Contra a corrente

Ribeiro Soares
Ribeiro Soares

Arbitragens e suas análises (2)

Voltamos hoje a abordar a temática da avaliação de jogos, mas queremos deixar uma nota prévia, que reputamos fundamental: nada temos contra os comentadores do nosso jornal, Jorge Faustino e Marco Ferreira que – não me custa admitir –, sabem mais de arbitragem a dormir do que eu acordado, pesem embora os 70 anos que já tenho a ver futebol, como referi em artigo recente.

Nesse sentido, as análises que me permito fazer nas páginas digitais que me são disponibilizadas, apenas visam apontar discrepâncias – que até poderão passar despercebidas aos próprios –, no sentido da melhoria global das suas apreciações. E o mesmo se aplica a outros comentadores ou jornalistas, quando eventualmente criticados. É que estamos todos do mesmo lado da barricada e o que nos une, acima de tudo, é a qualidade do produto final, o prestígio do nosso jornal.
 

Assim, no que concerne ao jogo Braga-Sporting, da 19.ª jornada, parece que já foi dito tudo, quer sobre a actuação do árbitro Jorge Sousa, com que concordo na generalidade (em síntese, duplamente reincidente em falhas graves, sempre em prejuízo do Sporting), quer na apreciação global do jogo, de que discordo em variados aspectos.

Como a apreciação não diz respeito apenas à arbitragem, comecemos pelo jogo. Entendemos que, neste caso concreto, os jornalistas de Record não foram particularmente felizes na análise do que se passou.


De facto, a jogar fora de casa, o Sporting dominou em todos os factores em estudo, como seja o tempo de posse de bola (54 contra 46%), remates (15-13), cantos (9-5), foras de jogo (3-2) e faltas cometidas, naturalmente no sentido inverso (14-15). Note-se que grande parte da posse de bola aconteceu no meio campo adversário e faltou o registo dos remates enquadrados com a baliza, que o Sporting também teve em número superior.
 

Outro ponto é a nota atribuída aos jogadores das duas equipas, a começar pelos guarda-redes, ambos considerados as figuras das equipas. Enquanto a Matheus são assinaladas 3 intervenções de alto nível (duas no mesmo lance, junto ao poste esquerdo, a remates de Sporar sem ângulo), a Luís Maximiano são referidas 6 defesas, todas a remates desferidos de posições frontais, sendo metade de dentro da área, numa percentagem de 86% (dados do desempenho), além de não ter tido qualquer culpa no golo sofrido. Sem pôr em causa a nota 4 atribuída a Matheus, porquê apenas 3 a Max?


O mesmo em relação aos jogadores mais recuados: os 5 do Sporting (Coates, Ristowski, Neto, Battaglia e Borja) foram todos "corridos" a nota 2 (total 10 pontos), sem ter sido minimamente em conta que quatro deles levaram amarelo ainda na 1.ª parte; já os 5 do Braga levaram nota 4 (Bruno Viana) ou 3 (Wallace, David Carmo, Esgaio e Sequeira), total 16 pontos sem qualquer amarelo, e o próprio Bruno Wilson, que jogou só 23 minutos, teve nota 2, aliás merecida.


Se juntarmos as notas dos guarda-redes dá 13 contra 20! Será que num jogo repartido mas com evidente domínio do Sporting, um golo justifica tal diferença?  E é de destacar que, na fase final do jogo, a vitória bracarense só foi assegurada pelo "autocarro" postado à frente da baliza, com defesas e médios dentro da área, de tal forma que Matheus não terá feito uma única defesa nos últimos 15 minutos; e os tímidos contra-ataques não conseguiram ultrapassar a linha média do Sporting, aliás com poucas unidades, já que estavam 5 avançados em jogo e mais Coates a ponta de lança.

Não têm sido raras estas avaliações tão exigentes dos jogadores do Sporting, mesmo em caso de vitória, se bem que se possa entender pela preponderância que Bruno Fernandes tinha em todo o processo de jogo. Veremos qual passará a ser o critério a partir de agora.

No que concerne à avaliação da arbitragem, concordamos com as análises feitas pelos comentadores aos cinco casos em apreciação, salvo com o amarelo a Wendel, uma vez que poderiam ter admitido a hipótese de vermelho directo. Mas nesse caso admitimos que Jorge Sousa, depois do que tinha feito, já não teve coragem...


Quanto à nota 3, por unanimidade, só pode ter sido com muita água benta. Mas, principalmente – e como tem acontecido com alguma frequência – os avaliadores foram muito generosos ao considerarem que a arbitragem de Jorge Sousa não teve influência no resultado. Só três factos a desmenti-lo: (i) a falta assinalada a Sporar quando já seguia isolado para a baliza; (ii) as 3 "oportunidades" (três!) que deu a Galeno para levar 2.º amarelo (e consequente vermelho), a mais grave no final da 1.ª parte, num critério muito discutível e em contradição com o rigor que teve para com os jogadores leoninos; (iii) a ter acontecido, o Braga teria jogado toda a 2.ª parte com 10 e o jogo teria sido, de certeza, muito diferente; até porque, como reconheceu o próprio treinador, a equipa, mesmo com 11, acabou de rastos, pois tinha jogado para a Liga a meio da semana.

Em suma, mais uma vez o Sporting com muitas razões de queixa e a crítica, implacável, a desvalorizar as incidências do jogo.

 

Uma nota final: Cristiano Ronaldo faz hoje, 5 de Fevereiro, 35 anos. Parabéns!

 

* Antigo colaborador de Record (1991/97) e último Director da Gazeta dos Desportos   (1995); escreve segundo a antiga ortografia
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