Apagão em Portugal e Espanha: o que já se sabe e o que ainda falta saber

Às 11h30, várias cidades de norte a sul de Portugal Continental ficaram às escuras devido a um corte de energia que também afetou outros países da Europa. Pouco tempo depois, o Conselho de Ministros reuniu de emergência na residência oficial do primeiro-ministro para analisar a situação.

Luís Montenegro fez uma interrupção no Conselho de Ministros para falar ao país, realçando que a origem do apagão "não teve lugar em Portugal". "Lamentamos muito este episódio que aflige o dia a dia dos portugueses, a origem não teve lugar em Portugal e o Governo está a acompanhar, com todas as autoridades nacionais e internacionais. Este corte de energia foi inesperado e imprevisto", considerou. 

O primeiro-ministro pediu ainda aos portugueses para confiarem no trabalho que as entidades estão a desenvolver para que a energia seja restabelecida ainda hoje. Deixou também um apelo à "calma" e ao "espírito de solidariedade". "Temos a expectativa de que a partir da central de Castelo de Bode e da Tapada do Outeiro todo o sistema de produção elétrica em Portugal possa ser ativado e que nas próximas horas as portuguesas e os portugueses possam ver restabelecida a sua ligação", acrescentou.

Luís Montenegro fez o ponto de situação numa altura em que a eletricidade começou a ser reposta em várias zonas do país, nomeadamente em Lisboa: "Tomámos conhecimento hoje pelas 11:33 da manhã de um apagão generalizado na rede nacional elétrica que teve origem fora do nosso território, muito provavelmente em Espanha. De imediato, constituímos um gabinete de crise no Governo que se concentrou na situação, que foi e ainda é grave, inédita e inesperada. A prioridade foi responder às situações mais críticas e urgentes, a começar pelos hospitais, como ajudar as pessoas mais afetadas. Acionámos todos os procedimentos para reativar os grupos geradores nacionais, na Tapada do Outeiro e em Castelo de Bode para restabelecer o fornecimento da eletricidade. No plano operacional, concentrámos a coordenação na Célula de Crise do SSI e no Centro Coordenador Operacional da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil. Também o Sistema de Informações da República portuguesa, as Forças Armadas, a Direção Executiva do SNS e o INEM constituíram Gabinetes de Crise para o acompanhamento permanente e articulação com o Governo. O Conselho de Ministros está reunido de forma permanente desde as 13 horas em mode de gestão de crise e assim continuará. Estive em contacto com o Sr. Presidente da República, tive a ocasião de falar com o líder do maior partido da oposição, a Presidente da Comissão Europeia, o Presidente do Conselho Europeu e o Presidente do Governo espanhol, agradecendo desde já a colaboração e partilhar de informação", começou por referir. 

Luís Montenegro fez o ponto de situação numa altura em que a eletricidade começou a ser reposta em várias zonas do país, nomeadamente em Lisboa.

Ainda não há uma explicação oficial para o corte de energia, mas a hipótese de ciberataque está, para já, descartada. O Centro Nacional de CiberSegurança esclareceu que "não foram idenficados indícios que apontem para um ciberataque". A vice-presidente executiva da Comissão Europeia Teresa Ribera também explicou que não existem provas de ciberataque no corte maciço, falando porém numa "das maiores falhas no sistema" na União Europeia (UE). "Não estamos a descartar nada de momento, mas não há provas de qualquer tipo de problema de cibersegurança. Estamos atentos a tudo e a principal prioridade é, obviamente, restaurar o sistema elétrico e avaliar e compreender o que aconteceu", referiu. 

À SIC, a REN – Redes Energéticas Nacionais desmentiu a notícia que tinha sido avançada pela agência noticiosa Reuters, que dava conta que teria sido um fenómeno atmosférico raro que estava na origem do apagão na Península Ibérica.

