate por gosto, daí este campeonato ter-me dado uma dupla felicidade e estou ainda um pouco sem palavras para transmitir o que sinto", diz Francisco, admitindo a pressão que passou antes da prova decisiva.
"Tentei isolar-me da competição e da possibilidade de vir a ser campeão, mas foi muito difícil porque há sempre algumas pessoas a lembrar-nos de que o momento é decisivo, deixando-me um pouco reticente das coisas não correrem bem", prossegue o campeão.
MaturidadeCom muito "fair play", Ricardo Fonseca acolheu o seu primeiro vice-campeonato após cinco épocas consecutivas no topo da hierarquia skater street – "é como o Porto", brincou. Era ele o grande favorito ao título, embora estivesse bem aquém da sua performance do passado ano, quando foi mais assíduo ao primeiro lugar do pódio.
Recuperado de uma séria lesão na cabeça, sofrida no semestre passado, o ex-campeão mostrou também "menos consistência", como definiu França, facto que acabou por abrir espaço para outros valores do cenário nacional, como Rodrigo Pimentão – vice-campeão em 99 por uma diferença de dois pontos de Ricardo e vencedor da primeira etapa deste Nacional –, Carlos Neves – uma das revelações da temporada – e ainda Bernardo Osório, este a sustentar o "show" observado na prova final com toda a sua experiência de mais de onze anos no desporto.
Francisco Lopes reconhece os adversários que teve de bater para chegar ao topo, mas aceita o título de campeão como mero acaso do destino: "Calhou ser eu campeão este ano, mas o Ricardo é o verdadeiro campeão porque é um skater que anda a anos luz acima de todos nós, apenas não foi tão consistente", declara França para em seguida lembrar que o skate para o Ricardo, assim como para ele, é bem mais que um desporto, "é um modo de estar na vida, daí não poder avaliar um praticante pelas provas e sim pelas suas atitudes".
E nisto Ricardo tem a sua quota-parte quitada: "Hoje em dia eu ando para mim e não tenho nada a provar a ninguém". França sim, e depois de anos a correr o circuito nacional pôde dar o presente que devia à sua mãe: "Este trofeu é todo dedicado à minha mãe que sempre me apoiou."
«Passerelle» de novos talentosA prova máxima do skate nacional foi o cenário perfeito para catapultar novos talentos como Carlos Neves, vencedor da última etapa em profissional, e Lucas Resende, campeão da prova e detentor do título 2000, em amadores. Lucas está na sucessão de Carlos na liderança da classe intermediária, mas não pensa estrear-se entre os “pros” na próxima temporada - "penso que preciso de mais tempo", disse.
Carlos é de Almada e Lucas, de nacionalidade brasileira, é de Portimão, onde ingressou na modalidade há cerca de três anos. Admirador de Bernardo Osório e de Ricardo Fonseca ("este porque abusa muito"), o novo líder da categoria amador tem apenas 15 anos e só lamenta a falta de espaços apropriados onde mora para a prática do skate.