De pé para pé

Rui Dias
Rui Dias Redator e repórter principal

O maestro que também toca piano

Sobre ele não há a menor suspeita de ter mais afetos do que os merecidos. Nunca foi um bem-amado. Impensável substituto de Enzo Pérez no Benfica de 2014/15, foi sempre um jogador com défice de carinho e, em muitos casos, de mero reconhecimento exterior pelo nível que atingiu. Pizzi que, na temporada passada, assumiu o surpreendente papel de interlocutor das estrelas mais brilhantes da constelação encarnada (Salvio, Gaitán, Jonas e Lima), superou as dúvidas e exerceu influência determinante no arranque para o título, desempenhando um papel que, até então, lhe era desconhecido. O treino e o jogo constituíram refúgio de inspiração e encaixe para as considerações menos abonatórias de quem o viu e analisou como figura menor. O arranque da nova época não confirmou logo a excelência do que já conseguira. Precisou de uma oportunidade à 11.ª jornada, em Braga, para se tornar titular indiscutível, precisamente na fase que deu início à retoma benfiquista na Liga.

Os relâmpagos de talento que emite não são enquadrados pelo engano mas pela perfeição. Não é o drible deslumbrante, o truque ou a mentira avulsa que melhor o caracterizam; a sua especialidade é manter a equipa a funcionar, agregando a esse lado mais mecânico a sumptuosidade de o fazer vendo buracos onde quase todos só veem muros inexpugnáveis. Se o toque está para o futebol como a palavra para a sociedade, Pizzi é um fantástico promotor de diálogo. Dele não se devem esperar malabarismos retóricos mas o primor de uma intervenção sábia, com excelentes resultados práticos. Resta agora saber o que fará Rui Vitória quando em vez de estratégia pretender talento individual, verticalidade e desequilíbrio; quando em vez de um pensador disfarçado quiser velocidade pura junto às linhas; no fundo, quando achar que deve abdicar de uma solução mais elaborada e paciente por outra mais instantânea e contundente que contemple a utilização de Gaitán, Salvio, Gonçalo Guedes e Cervi.

Pizzi

No Benfica de Rui Vitória, Pizzi é o maestro desviado do centro do palco; o cérebro que dirige a orquestra a partir de zonas laterais, de onde concebe e executa em nome de harmonia, coesão e talento. Porque tem ampla visão periférica e entende o jogo como um todo, feito de vasta cadeia de acontecimentos que convém antecipar, a esmagadora maioria dos foguetes que faz estrepitar tem conotação coletiva. Porque entende o futebol e as suas chaves como desporto em que cada um precisa de todos para se realizar na plenitude, funciona como gestor da manobra global ainda que, nas novas tarefas que lhe foram conferidas , seja frequente vê-lo em ações mais avulsas na exploração do flanco. Pizzi não administra o jogo dos flancos como fazia David Beckham, para quem um simples pontapé na bola abreviava quatro ou cinco passos na aproximação à baliza. O transmontano sai do flanco para dentro (sugerindo a subida do lateral) e vai trocando a bola à espera do momento para fazer a diferença, tomando quase sempre as melhores decisões à custa de um notável instinto simplificador.

Quando chega à linha de fundo, levanta a cabeça e coloca a bola para o último toque, Pizzi acrescenta dotes de solista aos que revela com a batuta na mão. Sendo o denominador comum das soluções criativas, exerce fora do lugar mais próprio (o meio do terreno) mas, em vez de se diminuir, acrescenta argumentos ao vasto reportório de músico excecional: toca piano com a eloquência dos grandes executantes e, se for preciso, como agora se viu ao selar o triunfo no Estoril, anuncia a festa ao toque do bombo - e vão 5 golos na Liga, lançando vitórias sobre Sp. Braga, V. Setúbal e Marítimo. Se Renato Sanches é o motor que põe a máquina a funcionar e lhe confere coesão atrás e soluções à frente, Pizzi é um gerador e multiplicador de futebol no último terço do campo. Tornou-se um jogador precioso.


Sérgio Conceição
deu a resposta
O eventual interesse portista foi visto como vitória antecipada em Guimarães

Sérgio Conceição pode ser bom ou mau treinador (e eu acho que é bom); saber muito ou pouco para exercer a função (e é daqueles que sabem mais); ter um futuro brilhante ou não (e cá para mim chegará longe). Seja como for daqui para a frente, nunca poderá ser posto em causa na sua honorabilidade, na sua honra, no seu caráter, no seu orgulho e na sua competitividade. O resto foi, simplesmente, um nojo.

Um guarda-redes
que vale pontos
Nem todos cumprem a obrigação de dar pontos às equipas que representam

Kritciuk pertence aos guarda-redes aptos a defenderem grandes potências e que, no fim da época, são responsáveis por boa parte do sucesso dos exércitos que defendem. Aos 25 anos possui todas as qualidades físicas da juventude e já lhes agregou aquelas que só o tempo estimula e consolida. É um guarda-costas feito de agilidade, reflexos, coragem, inteligência e sobriedade. Na Liga não há muitos como ele.

O impressionante
União de Norton
Uma noite levou seis em P. Ferreira e quase lhe puseram as malas à porta

Norton de Matos cometeu duas proezas: ressuscitou de uma morte anunciada e levou o União de uma condenação precipitada a meio da tabela. O jogo com o Marítimo foi impressionante, porque a superioridade foi total - raramente a vantagem numérica é aproveitada com tanta eficácia. A vitória no dérbi madeirense foi por 1-0 mas três ou quatro não seria escandaloso. Uma enorme prova de competência.
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