Dani Rodrigues iguala recorde de Daniel Silva no Europeu de golfe
4.º lugar no Campeonato da Europa Individual Amador quebra um jejum nacional de 35 anos

Entre Daniel e Dani passaram 35 anos. O recorde nacional de Daniel Silva, um dos melhores golfistas portugueses de todos os tempos, estabelecido em 1986 e 1988, foi finalmente igualado por outro compatriota, curiosamente, um homónimo.
Daniel da Costa Rodrigues foi 4.º classificado no Campeonato da Europa Individual Amador, na Estónia, um ano depois de ter sido 9.º no Europeu de Espanha, tornando-se apenas no segundo português a somar dois top-10 em Europeus. O seu 4.º posto repete também os tais históricos 4.º lugares de Daniel Silva nos Europeus de 1986 e 1988, classificação que Gonçalo Pinto repetiu em 2012. Dani é, por isso, o terceiro português a obter um 4.º lugar neste Europeu.
Fazer dois top-10’s em Europeus é notável por parte de Dani. O seu antecessor, Daniel Silva, fê-lo no século XX, e conquistou depois um torneio do European Tour, sendo um dos três únicos portugueses a vencerem na primeira divisão do golfe profissional europeu, a par de Filipe Lima e Ricardo Santos.
"Estou orgulhoso de representar o meu país. Quero que as pessoas se habituem a pensar em grande no que toca ao golfe português. Nada me faz mais orgulhoso do que representar o meu país nestes palcos e de ver o orgulho das pessoas em mim a fazê-lo. Gratidão é aquilo que sinto. E não vou parar por aqui", prometeu Dani Rodrigues a Record, depois de um sensacional resultado de 18 pancadas abaixo do Par.
O jogador da seleção nacional amadora da Federação Portuguesa de Golfe (FPG) já tinha ameaçado no ano passado, quando tornou-se apenas no quinto português a alcançar um top-10 num Europeu, então realizado em Espanha. Na altura, em declarações a Record, dissera que o 9.º lugar (-1) poderia ter sido ainda melhor: "É uma competição de grande prestígio e estou orgulhoso do que fiz, mesmo sabendo que poderia tê-la vencido".
Há uma semana, depois de outro resultado histórico – os oitavos de final no British Amateur –, quando estava de partida para a Estónia, assegurou-nos: "Estou preparado para mais uma semana, no Europeu Individual, onde só quero pensar no sucesso".
Nem no ano passado, nem na semana passada estava a fazer ‘bluff’. Não era bazófia. Bem pelo contrário, o português de 20 anos andou no último dia no 2.º lugar, lutando pelo título até ao fim. Daniel da Costa Rodrigues acabou por terminar o Europeu no grupo dos 4.º classificados, com 270 pancadas, 18 abaixo do Par do Pärnu Bay Golf Links, após voltas de 64, 65, 69 e 72. O ex-campeão nacional amador empatou com o inglês Jack Bigham (65+66+68+71) e com o irlandês Hugh Foley (67+63+70+70).
O jogador que representa em Portugal o Club de Golf de Miramar, em Vila Nova de Gaia, e nos Estados Unidos a Texas A&M University, andou sempre nos lugares cimeiros: após a primeira volta era 6.º (-8), a meio do torneio era 3.º (-15), no final da terceira ronda era 4.º (-18) e foi com essa mesma classificação e o mesmo resultado que concluiu a prova.
Eis como analisou a sua própria prestação: "Foi um começo muito bom, mas as condições (também) estavam propícias a esse tipo de resultados! Estive muito calmo a semana toda, sabendo que poderia ganhar o torneio, não precisando de fazer nada mais do que aquilo que sei fazer. Estive confortável o torneio todo. Na última volta, as condições fizeram com que o campo estivesse completamente diferente. O vento estava algo que há muito tempo que não via. Ventos cruzados no campo todo fizeram com que fosse muito difícil fazer birdies. Joguei muito sólido e, sabendo que iria ser complicado fazer muitos birdies, tentei aproveitar ao máximo as oportunidades. Sinto que trouxe um pouco mais para casa do que um 4.º lugar. No último buraco perguntei ao Hugo (Camelo), que estava de meu caddie, o que poderia fazer. Ele disse-me que eu estava em 8.º e eu quis um final melhor do que esse. Joguei o driver do tee e madeira-3 no segundo shot, para tentar trazer para casa um resultado mais digno. Consegui o birdie e foi um sentimento de dever cumprido, porque arrisquei ficar (eventualmente) de fora do top-10, mas fui recompensado com um top-4", afirmou.
