Num momento em que se aproximam as eleições para a presidência da Liga Portugal, impõe-se um exercício de transparência. E esse exercício começa, inevitavelmente, por José Mendes. O atual Presidente da Mesa da Assembleia Geral é, ao mesmo tempo, candidato à presidência executiva. E isso, por si só, já seria razão para desconforto. Mas pior: continua em funções. E é aqui que tudo se complica.
Há perguntas simples que todos devíamos estar a fazer – e que José Mendes tem a obrigação de responder.
Primeira pergunta: já apresentou a renúncia ao cargo de PMAG da Liga?
Se sim, ninguém deu por isso. Se não, é difícil compreender porquê. Como pode um candidato dirigir os trabalhos de um processo em que ele próprio participa? Que legitimidade pode ter para arbitrar um jogo em que joga?
Segunda: se ainda não apresentou a renúncia, quando vai apresentar?
Porque há um limite para o “deixa andar”. Cada dia que passa sem uma clarificação pública mina a confiança de muitos clubes, sobretudo daqueles que se sentem, desde já, em desvantagem.
Terceira: põe sequer a hipótese de se manter no cargo de PMAG se perder as eleições?
Se for esse o plano, então estamos perante algo mais grave. Que moral teria para continuar a presidir à Assembleia Geral um candidato rejeitado pelos associados? Como poderá depois arbitrar disputas institucionais com independência e autoridade?
E por fim: não considera estranho ser o rosto que conduz a AG, quando é simultaneamente apoiado por uns clubes e claramente rejeitado por outros?
É legítimo questionar se haverá mesmo condições para liderar com imparcialidade os trabalhos de um processo onde há interesses tão diretamente ligados à sua candidatura.
Estas não são acusações. São perguntas legítimas, que merecem respostas claras. A democracia no futebol profissional também se faz disto: da separação entre quem concorre e quem organiza, da ética no exercício de cargos, do respeito por todos os clubes – e não apenas por quem está do nosso lado.
A ausência de respostas já diz muito. Mas ainda vai a tempo de mudar isso.
Por Paulo Lopo