Completam-se hoje dois anos sobre a data em que iniciámos um segundo ciclo de colaboração com Record, interrompida desde 1997. Após 52 artigos publicados na edição online, o Contra a corrente chega ao fim, por manifesta falta de tempo para manter uma colaboração regular.
Nesta hora de despedida importa fazermos uma reflexão sobre o que então nos propusemos, através de uma postura crítica mas sem nos eximirmos a elogiar, quando foi caso disso.
Foi uma janela de oportunidade, que não desperdiçámos e que terá tido o seu ponto mais alto no artigo publicado em 19 de Setembro de 2018 sobre a Liga das Nações, que elogiámos mas propusemos um formato diferente, com 48 países distribuídos por três divisões com quatro grupos de quatro equipas cada, e os restantes sete a disputarem uma única poule de acesso ao patamar superior: tal como vai ser a próxima edição, o que nos dá uma enorme satisfação, embora não possamos garantir que tenhamos sido os primeiros a sugeri-lo.
Reflectimos principalmente sobre o futebol jogado dentro das quatro linhas e confirmámos que entrámos em choque com algumas ideias instaladas ao apontarmos as três principais lacunas, que continuam por eliminar: a falta de verdade desportiva, o anti-jogo e o jogo passivo, e a exiguidade de golos.
Nesse sentido desejaríamos que, nos próximos 10 anos, fossem adoptadas algumas das medidas que fomos sugerindo, a começar pela cronometragem exacta, com relógios à vista de todos (incluindo os jogadores), para cuja implementação apenas falta vontade política de quem tenha poder e o assuma plenamente. Mas também o lançamento lateral, a ser feito com os pés; o fora de jogo, eliminando a “ditadura do centímetro”, principal responsável pelas demoras de VAR; os empréstimos de jogadores no mesmo nível competitivo; a nomeação dos árbitros, para que cada um só pudesse apitar dois jogos de cada equipa, um em casa e outro fora, um na 1.ª e outro na 2.ª volta; os 3 pontos por vitória (à partida todos os jogos são iguais, mas uns valem 3 pontos e outros apenas 2...); as substituições (porque não 5, com possibilidade de reutilização de 2 dos substituídos?); e as dimensões dos campos da I e II Liga, já que alguns (Aves, Covilhã e outros, com 100x64m) chegam a ter menos 740m2 (10% do espaço) do que os 105x70m ou, no mínimo, 105x68m (7.350m2 ou 7.140m2, respectivamente) que deviam ser obrigatórios em todas as competições de elite.
Dedicámos vários artigos às faltas cometidas e sua deficiente interpretação (nomeadamente do jogo perigoso); às demoras resultantes da sua marcação e da reposição da bola em jogo; à excessiva protecção dos guarda-redes a queimarem tempo, continuando impunes depois de amarelados; ao VAR, elogios à sua implementação e críticas a alguns retrocessos, como foram as recomendações aos árbitros portugueses para evitarem a banalização dos penaltis, quando o que se impõe é a sua marcação em todas as situações faltosas, ainda que possam ser 10 ou 12 nalguns jogos (como é no basket?... e ninguém reclama!); e à Taça de Portugal, criticando o facto de as meias-finais serem disputadas a duas mãos (porquê?) e a repescagem de equipas eliminadas na 1.ª eliminatória (algumas acabaram por chegar longe), fácil de resolver com o aumento da participação de equipas dos Distritais.
Meditámos também sobre Atletismo, modalidade que soube aproveitar muito bem a evolução tecnológica mas, lamentavelmente, ainda não a fez chegar aos saltos (comprimento e triplo), em que a tábua de chamada continua a provocar saltos nulos; e onde poderiam ser encontradas novas formas de competição, fora do programa olímpico, como corridas contra-relógio e o salto em altura com estilo obrigatório (tesoura, rolamento ventral e outros), susceptível de melhorar os anteriores records, pulverizados com o aparecimento do fosbury flop, nos Jogos Olímpicos de 1968, no México.
Outros temas ficaram por tratar no futebol, como as fórmulas de desempate, dimensões das balizas (inalteradas desde os tempos em que a altura média dos guarda-redes não chegava a 1,80m), pontapés livres, disciplina e organização de campeonatos (com avaliação das percentagens de subidas de escalão face ao número de concorrentes, como acontece com o Campeonato de Portugal – 3 em 80 – agravada pela disputa do 3.º promovido); e também pela máxima “o erro também faz parte do jogo”, novamente suscitada por dirigente saudosista; e pela necessidade de uma justiça desportiva mais actuante, rápida e credível.
Continuaremos a fazer a leitura diária do nosso jornal para acompanharmos os êxitos desportivos das equipas nacionais a nível internacional, em todas as modalidades; dos atletas portugueses em grandes competições, designadamente dos olímpicos e paralímpicos; e dos nossos melhores treinadores e jogadores que actuam em equipas estrangeiras, elevando o nome de Portugal a níveis nunca dantes atingidos. Fazemos votos também pela elevação do nível de competitividade dos campeonatos internos, nomeadamente através da mais equitativa distribuição de receitas, quando for caso disso.
Agradeço a todos quantos tiveram paciência para lerem os meus textos, quer os que me elogiaram e deram força para continuar; mas também aos que, de forma mais crítica, me apontaram os erros e me obrigaram a estar mais atento e a procurar ser mais perfeito.
Continuarei disponível para participar, pontualmente, em qualquer iniciativa de Record onde for entendido que a minha modesta colaboração possa ser útil. Termino agradecendo a oportunidade que me foi dada, ao longo de oito anos, para colaborar no mais prestigiado jornal desportivo português, fazendo votos pelos maiores êxitos, pessoais e profissionais, de todos quantos nele trabalham.
E reitero esses agradecimentos e esses votos aos ilustres directores, Rui Cartaxana e João Marcelino (1991/97), António Magalhães e Bernardo Ribeiro (2018/20), que deram corpo a essas oportunidades.
* Antigo colaborador de Record (1991/97) e último Director da Gazeta dos Desportos (1995); escreve segundo a antiga ortografia
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