O feito de Daniel da Costa Rodrigues merece todos os encómios e junta-se a uma esteita lista de grandes resultados nacionais no Europeu Individual Amador: 1986, Daniel Silva, 4º; 1988, Daniel Silva, 4.º; 2012, Gonçalo Pinto, 4.º; 2023, Daniel da Costa Rodrigues, 4.º; 2005, Ricardo Santos, 7.º; 2014, Tomás Silva, 9.º; 2022, Daniel da Costa Rodrigues, 9.º; 2013, João Carlota, 11.º; 2014, Ricardo Santos, 13.º.
No entanto, é importante salientar a boa prova de Pedro Cruz Silva, o outro português que passou o cut, terminando no grupo de sete jogadores que repartiram a 50.ª posição, com 280 pancadas (70+68+66+76), -8. Entre 144 jogadores de 37 países, foi uma bela prestação.
O atual campeão nacional amador, que este mês tentará revalidar o título, também representa Miramar e, tal como Dani, também estuda e compete nos Estados Unidos, no seu caso na Mississipi State University. Os outros jogadores portugueses inscritos no Europeu não passaram o cut e obtiveram os seguintes resultados: João Pereira (Aroeira) com 212 pancadas (70+70+72), -4; Vasco Alves (Oporto) com 214 (71+70+73), -2; Hugo Camelo (Miramar) com 229 (77+79+73), +13. Os jogadores foram acompanhados pelo selecionador nacional, Nelson Ribeiro.
O Campeonato da Europa Individial Amador na Estónia teve a curiosidade de coroar como campeão um companheiro de outro jogador português numa universidade norte-americana. Com efeito, o espanhol José Luís Ballester – ou Josele, como gosta de ser chamado em catalão – foi esta época ‘sophomore’ na Arizona State University, tal como Kiko Matos Coelho. Ballester, de 19 anos, somou 267 pancadas (62+66+66+73), -21 e liderou o Europeu no final de todas as voltas. Bateu por 2 pancadas o dinamarquês Mads Laage (65+67+66+71) e o galês James Ashfield (64+64+71+70).
Na atribuição das medalhas de prata e de bronze, prevaleceu o sistema de desempate que referia-se aos melhores últimos 36 buracos, daí o 2.º lugar de Laage e o 3.º posto de Ashfield. Aliás, o mesmo sistema de desempate, aplicado a todos os outros jogadores, coloca Daniel da Costa Rodrigues no 6.º lugar, por ter piores últimos 36 buracos do que os jogadores com que empatou no 4.º posto.
Foi um dia importante para Espanha, pois não tinha um campeão europeu a nível individual desde o famoso Sergio Garcia em 1995. E Josele Ballester está a tornar-se um caso muito sério a nível amador, pois é a sua segunda medalha de ouro em Europeus. No ano passado, foi campeão da Europa na competição entre seleções nacionais e foi ele a assegurar o ponto da vitória de Espanha no Campeonato da Europa Amador por Equipas, disputado em Royal St. George's, em Inglaterra. O título individual desta semana garantiu-lhe um prémio muito especial: um convite para jogar na 151.ª edição do The Open Championship (vulgo British Open), em Royal Liverpool, em Inglaterra, daqui a três semanas.
"Será o meu primeiro grande torneio a nível profissional e logo no maior de todos, com os melhores jogadores do Mundo. Nem posso esperar para estar com eles e aprender mais sobre este jogo", declarou Ballester ao site oficial da Associação Europeia de Golfe.