A energia já foi restabelecida em algumas localidades (Coimbra, Porto, Guarda, Santarém e Lisboa), entando a reposição a ser feita "de forma faseada e segura para evitar novos desequilíbrios no sistema", numa operação que exige "particular rigor e prudência". De acordo com o SSI, a recuperação da produção elétrica nas centrais de Castelo de Bode (Abrantes, Santarém) e Tapada do Outeiro (Gondomar, Porto) "permitiu iniciar a reposição do fornecimento de eletricidade, começando pelas regiões próximas e alargando-se progressivamente a outras zonas".

Devido à falha de eletricidade, os semáforos deixaram de funcionar e, por isso, a PSP colocou mais polícias nas ruas para auxiliar as pessoas no trânsito, que ficou caótico. O metro deixou de funcionar, sendo que todas as estações foram encerradas. Os comboios, recorde-se, já não estavam em funcionamento devido à adesão total à greve na CP. Já o serviço de autocarros da Carris, em Lisboa, está a funcionar e é gratuito. 

Para garantir que não falta combustível para responder a situações de emergência, a Galp, em articulação com o Conselho de Ministros, decidiu fechar todos os postos a veículos não prioritários, confirmou fonte da empresa à Sábado. A mesma ação deverá ser aplicada por outras empresas - várias delas têm já pinos cor de laranja a sinalizar que estão encerradas.

O terminal do aeroporto de Lisboa já reabriu aos passageiros, mas a gestora aeroportuária (ANA) pede aos passageiros que, antes de se dirigirem até lá, contactem as companhias aéreas para obterem informação sobre o estado dos voos. Durante o dia, milhares de pessoas ficaram à espera na rua, junto ao Terminal 1, e centenas de voos foram cancelados. 

A Vodafone, a Meo e a NOS confirmaram a existência de perturbações de rede devido à falta de energia elétrica. As operadoras de telecomunicações ativaram planos de contigência.

A Meo reconfigurou a sua rede, limitando o uso de dados móveis para garantir a funcionalidade dos serviços essenciais e apela para que os clientes façam um uso responsável das comunicações até à reposição da energia. "Face à falha de energia que afeta Portugal Continental, a Meo ativou de imediato o seu plano de contingência, com o objetivo de garantir a máxima estabilidade e continuidade dos serviços", disse a operadora da Altice Portugal, no seu último ponto de situação.

Algumas instituições de ensino superior estão a suspender as aulas e atividades. A Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA, por exemplo, encerrou as atividades letivas a partir das 14h. 

O Ministério da Educação recomendou que os estabelecimentos do pré-escolar e 1.º ciclo mantenham os alunos na escola até à chegada dos encarregados de educação ou até ao horário do transporte escolar, na sequência da falha energética. "Relativamente à educação pré-escolar e ao 1.º ciclo do ensino básico, as crianças/alunos devem permanecer na escola até os encarregados de educação os recolherem ou até ao horário dos respetivos transportes escolares", escreve o Ministério da Educação, Ciência e Inovação.

A EPAL alertou que o apagão pode originar interrupções no fornecimento de água, apelando ao uso de forma consciente. "Estão a ser desenvolvidas todas as diligências, no sentido de minimizar os impactos que poderão ocorrer desta situação, no que diz respeito ao abastecimento de água", acrescentou, numa nota, a Empresa Portuguesa das Águas Livres (EPAL).

O hospital de São João ativou o plano de contigência e suspendeu a atividade programada e não prioritária, alertando que "a capacidade de resposta dos geradores está dependente da gestão do combustível disponível. A Unidade Local de Saúde (ULS) Amadora/Sintra também suspendeu temporariamente as visitas e os serviços clínicos não urgentes devido ao corte de energia, mantendo-se asseguradas as atividades urgentes, emergentes e inadiáveis. O Instituto Português de Oncologia (IPO) de Coimbra acionou o Gabinete de Crise e ativou igualmente o plano de contingência.

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