Crescemos a admirar os heróis das bandas desenhadas que lemos ou dos desenhos animados que vemos durante o pequeno-almoço, muitas vezes ainda com uma remela no olho e um bocejo que teima em aparecer e reaparecer. Já em adultos, o significado de herói altera-se. Os nossos heróis não são do campo imaginário ou oriundos do mundo da fantasia. Fazem parte do nosso quotidiano. Partilham a mesa de jantar connosco, o sofá, o carro. Mas também os desaforos que levamos para casa depois de um dia frustrante, as alegrias das conquistas que vamos amealhando com o passar dos anos mas, sobretudo, os nossos sonhos.
Mas, afinal, o que é ser herói? A pergunta é inquietante e tem respostas com significados certamente distintos para quem a lê. O meu significado de herói vai muito além da fantasia, dos livros, dos filmes. Não tem género. A capa veste-se de invariáveis formas - e muitas vezes é impercetível aos olhos de quem olha e não vê. E é por esse papel ser tão nobre, de caráter tão invisível, que muitas vezes nem damos valor ao impacto que tem verdadeiramente em nós. Todos nós temos um herói. Alguns estão presentes, outros infelizmente não - mas continuam a fazer parte de nós. Têm de fazer. Afinal, quem seríamos se não tivéssemos alguém que nos fizesse acreditar que, no final, vai correr tudo bem? Alguém que nos fizesse voltar, mesmo que por breves instantes, àquela mesma mesa onde nos sentamos ao pequeno-almoço e perguntar: 'E se eu pudesse ser um herói? Como seria?'.
Os heróis são normalmente lembrados na quadra natalícia. Talvez pelo espírito quase inexplicável que esta época do ano tem. Pelo cheiro a família, a casa, ou pelo abraço apertado que é capaz de fazer esquecer um ano inteiro. Se eu pudesse ser herói? Seria desses que descrevi, dos que estão presentes, mesmo que não se façam notar. Os que dão abraços. Os que dão conforto, paz e alegria. Até porque hoje em dia tudo o que é característica humana parece não encaixar-se na sociedade. E se tu pudesses ser um herói? Quem escolherias ser?
