De pé para pé

Rui Dias
Rui Dias Redator e repórter principal

Leãozinho com futuro grandioso

Tem todas as qualidades dos futebolistas de baixa estatura, para quem o corpo é um motor de fuga, nunca lugar de colisão. Podence transporta critério e inteligência, armas que sustentam a resposta a qualquer circunstância do jogo. Jorge Valdano definiu estes jogadores, que constituem um desafio às leis da mecânica, como "personagens de Walt Disney metidos em coisas sérias". O avançado sportinguista é um gladiador em miniatura, que aceita a marcha atrás quando leva a sexta metida – e no futebol só uma rápida mudança de velocidade surpreende tanto quanto a fantasia dos predestinados. Tomislav Ivic dizia que Rui Barros tinha a qualidade tremenda de converter-se instantaneamente de avançado em defesa e vice-versa, acrescentando que "futebolistas como ele solucionam melhor o problema da falta de espaços".

O jovem leão pode atingir o nível do antigo portista, expressando-se pela fricção, pela disponibilidade física, pela coragem e pela capacidade notável para sair vencedor dos sucessivos duelos que provoca por todo o terreno. O caráter vigoroso, de resto, é um dos traços psicológicos mais comuns em jogadores de baixa estatura e os especialistas vêem nisso um fenómeno reativo para compensar a aparente desvantagem da escassez de centímetros.

Podence é um jogador de acelerações explosivas e travagens violentas, que tira adversários da frente com facilidade não por ser um extraordinário driblador mas pela apuradíssima noção de tempo e espaço; da posição de companheiros e antagonistas, bem como da situação global em que o jogo se encontra. Explora até aos limites o repentismo de ações que, parecendo inofensivas à partida (a baliza está muito longe), se transformam em verdadeiras tormentas para quem procura travá-lo. Ao contrário de outros, que fazem bluff com todo o corpo e enviam informação equivocada aos marcadores, derruba não pela mentira mas pelo instinto, pela rapidez de execução e de deslocamento. E também pela cumplicidade estabelecida com os parceiros, sendo verdade que, quanto maior for, mais perto estará de cumprir os objetivos – o poder de persuasão sobre os outros pode mover montanhas.

Tem do jogo uma visão coletiva, sinal de que, acreditando nas armas individuais que possui, prefere pensar nas vantagens do jogo combinado, mesmo que ainda lhe falte amplitude e continuidade. Sendo um desequilibrador notável, recusa a candidatura a herói solitário; abdica do exibicionismo gratuito e de quaisquer exercícios descontextualizados do jogo, sempre em nome dos mais sagrados interesses da equipa; é um animal competitivo por natureza, que se entrega à luta sem reservas, toma quase sempre as melhores decisões e entende o futebol como um jogo para levar a sério e não tanto como espetáculo ou expressão de arte. A virtude para ele não é embriagar a plateia com truques mas contribuir com máxima eficácia para a glória do golo e a felicidade da vitória.

Jorge Jesus assumiu o desígnio de transformá-lo no Saviola do Sporting e o leãozinho tem pela frente um futuro grandioso. É uma proposta arrojada, cujo êxito põe à prova a arte, o engenho, a convicção e a paciência do treinador; mas também o talento, a inteligência, o caráter e o sentido de responsabilidade do jogador. A história tem tudo para ser brilhante mas está ainda em fase embrionária, mesmo que lançada em alicerces muito promissores. Podence já conquistou o direito a ser potencial parceiro de Bas Dost no eixo do ataque verde e branco. Agora, não há caminho para trás. Só não pode deslumbrar-se com êxitos parciais nem deprimir-se com dificuldades transitórias, seguro de que, aos 21 anos, continua em fase de aprendizagem, à procura de consolidar a integração numa grande equipa como o Sporting e, de um modo mais amplo, no próprio futebol português.


Xadas será um caso sério

O Sp. Braga tem um dos jogadores mais interessantes do futebol português

Xadas é a prova de que, quando o talento se cruza com a confiança do treinador, tudo pode acontecer. O jovem bracarense é um tratado de bem jogar futebol, com um pé esquerdo magistral, visão larga do jogo e soluções técnicas para todos os gostos. E, não menos importante, revela aos 19 anos a maturidade, a sabedoria e a regularidade de quem parece já ter chegado aos 30. Será um caso sério.


Alex Telles tem muito para dar

É um lateral-esquerdo notável, que não perde para nenhum outro em Portugal

Alex Telles entrou a todo o gás e está longe de ser uma surpresa. Depois de uma temporada marcada pela afirmação como lateral moderno, intenso, forte na defesa e talentoso no ataque, o brasileiro parece ter dado continuidade ao trabalho desenvolvido como se não tivesse beneficiado das férias entretanto. Aos 24 anos tem ainda muito para dar ao FC Porto: na forma de talento ou de muitos milhões de euros.


Vai longe o rapazinho

Dirigir um Barça-Madrid aos 31 anos é como ser internacional A aos 13 anos

CR7 recebeu a bola, virou-se para a baliza e levou Umiti com ele; desequilibrou-se, sofreu um toque, caiu e pediu penálti. O árbitro, De Burgos Bengoetxea, é bom sabermos o nome, mostrou-lhe o 2.º amarelo e expulsou-o. E é bom sabermos por uma razão: não devemos distrair-nos com juízes demagogos, incompetentes, perversos, preconceituosos e que se julgam o centro do Mundo. Vai longe o rapazinho.

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