A luz intensa

Pedro Adão e Silva
Pedro Adão e Silva Professor Universitário

Campeão da Democracia

A "Liga Salazar" é o último exemplo de uma campanha insidiosa que tenta ligar o Glorioso ao Estado Novo e que é insultuosa para muitos que edificaram um clube plural e democrático. Vale a pena rememorar os que se fazem esquecidos e esclarecer os ignorantes.

O Benfica nasceu da vontade de um grupo de rapazes lisboetas de origem popular. Esse código genético contrastante deixou marcas: enquanto tivemos vários presidentes de meios oposicionistas (Félix Bermudes, Manuel Conceição Afonso ou Ribeiro da Costa), os nossos rivais eram presididos por figuras do regime fascista (Urgel Horta e Ângelo César no Porto; Casal Ribeiro e Góis Mota no Sporting). Não por acaso, após o golpe militar, o Sporting mudava o nome do Estádio para 28 de Maio, para mais tarde inaugurar Alvalade a 10 de Junho, e o Porto inaugurava as Antas a 28 de Maio; o Benfica, quando se transferiu para a antiga estância, recuperou o nome Campo Grande e fez questão de inaugurá-lo a 5 de Outubro. Mais tarde, a velha Luz abriria a 1 de dezembro, porque não ficara pronta a 5 de outubro. Quem conheça um pouco de história não terá dúvidas quanto ao simbolismo das datas.

Foi também o Benfica que viu o seu hino - Avante p’lo Benfica - proibido pela censura, numa altura em que os jogadores deixaram de ser vermelhos e passaram a encarnados.Durante a noite negra do fascismo, enquanto os sócios benfiquistas elegiam o Presidente, no Porto e no Sporting as direções eram escolhidas por conselhos de ex-dirigentes e notáveis.

Uma coisa é clara: o Benfica foi o campeão da democracia durante o Estado Novo. Continuamos fiéis a esse espírito, sem culto de Presidentes nem revisionismos do número de títulos ou data de fundação.

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