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A experiência de Hélder Baptista no Ultra-Trail du Mont-Blanc

Atleta português conta a Record, na primeira pessoa, como viveu a prova

UTMB 2019 

O concretizar de um sonho. Quem corre preferencialmente em trilhos depressa houve falar no sonante UTMB e se gosta de longa distância depressa fica com uma vontade enorme de lá ir… Assim foi comigo. Com os pontos necessários, sim porque não basta ir, tem de se participar em provas que pontuem para esta (3x5pts= 15pts) e depois ir a sorteio. 

Em 2018 o sorteio não ditou essa sorte mas, ainda bem, lesionei-me em Fevereiro e em Agosto nunca estaria apto, tal como não estive no UTRP em que participei só para ver como a máquina estava e não fora a companhia, paciência e amizade do meu amigo Hugo e da Carla, sempre no apoio, nunca terminaria! … Fazer 50k debaixo de 40º C sem qualquer tipo de treino em 6 meses é só para quem é muito parvinho! 

Em 2019, como tinha coeficiente dois (duas oportunidades em uma), em Janeiro lá me calhou em sorte. A partir daqui não pensei em mais nada como objetivo desportivo, todos os treinos, todas as provas eram sempre com o objetivo de estar o melhor preparado para o UTMB. Consciente de que estava cada vez melhor e a sentir-me bem fui intensificando os treinos, mas quis o destino que a 22 de Maio, num treino leve, num movimento estranho a descer me lesionasse de novo. Uma fissura no menisco interno do joelho direito, o mesmo que no ano anterior tinha tido rotura parcial do ligamento anterior cruzado… Nova paragem por tempo indeterminado… Exceto uma caminhada ou outra, o treino passou por bicicleta, reforço muscular e alongamentos, até ao dia 9 de Julho, dia que voltei a correr (7k), faltavam menos de dois meses para preparar aquela que seria a prova com maior dificuldade que tinha feito até então… Limitado, fiz o melhor que pude de maneira a que ficasse o melhor preparado possível. Para além dos treinos nas serras à porta de casa ainda fomos dois fins-de-semana para a Estrela e Lousã e quatro dias para a serra de Gredos. 

A viagem para Chamonix foi no dia anterior à prova, na companhia da Carla. Depois de instalados seguimos para verificação do material obrigatório e levantamento do dorsal. Passeamos pela vila onde o ambiente era brutal, respirava-se UTMB! O dia 30 começou calmamente pelas 10 h da manhã com o pequeno-almoço, voltinha descontraída pela vila, almoço e regresso a casa para preparar a mochila e o saco para a Base de vida. A partir daqui começa o stress!!! Depois de tudo verificado, eu e o Joaquim acompanhados pela Carla e pelo Diogo, que tinha concluído o OCC no dia anterior, dirigimo-nos para a partida, cerca das 16:30 h, aonde já se encontravam umas centenas de atletas, e cada vez mais gente chegava. Fomos brindados com trovoada e aguaceiros, mas a espera ainda era longa e foi um veste e despe impermeável intermitente até à hora de partida. A animação era mais que muita e com a chegada dos atletas de elite ainda mais. Os nervos acalmaram e assim chegaram as 18:00 h e a partida ao som de Conquest of Paradise dos Vangelis marcava o ritmo, foram precisos mais de 8 minutos para os cerca de 2300 atletas passarem o pórtico! Lindo! 

Agora a minha prova! Para além de um pouco de sono (anormal) a prova correu de feição até e chegar aos 80K (Courmayeur, base de vida), nos primeiros quinhentos. Resolvo dormir meia hora para resolver o sono mas fiquei 1:30 h. Depois de dormir, comer, trocar de meias, segui. A passagem aos 98K (Arnouvaz) com 19 h de prova, para uma prova de 100 milhas e para um corredor como eu acho que estava excelente… e até aos 138K (La Giéte) tudo normal. Foi quando comecei a descer para Trient (143K) que uma dor no músculo vasto interno da perna esquerda se avolumou de tal forma que mal conseguia andar, principalmente a descer. Lá consegui chegar a Trient, com vontade de ali ficar. A Carla e o Diogo, que desde La Fouly estavam no apoio, bem como o apoio médico de Trient, incentivaram-me a descansar e depois fazer uma massagem para continuar… assenti … e fiquei cerca de três horas e meia!!! Ahahahah… Que episódio caricato… Eu fui dormir, eles descansados a pensar que eu podia dormir muito, foram dormir também mas… dormi uma hora! E quando acordei … e agora? Levaram todo o meu equipamento inclusive o TLM e eu à procura deles! … Lá tudo se resolveu e lá parti. Mesmo com muitas dores ainda fiz a subida a Tseppes sem muita dificuldade, mas a partir daqui até à meta foi um suplício!! Com a moral em baixo e fisicamente de rastos cheguei a Vallorcine, tinha dores, muitas! A subida a Tête aux Vents, que devia ser uma diversão pois é magnifica e era a última, foi em sofrimento, tal como todo o trilho na encosta até La Flégère com Chamonix lá no fundo e os últimos oito quilómetros finais sempre a descer que demorei cerca de duas horas que até de marcha a trás andei… dizem que quando se chega a Chamonix as dores passam, a mim não me passaram, fiquei muito feliz por ter chegado, feliz por ver a Carla, por ver o Diogo, por saber que o sofrimento ia acabar, corri os últimos cem metros a pedido deles e por tudo o que fizeram por mim durante a prova. Passadas 43h, 170K e 10.000 metros de desnível positivo e outro tanto negativo terminei o UTMB… 

A prova é magnífica, a organização é excelente, as marcações são irrepreensíveis e os abastecimentos são fartos e o Monte Branco e a zona à volta é lindíssimo! 

Notas: 

A prova não é corrivel! 

A sopa não é sopa! 

O Grand Col Ferret é… nem sei explicar em palavras. 

O trilho entre os refúgios Bertone e Bonatti… epá… vão lá ver! 

Amei Courmayeur!!

A subida que mais gostei foi de Les Contamines até Bonhomme. 

A descida que menos gostei (enquanto não estava lesionado) foi de Mont Favre até Courmayeur.

As vacas não se riem.

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