Visão de jogo

António Oliveira
António Oliveira

Diferença nos detalhes

No futebol contemporâneo todos os pormenores contam. Com a constante evolução, têm chegado novas metodologias à preparação das equipas e uma das áreas que mais tem evoluído é a do scouting (observação). Uma vertente que cada vez mais interfere ao nível do treino, dos jogos e do próprio mercado de transferências. Quem melhor conhece tudo o que se passa em seu redor, a nível individual e coletivo, consegue mais resultados positivos.

Os treinadores têm tido o auxílio dos departamentos de observação e análise de jogos. Esta ferramenta extravasa a questão tática e permite avaliar a prestação da própria equipa e dos adversários, dando importantes indicadores para a preparação e treino que são adotados durante a semana, dando respostas do que fazer nos jogos, das capacidades a melhorar, das lacunas a colmatar e de como reagir perante o oponente. De sistemas táticos a características específicas de cada jogador, deteção de pontos fortes e fracos, assim como análise detalhada de informação estatística, todo este material é tido em conta na forma como as equipas trabalham. Há cada vez mais ciência e método, com os clubes a recrutarem especialistas nesta área. O olheiro recolhe dados e filtra informação relevante para a equipa técnica, em consonância com as ideias do treinador, as dinâmicas do grupo (conhecendo bem as especificidades pessoais e profissionais de cada jogador) e o perfil dos alvos que se pretendem manter debaixo de olho.

Em jogos de ligas como a inglesa é mesmo habitual ver os clubes a colocar dois olheiros a observar a mesma partida, um focado na sua própria equipa e outro no adversário, estando estes em permanente comunicação com a equipa técnica. Uma tendência que rapidamente se está a espalhar por clubes de várias ligas europeias. Em paralelo, praticamente todos os clubes de topo internacional, incluindo os portugueses, têm hoje plataformas tecnológicas que lhes permitem, através do computador, aceder a informações sobre milhares de jogadores e clubes de futebol, observar vídeos sobre um determinado atleta ou jogos de uma certa equipa. Longe vão os tempos em que se conheciam jogadores através de cassetes. Faz parte deste staff técnico gerir tamanha quantidade de informação e transformar a mesma numa vantagem competitiva.

Este saber também é canalizado para o mercado de transferências, na procura de jogadores que possam interessar no futuro. E é talvez aqui que está o maior desafio dos clubes nacionais. Com esta democratização do conhecimento, a capacidade dos portugueses detetarem e valorizarem jovens promessas de mercados como o sul-americano, entre outros, está a ter agora a concorrência de clubes de primeira linha, que tentam antecipar a aposta em craques do futuro sem ter de pagar um valor maior a um clube intermediário. As contratações, por exemplo, de Gabriel Jesus pelo Manchester City e de Gabriel Barbosa pelo Inter Milão, dois dos maiores jovens talentos brasileiros, indiciam esta nova forma de estar.

Perante isto, os clubes portugueses terão de encontrar valores no seu próprio mercado, rentabilizando ainda mais a formação e tentar ser mais rápidos na identificação e aquisição de jovens promessas estrangeiras com potencial elevado, antes que cheguem ao radar dos tubarões europeus. Em equipas com menores argumentos financeiros, nem sempre é possível ter meios para isso, mas é um caminho cada vez mais decisivo. Num jogo como o futebol, a diferença faz-se nos detalhes.


O craque -- Ricardo cresce em França

Ricardo Pereira é um daqueles ‘canivetes suíços’ que dão imenso jeito a qualquer treinador. Joga nas duas faixas, a lateral ou extremo, e até a avançado, sempre com a mesma intensidade e qualidade. O jogador português é um dos protagonistas da equipa onde está o italiano Balotelli, que colocaram o Nice na liderança da liga francesa. A alinhar pelo corredor direito, o atleta emprestado pelo FC Porto tem feito uso da sua técnica e velocidade na linha para servir os colegas com várias assistências. As boas exibições colocam-no mais próximo da Seleção A.


A jogada -- Dragão tem coisas a melhorar

Para esta nova temporada, o FC Porto partia com o desafio de romper com alguns dos ‘pecados’ do passado recente de forma a ser mais competitivo: recuperar o equilíbrio defensivo, praticar um futebol mais consistente e aumentar a produção ofensiva. O primeiro ponto parece conseguido, a defesa estabilizou e ainda poderá otimizar processos. No entanto, a equipa tem ser mais forte e criativa no controlo dos jogos e na capacidade de finalização de modo a evitar deslizes. Tem de jogar mais no último terço do terreno e ganhar poder de fogo. Senão, pontos perdidos como os de Tondela podem custar caro no futuro.


A dúvida -- Infelicidades pós-Madrid

Depois da grande partida realizada a meio da semana, o Sporting deu um enorme tropeção em Vila do Conde, dando uma imagem muito distante da que foi deixada no jogo com o Real Madrid. Jorge Jesus é competente e tem qualidade, mas as declarações pós-Madrid do treinador não foram muito felizes, sobretudo a nível interno e pelo possível impacto negativo que poderão ter tido no próprio plantel. No entanto, este desaire abre outro ponto de reflexão: estaria o Sporting preparado para manter a bitola exibicional a jogar duas vezes por semana?





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