A 'novela Neymar' tem feito correr rios de tinta e dado azo a todo o tipo de especulação mas nada neste processo aconteceu por acaso. O avançado brasileiro sabia exatamente o impacto que queria ter quando publicava no Instagram imagens em poses pensativas ou mensagens enigmáticas ou quando a horas do jogo com o Real Madrid (disputado na última madrugada) partilhou uma imagem tirada no restaurante Paris 6 Bistro. Houve sempre uma intenção. E o mesmo se pode dizer das vezes que o seu pai abriu a boca.
Desde o arranque da pré-temporada, a ‘máquina’ foi funcionando ao mesmo ritmo das exigências negociais. E como acontece sempre em casos desta dimensão com muitos tiros nos pés dados naturalmente por Neymar e por quem lhe sendo próximo só acabou por criar mais confusão.
Piqué - também ele um dos decidiu dar uma ‘ajudinha’ para criar ruído - definou ontem com clareza o que está em causa. Muito próximo do avançado brasileiro, reduziu tudo a "uma questão de prioridades". De facto, é disso que falamos. Mais do que os 220 milhões, o que importa discutir é qual é o sentido que faz Neymar pensar trocar umas das melhores equipas do mundo - onde joga ao lado de um dos melhores jogadores de sempre e que lhe dá amplas possibidades de conquistar troféus atrás de troféus - por uma claramente inferior num campeonato de menor dimensão.
Compreende-se que um jogador ainda com uma larga carreira pela frente e com muito mercado (o seu valor assim o permite) coloque os milhões à frente dos títulos? O jogo começa claramente a ficar invertido com prejuízo do que esteve sempre na sua raiz. São os títulos e a paixão que fazem os jogadores grandes.
O que Neymar não conseguiu fazer para já foi gerir bem a sua imagem - como se viu no episódio com Nélson Semedo no treino do Barcelona - ou por falhas de quem o aconselha ou porque gosta de ‘pisar o risco’, como já de viu em múltiplos episódios. Nestes dias não faltou quem lembrasse mais um do que um caso que mancharam a sua carreira.
Quando tudo for esclarecido muitas outras questões se colocarão e outras contas serão feitas. Ainda há dias, José Mourinho (embora não no contexto Neymar) manifestou-se perplexo pelos valores envolvidos neste mercado de transferências. E Guardiola reconheceu que há dois ou três anos não imaginava que fosse possível dar tanto por um futebolista (o Manchester City abriu e de que maneira os cordões à bolsa).
Está, pois. na altura de haver alguma regulação a bem da sobrevivência dos mais frágeis e da saúde financeira dos clubes, mesmo daqueles fazem tudo para contornar as regras do fair play financeiro. E já agora para que não se pague gato por lebre, com o espectáculo a sair prejudicado.
Por Sandra Lucas Simões