Opinião
Rui Milagre Amaro

União solidária sem rumo

A leitura e interpretação do comunicado lançado cerca de uma hora antes do jogo com o Famalicão, dificultada pela manifesta incapacidade de quem o redigiu em exprimir com clareza a mensagem que pretendeu transmitir, permite contudo concluir que a Direcção reuniu ontem para avaliar o momento desportivo do Clube, quer no futebol profissional quer nas modalidades.

A referência às modalidades é um ponto único que começa e termina na redacção da palavra, sintomático do que significa para a Direcção de um Clube que sempre fez do ecletismo um dos seus pilares estruturantes.

PUB

Já relativamente à equipa de futebol profissional, ter-se-ão "examinado circunstâncias, discutido resultados e identificados factores que os influenciaram", resultando deste processo uma "mensagem de apoio de todos os elementos da Direcção aos jogadores e equipa técnica".

Todos os Benfiquistas apoiam SEMPRE todos os que de Manto Sagrado envergado disputam provas em qualquer campo ou pavilhão, em Portugal ou no estrangeiro. E todos os Benfiquistas exigem e merecem explicações de viva voz dadas por Luís Filipe Vieira, não estas prosas vazias de conteúdo ou paixão, cada vez mais intrínsecas à comunicação da marca Benfica. Porém, o presidente do Clube está em silêncio desde a conquista da Taça da Liga de futebol feminino, e ainda não entendeu ser relevante dar qualquer explicação de viva voz aos sócios sobre o fracasso, até agora, da temporada do futebol profissional.

O comunicado da Direcção prossegue referindo que foram abordadas estratégias para lidar com a crise desportiva e financeira, evocando-se a pandemia, e sublinhando a "firmeza, empenho, militância e solidariedade dos presentes" para enfrentar a situação.

PUB

Autor: Rui Milagre Amaro, sócio do Benfica e membro do Movimento Servir o Benfica

Não é particularmente surpreendente que uma Direcção empossada há pouco mais de três meses mantenha no seu seio tal unanimidade. Menos ainda porque todos os que a constituem são figuras absolutamente indissociáveis, agora ou no futuro, de Luís Filipe Vieira e da liderança por si exercida. Surpreende sim a necessidade de reforçar de forma tão vincada tal união que seria, como já referi, expectável...

Expectável seria também a situação financeira que actualmente vivenciamos, em plena pandemia, quando Luís Filipe Vieira levou a cabo um investimento faraónico no futebol profissional, ao contrário dos cortes substanciais feitos em praticamente todos os clubes mundiais, e ao contrário da política seguida em épocas anteriores em que o plantel foi paulatinamente depauperado, ano após ano, apesar do contexto financeiro favorável que então se apregoava. Nessa altura, Vieira respondia a quem exigia um investimento à altura das ambições desportivas do Benfica que "um demagogo qualquer investia, não resultava, e a queda era grande".

PUB

Luís Filipe Vieira e a sua Direcção prometeram um "mandato desportivo". Foi reforçado o orçamento do futebol profissional. O projecto falhou. É uma leitura possível nas entrelinhas do comunicado de ontem. Virá agora a proposta de um novo ciclo, de reajuste financeiro adaptado às circunstâncias, apenas com pouco mais de um trimestre decorrido do primeiro ano de mandato?

A conclusão é clara: não há rumo, não há projecto. Há navegação à vista e ao sabor do vento, sem planeamento e sem vitórias desportivas, tudo agudizado por uma expectável crise financeira. Os pressupostos pelos quais esta Direcção terá, alegadamente, reunido a maioria dos votos dos Benfiquistas alteraram-se. Nestas circunstâncias, Vieira e a sua Direcção devem, "solidariamente", ponderar seriamente o futuro do seu projecto.

Relativamente às tristes mas habituais palavras dispensadas a quem ousa pensar diferente do que é aparentemente aceitável por quem escreveu o comunicado, fica uma certeza:

PUB

Jamais os sócios deixarão o Benfica eternamente entregue a quem dele crê ser dono.

Autor: Rui Milagre Amaro, sócio do Benfica e membro do Movimento Servir o Benfica

Por Rui Milagre Amaro
Deixe o seu comentário
PUB
PUB