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Maratona de Sevilha: um ponto de paragem obrigatório

Estivemos uma vez mais na prova andaluza e voltámos a sair encantados

Não há prova no estrangeiro que reúna tantos portugueses com a Maratona de Sevilha. Este ano, em linha com as edições anteriores, foram pouco mais de 600 os portugueses que chegaram à meta da prova andaluza, um número que coloca o nosso país mesmo como o terceiro com mais finishers, naturalmente atrás da Espanha e com a França muito perto, com quase 700. Números que confirmam a preferência dos portugueses por esta maratona, muito por culpa de vários fatores que, uma vez mais, fomos a Espanha comprovar.

Ir a Sevilha é quase uma tradição anual que por aqui temos. A primeira vez que lá estivemos foi em 2018 e de lá para cá não falhámos nenhuma edição. Estivemos no último ano em que a meta foi no Estádio La Cartuja e vimos nascer uma nova linha de chegada, bem no centro da cidade. Tudo continua igual. E, neste caso, ainda bem. Porque, como se costuma dizer em linguagem futebolística, em equipa que ganha não se mexe. É óbvio que houve algumas coisas melhoradas e modificadas (o percurso, por exemplo, teve uma pequena mudança por conta de algumas obras que se estavam a realizar), mas no geral a Maratona de Sevilha segue fiel à sua tradição.

Uma tradição que a aponta como uma das mais rápidas da Europa, com um percurso praticamente 100% plano. Apenas temos dois ou três pontos com um ligeiro desnível, o que permite tempos bastante rápidos a todos aqueles que se desafiam nesta distância mítica. Em jeito de comparação, tendo recentemente feito as maratonas de Berlim e Valência, arriscamos dizer que em termos de rapidez de percurso a prova sevilhana em nada perde em comparação com estas duas. Dirão que os tempos de recorde de cada percurso são bem diferentes - e é verdade -, mas também é verdade que o poderio financeiro para atrair atletas como Eliud Kipchoge ou Letesenbet Gidey é claramente superior por parte dos alemães ou valencianos. E isso naturalmente faz com que os tempos finais sejam diferentes e menos 'sobrenaturais' como aqueles que vimos recentemente noutras paragens.

Mas a verdade é que Sevilha consegue ser uma prova que ainda dá uma maior primazia ao corredor popular, em satisfazer as suas necessidades. Isso nota-se, por exemplo, no valor da inscrição, que é mais barata do que a maior parte das principais provas do país vizinho. Isso sem descurar a qualidade do produto final. Olhando ao que vimos este ano, poucos são os pontos que somos capazes de apontar. Talvez apenas uma inesperada confusão no momento de entrada na zona de partida, mas provavelmente a culpa também tenha sido nossa, porque chegámos um pouco em cima da hora. Mas tirando isso... nota 10!

A minha prova (agora na primeira pessoa)

Já dei um olhar global ao que foi o evento e agora vou à minha prova. E não se pense que os elogios acima foram influenciados por um qualquer recorde ou grande tempo conseguido neste dia. Antes pelo contrário. E isso até acaba por dar um peso superior às palavras positivas que deixei nas linhas anteriores. Fui para Sevilha para tentar finalmente o Sub-3. Tinha tentado no ano anterior e ficado a 56 segundos. Voltei a tentar em Berlim e fiquei a 62. Cinco semanas depois, nova tentativa, novo recorde, mas a 29 segundos do objetivo. Por isso, um ano depois, ia com confiança reforçada nesse objetivo, especialmente depois de ter estado no Quénia. O problema foi ter-me lesionado nos últimos dias, conforme contei no pequeno diário que fui fazendo a partir de Iten.

Apesar dessas condicionantes, tentei. Acompanhado de outro corredor português, comecei com a mente focada no plano que tinha seguido em Frankfurt e que queria repetir aqui. Era a prova perfeita para isso, porque era totalmente plana. 43' aos 10 quilómetros, 1:30.30 na meia maratona, 2:08.00 aos 30 quilómetros e, nos 12 finais, tirar o máximo possível para chegar aos sonhados 2:59.59. O plano estava bem traçado e sabia que, num dia bom, em boa forma, podia consegui-lo. O problema foi que não estava em condições perfeitas para o fazer. Estaria, talvez, a 80%, porque a dor que tinha no glúteo revelou-se bastante condicionante.

Aos 10 quilómetros passei no ponto certo. 42.55 apontava o relógio. Estava perfeitamente dentro do que pretendia. Já de volta a Sevilha, depois de uma passagem por Triana, no outro lado do rio, o meu corpo começa a dar-me uns primeiros sinais de esforço. A dor que tinha no lado esquerdo levava a compensar de forma excessiva e a colocar muito peso na perna direita. Aos 15, mesmo dentro do parcial que pretendia, já me via em esforço e com os quadríceps da perna direita a acusar o cansaço. Segui, tentei esquecer a dor. Com a ajuda do Alexandre Felício, o tal corredor português com quem comecei, fui conseguindo esquecê-la e chegar à meia maratona no ponto praticamente exato que pretendia. 1:30.33. Eram 3 segundos a mais em relação ao que queria. Não era nada!

Mas o que se seguiu foi basicamente um recolher das armas e abdicar da luta. As dores, a forma como corria, já não me permitiriam chegar ao sub-3. Era praticamente impossível fazer os 21 quilómetros seguintes no mesmo ritmo. Se o tentasse, muito provavelmente iria lesionar-me e ficar pelos 25 ou 30 quilómetros. Por isso, aos 22 quilómetros decidi que não valia a pena. Abrandei e decidi preservar o meu corpo. Queria acabar a maratona. Esse era o meu principal objetivo. De 4'15, o relógio passou para um ritmo por quilómetro 30 a 40 segundos mais lento.

E foi assim que segui até final. Isso, num ritmo mais lento, permitiu-me também ir vendo a corrida de outra forma e tomar atenção à qualidade do evento. Estava tudo lá. Os voluntários em cada abastecimento, a fazer o seu papel na perfeição e, além disso, a incentivar os corredores. As mesas de abastecimento eram suficientemente compridas para que tudo se processasse sem problemas. A água era-nos dada em copos, o que muita gente coloca em causa, mas aqui entendo que o ambiente tem de estar em primeiro lugar. E depois o apoio popular. Em 2020, confesso, fiquei desiludido. Este ano voltou tudo ao normal. Um incrível apoio em praticamente todo o percurso. Mas em especial a partir dos 30, quando entrámos na zona histórica rumo à meta. Muitas bandeiras portuguesas, muitos pontos de animação, muita gente para nos levar ao colo.

E foi assim que, mesmo que em dificuldades, com até dois momentos em que troquei a corrida pela caminhada por alguns segundos, cheguei aos últimos dois quilómetros. Aí, ao cruzar-me com três corredores espanhóis conhecidos, decidi ficar por ali e ajudar um deles a acabar a maratona. Podia, se calhar, ter acabado uns 30 segundos mais rápido, mas isso não mudava nada. Decidi acabar ao lado dele e ajudar um pouco na sua conquista. Acabei com 3:14.06. A 14 minutos e 7 segundos do objetivo que tinha como sonho. Fiquei bem longe, mas isso não tirou brilho algum a esta maratona. Porque Sevilha, mesmo quando batemos na trave como no ano passado, ou quando atirámos totalmente ao lado como este ano, é sempre uma maratona incrível.

No próximo ano, a menos que algo de muito estranho aconteça, lá estarei de novo na linha de partida a 18 de fevereiro.
Por Fábio Lima
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