PRESSÃO ALTA

Rui Santos
Rui Santos

A geringonça na versão Lopetegui

A forma como Julen Lopetegui (não) executou o plano que concebeu para tentar salvar a equipa da eliminação da Champions, em Londres, diz muito daquilo que é o perfil do treinador do FC Porto. Um treinador inquieto, com muitas ideias e que se perde no labirinto de uma quantidade enorme de ideias. Ideias, ainda por cima, sem qualidade, e que têm levado o técnico basco a falhar sempre nos momentos mais sensíveis e cruciais. O FC Porto está transformado numa geringonça ou numa abóbora quando tem tudo para funcionar como um Fórmula 1 ou um coche de encantar. Há treinadores - como é o caso de Lopetegui - a quem não se pode dar diversidade e soluções em profusão. Com menos plantel, talvez fizesse melhor…

O FC Porto precisava de vencer em Stamford Bridge, perante o pior Chelsea das últimas épocas. Já havia comprometido o excelente começo de percurso na Champions com a derrota, em casa, frente ao Dínamo Kiev, em cujo jogo Lopetegui provou a sua apetência para as invenções (André André, em boa 'forma', a começar no 'banco', e saída de Maxi ao intervalo, com mexidas profundas em todo o sector defensivo!) e, em Londres, não apenas voltou a promover profundas alterações como colocou de pernas para o ar o sistema táctico em que apostou desde a sua chegada ao Dragão, transformando-o num 3x5x2 revolucionário, com uma dose de risco gigantesca, pela óbvia falta de rotinas que lhe estava subjacente. Se ainda restavam dúvidas, aqui estava plasmada a inquietude de Lopetegui. Um treinador que espalha desassossego pelo seu próprio desassossego só pode ser denominado como o treinador do desassossego. Um treinador que sofre a treinar e que exterioriza esse sofrimento, até nas conferências de imprensa…

No papel, a (nova) ideia de Lopetegui até poderia conter alguma razoabilidade teórica. Fechar a zona central da defesa (perante Diego Costa) com a colocação de 3 centrais e dar ao 5 do meio-campo não apenas 'largura', mas também alguma profundidade ao corredor, quer nos avanços quer nos recuos. Um sistema destes necessita de muita rotina, porque apela a constantes desdobramentos, sobretudo nas dobras que os centrais são sempre chamados a fazer quando os falsos laterais sobem e são muitas vezes apanhados em contrapé. E, depois, havia 'duas setas' apontadas à baliza do Chelsea (sem ponta-de-lança), 'duas setas' essas que só o são na cabeça de Lopetegui. Enfim, vontade de complicar, que é também uma das características do técnico basco: adora ligar o complicómetro!…

Jorge Jesus está nos antípodas de Lopetegui. Tem a similitude da teimosia do técnico do FCP mas há uma coisa que os distingue, claramente: Jesus gera rapidamente o estereótipo de equipa-base e, com ele, gere o calendário desportivo à sua maneira e, às vezes, de forma bem singular; Lopetegui anda tanto à volta do conceito de equipa-base, num carrossel descontrolado e desvairado, que transforma uma 'ganda máquina' numa desarticulada geringonça. Lopetegui deve ficar tonto, mas entontece-nos de tantas voltas em redor de si próprio e da 'equipa' que comanda.

Jesus tem um conceito de futebol simples e exigente e passa-o para os jogadores que comanda, como se viu no Benfica e agora se observa no Sporting. Tudo a partir de um modelo táctico assente numa equipa-base. Tem uma preocupação aparentemente excessiva com a gestão do calendário, porque acha que as equipas portuguesas, pelo défice comparativo que apresentam em relação às principais referências do futebol europeu, não têm poder (nem desportivo nem económico) para chegar longe numa Champions e, por isso, não se devem desgastar para consolidar o estatuto entre portas, sobretudo no caso do Benfica e agora do Sporting, que estiveram/estão há muitos anos sem ganhar o campeonato, mas - independentemente dessa visão mal aceite pelos adeptos e por grande parte da crítica - passa para a equipa uma ideia de futebol moderno, competitivo e pragmático, que mais nenhum treinador em Portugal tem capacidade de passar aos jogadores. Sobre este tema, creio que tem de haver uma evolução no sentido de preparar mental e fisicamente os jogadores para competirem mais vezes a um ritmo mais elevado. Esse continua a ser um problema sem solução no futebol português. Mesmo com Jesus.

Texto escrito com a antiga ortografia

JARDIM DAS ESTRELAS
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Vieira promete 'passivo zero'
Na política e no futebol, estamos cansados de saber que promessas valem o que valem. No entanto, temos de considerar a importância da mais recente promessa do presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira: reduzir o passivo a zero. Convenhamos que não é apenas uma promessa comum; é um compromisso que pode ajudar a mudar a face do futebol português, no que diz respeito à definição das prioridades. Com efeito, depois de se ter vivido (globalmente) uma fase de alguma irresponsabilidade e de contabilidade criativa, chegou o momento de parar e olhar para as realidades, perante as altíssimas condicionantes do financiamento bancário e da dívida entretanto gerada. O Benfica é o maior clube nacional e tem por isso responsabilidades acrescidas. Vieira assumiu o risco e, se cumprir a promessa, então sim ficará na história.

O CACTO

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O valor da promessa de Vieira (texto acima) é importante, mas tem sido manifestamente exagerada a dimensão atribuída ao acordo entre a NOS e o Benfica. Nenhuma dúvida sobre a relevância dos números à escala nacional, mas creio que a 'fórmula dos 400M€', dita assim genericamente, esconde o detalhe e é preciso, neste acordo, olhar para os detalhes, que começam entretanto a revelar-se, mas com os cuidados que têm sido evidentes, como ficou claro na apresentação de quinta-feira que colocou em destaque no palco, Miguel Almeida (NOS) e LFV (SLB), com Domingos Soares de Oliveira a merecer, muito justamente, o reconhecimento de um trabalho decisivo. Tem havido muita propaganda (até na análise crítica, ligeira e fácil, claramente 'para agradar') e isso não pode deixar de ser assinalado. Independentemente dos méritos subjacentes à 'operação'.
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