Nuno Encarnação
Nuno Encarnação

Há Toupeira!

Quando era miúdo e passava pela Mealhada rumo ao Porto, a paisagem era composta por placas escritas à mão com a famosa inscrição de "Há Leitão!".

Hoje em dia, pelo que lemos e pelas recentes acusações do Ministério Público de que o Benfica foi alvo, a placa "Há Toupeira!" pode e deve ser colocada numa das margens da segunda circular, sendo que do lado de lá, o "Há, mas são verdes" ainda perdura.

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As acusações que conhecemos no caso E-Toupeira são de uma gravidade extrema. Desmascaram uma rede tentacular, que tentava controlar tudo o que estaria ligado ao futebol profissional, misturando interesses pessoais e recompensas, a todos os que desse cálice bebiam. Pelo que se conhece através do Correio da Manhã, Paulo Gonçalves é acusado de 79 crimes, a SAD de 30, alguns de corrupção desportiva. Vieira terá tido conhecimento de tudo o que Paulo Gonçalves faria através do seu e-mail.

A pergunta que se faz é: quem era o mandante de Paulo Gonçalves? A resposta parece-me óbvia… A moldura penal é grave. O Ministério Público pede suspensão do clube nas competições desportivas. Perante tudo isto, resta-me perguntar porque é que não há demissões no clube, movimentações de sócios indignados, manifestações à porta da Luz, oposição visível à estrutura instalada?

Provavelmente esta rede é tão grande, que secou as oposições internas, engoliu-as e comprometeu a maioria das vozes que o poderiam fazer.

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Durante muito tempo me questionei: como é que pessoas com percursos importantes, sejam ex-ministros, jornalistas consagrados, magistrados, doutores de gravata, debitavam as cartilhas conhecidas todas as semanas, defendendo um bigode e não o clube? Cartilhas feitas por pessoas ligadas ao futebol, de argumentos pífios, de texto infantil, fomentando a suspeita nos outros. Agora percebemos que tudo está ligado. O poder espalhava-se, o amor ao clube era fator secundário, o interesse comum era muito.

Fosse com "avenças", com lugares na estrutura, com vouchers, com oferta de camisolas, com oferta de bilhetes com acesso a croquetes, cada um tinha o seu preço.

A procissão ainda vai no adro, tal como avisava recentemente Fernando Seara na BTV. O andor começa a pesar nos ombros de alguns. O andor cairá com estrondo, quem o leva fugirá do calvário como um rato e os ratos mudarão o seu discurso nos comentários que fazem. "Andor, andor", digo eu.

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Por Nuno Encarnação
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