Pedro Brinca
Pedro Brinca Professor de Economia

Já é um Benfica diferente

As eleições de sábado para os órgãos sociais do Sport Lisboa e Benfica foram uma demonstração extraordinária da vitalidade e desejo de participação cívica da sua massa associativa. Foram, segundo creio, as segundas mais concorridas da história do associativismo desportivo, ultrapassadas apenas pelo Barcelona, com 55 mil votantes. Devo desde já fazer uma declaração de interesse: fiz parte da lista B como candidato a vice-presidente da direção e faço parte do movimento Servir o Benfica. E digo faço e não fiz, porque o movimento Servir o Benfica nunca foi, não é, e creio que nunca será, um projeto de ambição de poder. É, antes de mais, um movimento cívico de pessoas que amam o Benfica e que acreditam num conjunto de ideias e ideais que são fundamentais para o clube num âmbito de continua participação associativa e que não se extingue com o fim do processo eleitoral mesmo que Francisco Benitez tivesse sido eleito, como o próprio afirmou no dia das eleições. E por isso afirmei que o movimento, antes sequer de se terem contados os votos, já tinha ganho

Porque como foi referido aqui no Record na semana passada, parte da estratégia eleitoral da Lista A foi incorporar no seu programa, muitas das ideias do movimento. Desde à reformulação do regulamento eleitoral, limitação de mandatos, alteração dos estatutos, auditoria forense, à abertura dos canais de comunicação do clube às varias listas candidatas,ao retorno do ciclismo e ter planteis mais curtos e competitivos. Isto teria sido um problema se o movimento Servir o Benfica fosse um projeto de ambição de poder. Uma vez que não o é, sendo antes um projeto de transformação do Benfica, o acolhimento destas ideias pela Lista A – assumindo, como acredito que irá acontecer, que irão ser implementadas – foi um dos pontos positivos destas eleições, uma vez que desencadeou esse processo de transformação que o movimento desejava.

O Benfica de hoje, e até mesmo o Benfica antes das eleições de sábado, já é um Benfica bem diferente do que existia há uns meses atrás. Para isto contribuiu sobremaneira a enorme coragem de Francisco Benitez e da sua equipa, na qual me incluí demasiado recentemente para que possa reclamar qualquer parte significativa do enorme contributo que têm dado para o aumento da transparência e democracia no nosso clube.

Num contexto em que se sabia que a vitória era quase impossível, o sentido de benfiquismo e de dever cívico para o clube foi mais forte, quando se percebia que a pior coisa que podia acontecer ao clube seria uma lista de continuidade ir sozinha a eleições, depois de o seu maior símbolo ter sido preso e indiciado por crimes contra o próprio Sport Lisboa e Benfica. Seria um sinal de decadência cívica e democrática por parte dos associados inadmissível e impensável. Ao invés, estas eleições transformaram-se numa enorme manifestação do oposto: os sócios foram chamados e disseram presente, dando ao mandato de Rui Costa uma legitimidade e força que nunca teria, se tivesse sido apenas eleito por não haver alternativa.

Isto é tão ao mais importante porque ajuda Rui Costa a exorcizar o fantasma de Luís Filipe Vieira. Tendo sido por este designado como o seu successor, e após as declarações do mesmo durante o dia das eleições, a possibilidade de voltar para a liderança do clube seria sempre algo que não estaria fora de hipótese. No entanto, tendo Rui Costa sido eleito nas mais concorridas eleições da história do clube, a força e legitimidade democrática que ganhou tornam esse cenário muito mais difícil.

Rui Costa merece agora que, salvo alguma complicação que possa surgir pelos casos judiciais ainda a correr, ser julgado pelo que fizer a partir do ultimo sábado, e merece o apoio de todos os benfiquistas para que o seu mandato seja o melhor da história do Benfica.

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