De pé para pé

Rui Dias
Rui Dias Redator e repórter principal

O percurso fantástico de Rui Vitória

Enquanto levou uma equipa desacreditada até à liderança do campeonato, valorizando o laboratório que é o treino e o sagrado espaço de intimidade que é o balneário, Rui Vitória viu a imagem degradar-se pelo modo leve e ignorante com que foi discutido como treinador – um dia, confrontado com situação semelhante, César Luis Menotti afirmou publicamente que lhe bastavam 5 minutos à mesa de um café para "desmascarar e reduzir à insignificância" os detratores que o punham em causa com argumentos sem sustentação, muitos deles infantis. A verdade é que não só sobreviveu à voragem de uma sociedade que só reconhece ganhadores, como se atreveu ainda a recusar o fracasso anunciado e a construir as bases de um percurso para o sucesso em que poucos acreditavam. Mas tão relevante quanto o trabalho diário, RV tem sido impressionante pelo discurso limpo, articulado e com ideias no lugar; rico no conteúdo, claro nas intenções e imune às polémicas para as quais foi sendo sucessivamente convocado.

É justo atribuir mérito a quem comandou a construção de uma equipa que passou a ganhar com autoridade, em permanente superação, contra todo o género de adversidades, assente no orgulho de ser profissional e representar o Benfica. O vínculo com o símbolo, a bandeira e o passado tem servido também para consolidar referências definitivas na memória coletiva. Esse é o legado pelo qual RV luta de águia ao peito, de forma a concretizar a proposta aglutinadora de várias sensibilidades. O novo líder da Liga é uma equipa com sentido de aventura (marca a um ritmo alucinante), orientado por uma ideia sedutora (vocação ofensiva clara), que valoriza os alicerces da formação (Renato Sanches, Gonçalo Guedes, Lindelöf, Ederson e Nélson Semedo não o deixam mentir) e travou boa parte do despesismo de tempos recentes. RV conferiu à história o rumo de uma liderança dialogante, que uniu a família e deu sentido aos valores humanistas que orientam inabaláveis convicções técnicas e táticas.

O Benfica 2015/16 corresponde ainda ao resultado de uma ampla cadeia de apoio, que sustenta com tecnologia e domínio científico a evolução da equipa. A tão referida estrutura encontrou agora as condições e o momento ideais para revelar toda a utilidade e reclamar louros pelo bem-estar coletivo. Mesmo sabendo que a força maior da recuperação pertence aos jogadores, que têm transformado os treinos em aulas apetecíveis de aperfeiçoamento de competências e crescimento, importa dar mérito à máquina benfiquista. Só assim RV e seu exército resistiram ao início de época titubeante que agitou as hostes; às palavras nem sempre bem-educadas do principal adversário; às três derrotas com o Sporting; aos 8 pontos de atraso do primeiro lugar.

Pelo trabalho efetuado em condições desfavoráveis; pela convicção com que defendeu as suas ideias; pela cumplicidade estabelecida com jogadores e adeptos; pelo modo genuíno como se expressou, sempre com elevação, num cenário de guerrilha sem lei, RV já garantiu direito a figurar como um dos maiores protagonistas da temporada. Ultrapassado o embate da inadaptação mútua, dos bloqueios comunicacionais que entupiram a mensagem e das reservas universais que dificultaram a assimilação dos métodos e o reconhecimento exterior, tornou-se um rosto de sucesso e esperança. A perfeição do trabalho tem sido tão grande que, sem ceder um milímetro àquilo em que acredita, RV conquistou o povo, atingiu os quartos-de-final da Champions, assumiu a liderança da Liga e, a oito jornadas do fim, fez do Benfica o principal candidato ao título – prova de que, mesmo quando seguia a 8 pontos do primeiro, já percorria o caminho que havia de levá-lo ao topo. Aconteça o que acontecer até ao fim da Liga, RV já é um dos grandes vencedores da época.


Schelotto luta por lugar ao sol

O concorrente de João Pereira tem revelado armas para discutir o lugar

Schelotto é um lateral de passada larga e presença constante nas ações ofensivas pelo flanco direito. Não derruba por surpresa, porque vai sempre, mas cria embaraços porque mantém intensidade e dinâmica de princípio ao fim. A essa dimensão física impressionante, o argentino junta naturais imprecisões de gestos e movimentos que, por vezes, o penalizam. Como início de conversa, é um jogador interessante.


O Belenenses de Velázquez

A Liga conquistou um treinador diferente. E não só por ter 34 anos

Julio Velázquez é uma corrente de ar fresco no futebol nacional. O Belenenses está a consolidar uma ideia que entusiasma os seus simpatizantes, preocupa os adversários e encanta os adeptos neutros. O espanhol tem depurado uma equipa unida à volta da bola e de um projeto no qual é proibido ser submisso. O Belém não ganha sempre. Mas recusa a ideia miserabilista de que tudo é legítimo por um pontinho.


A mais amada equipa europeias

De Inglaterra chega um exemplo que põe em causa o poder do dinheiro

O Leicester de Ranieri é a equipa mais amada da Europa e aquela pela qual batem mais corações. O caso tem a ver com a iminência de uma conquista inesperada, nem mais nem menos do que a máxima glória de quem, chegado à Premier League em 2014, entra para as últimas oito jornadas com 5 pontos de vantagem. Uma enorme lição que inspira milhões de adeptos fartos da ditadura das grandes potências.


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