Nuno Félix
Nuno Félix Scout internacional

Empatados na América

Os resultados do Porto (0-0 com o Palmeiras) e do Benfica (2-2 com o Boca) no arranque do Mundial de Clubes, não foram tropeções acidentais, são radiografias de fragilidades competitivas. 

Em Nova Jérsia, Martín Anselmi fez o sabe fazer, e parece não saber fazer melhor do que isto. A 15 minutos do fim, quando o rival já pedia ar, tirou Rodrigo Mora, o único que agitava, para meter Eustáquio e guardar o 0-0. Gestão? Não: ausência de ambição. O FC Porto construiu prestígio a esmagar rivais este jogar para «não perder» é trair esse ADN, e contradiz até as razões que presidiram à aposta no inexperiente técnico argentino.

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Se o treinador portista puxou o travão de mão, os jogadores do Benfica mal passaram do ponto morto. Em Miami, o Boca transformou o relvado num octógono de MMA : muito trabalho de braços, carrinhos tardios, e muitas "declarações de amor" entre dentes cerrados. Bons primeiros 10 minutos iniciais e logo após as papoilas saltitantes mirraram: centrais pouco activados, médios a evitarem o contacto, extremos sem dar linha de passe. Dois golos em dez minutos expuseram a falta de concentração competitiva e só a classe de Di María e o orgulho de Otamendi salvaram um ponto, um quase nada para quem se gaba de ter sido bicampeão europeu.

Os indícios não são bons: Boca e Palmeiras já pescam nos mesmos mercados, disputam os mesmos talentos, pagam quase os mesmos salários dos grandes de Portugal. Se Benfica e Porto não se impõem pelo ritmo, pelo rigor, nem pela personalidade, que mensagem passam a quem pondera trocar a América do Sul pela Luz ou pelo Dragão?

Agora restam dois jogos em grupos onde, pelo menos, o segundo lugar parecia acessível. O conforto do calendário tornou-se numa luta pela sobrevivência.

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Agora são duas vitórias ou o adeus prematuro a milhões e à exposição global de duas das maiores marcas e instituições nacionais. 

Se Anselmi continuar a jogar para não se perder pela terra prometida, e os titulares do Benfica não ligarem o chip do primeiro minuto ao último minuto, Portugal verá a festa do primeiro mundial de clubes apenas pela televisão – e os propalados «clubes com cultura de Champions» não passará de conversa fiada de flash-interview.

Por Nuno Félix
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