Renato Sanches é uma preciosidade e ninguém tenha dívidas de que vai tornar-se, dentro de poucos anos, num dos melhores e mais excitantes médios do futebol mundial. Foi, de resto, por acreditar nisso que o Bayern aceitou bancar um dinheirão por ele. Mas os alemães sabem estar a pagar pelo que ele vai ser e não apenas pelo que ele já é. O mesmo acontece com Fernando Santos. O facto de o selecionador ter aproveitado a ausência forçada de Bernardo Silva (que, já agora, bem útil seria a Portugal neste Europeu) para acrescentar o futebol bravio de Renato, não significa que deva esquecer que ele ainda joga com a casca de ovo na cabeça. Uma equipa boa tem de encontrar a justa medida entre o mínimo de ordem e o máximo de liberdade e Santos tem sido esperto na escolha dos momentos em que tenta rentabilizar o futebol simultaneamente indômito e desordenado de Renato. Claro que não é impossível incluí-lo no onze inicial, mas confiar que isso só terá vantagens e não comporta riscos é um absurdo quase tão grande como defender que os limites de velocidade potenciam os acidentes. A "Sanchesmania" é fácil de entender e explicar. Mesmo descontando os excessos aguçados pela clubite, salta à vista que o descaramento e os movimentos de rotura de Renato podem funcionar como um despertador numa equipa a quem tem faltado poder de intimidação. Mas ninguém pode zurzir um selecionador que gosta de conduzir com o cinto de segurança…
PS: Quaresma foi justamente glorificado, mas a história do jogo com a Croácia teria sido diferente se, instantes antes do golo providencial, Patrício não tivesse tido uma defesa com tanto de colossal como de recôndita (sim, porque a maioria nem percebeu que a bola esbarrou na luva e não na trave).