CARLOS Lagorio foi a grande figura da jornada 10 da I Liga, ao marcar três golos-três ao Benfica. Um feito que não está ao alcance de muitos e que o argentino do Marítimo registou com natural satisfação.
Humilde, simples na forma de ser e com grande paixão pelo futebol, o avançado promete manter os pés na terra e diz que o fundamental é continuar a marcar, para ajudar a sua equipa a ir o mais além possível.
“Dormi pouco nesta noite, o que acaba por ser normal depois de tantas emoções. Não é todos os dias que se marcam três ou mais golos e logo ao Benfica. Sei que nos últimos 25 anos apenas três jogadores o conseguiram, incluindo eu, o que me deixa honrado. Seja como for, isso agora pertence ao passado, faz parte da história e há que olhar em frente para continuar a justificar a confiança que depositaram em mim”, salienta.
Lagorio tornou-se profissional aos 18 anos, representando durante quatro épocas o Gymnasia y Esgrima de La Plata. Em 1995, no maior feito do seu clube de então (pelo qual apontou 16 golos em cinco anos), foi vice-campeão da Argentina ao perder a final com o San Lorenzo e nessa época marcou 11 golos.
Seguiram-se momentos difíceis para o jogador, pois recusou-se a assinar um novo contrato e foi colocado de parte pela Direcção do clube durante seis meses. Com o passe na mão, o goleador optou então por rumar ao futebol mexicano, ingressando no Atlas.
Na época seguinte mudou-se para o UNAM, onde confirmou as suas qualidades. No conjunto das duas temporadas, apontou 25 golos.
CONTRATO PARA CUMPRIR
O “carrasco” do Benfica está emprestado ao Marítimo até Julho do próximo ano, com opção de compra, e pretende cumprir o contrato. No entanto, não descarta a possibilidade de sair mais cedo, caso surja uma proposta aliciante.
“Sou ambicioso e tinha o sonho de jogar no futebol europeu. Eu e a minha família estamos adaptados e tudo tem corrido da melhor forma, mas se aparecerem interessados e a Direcção do Marítimo concordar, claro que será bom. Mas, sinceramente, não penso nisso, pois o meu lema é o presente. Se for pensar no futuro, posso cometer erros”, observa.
A experiência diz-lhe mesmo que nestas alturas é importante não embandeirar em arco. “Na Argentina também vivi bons momentos, mas nunca tirei os pés da terra”, explica.
O avançado reconhece que nunca esperou marcar três golos aos encarnados. “Claro que queremos sempre fazer o melhor, mas, sinceramente, nunca se espera marcar três golos a uma equipa destas”, reconhece.
Ficou assim cumprida a promessa feita ao presidente do Marítimo, Carlos Pereira, num episódio recordado com um largo sorriso. “Na sexta-feira ele perguntara-me qual o ‘presente’ que lhe iria dar neste jogo. Eu prometi-lhe fazer dois golos, e acabei por fazer três. Não foi mau...”
A partir daqui, o jogador ganha confiança e acredita que pode ainda vir a fazer melhor. “Isto moraliza não só a mim como à equipa. Aliás, a vitória sobre o Benfica é reflexo do excelente trabalho de todos, quer na marcação, quer a lançar o ataque. Penso que agora o Marítimo vai soltar-se e conseguir o que falta, que é vencer fora de casa. Se jogarmos assim com o Belenenses, no próximo sábado, vamos lá”, conclui.
NÃO HÁ «FANTASMA» DE TOEDTLI
A história de Lagorio é parecida com a de Mariano Toedtli, o artilheiro dos madeirenses na época anterior, em que apontou 13 golos. É quase impossível dissociar os dois argentinos, mas Lagorio não teme as comparações.
“Nos outros clubes por onde passei também se falava muito de quem lá estava antes. É normal fazerem-se comparações com o avançado anterior. Fantasma? Não, o importante para mim é fazer o meu jogo e dar tudo para ajudar a equipa. Não penso em superá-lo, se vou marcar mais ou menos que ele. Cada um tem as suas virtudes e eu só tenho de continuar a trabalhar e marcar golos”.
Curioso é o facto de Lagorio nunca ter visto Toedtli jogar. “Não o conheço, nem pela televisão. Apenas sei aquilo que as pessoas me dizem.”
O avançado que veio das pampas está consciente que, a partir de agora, os defesas contrários terão maiores cuidados na sua marcação, mas está preparado para isso.
“Isso sempre acontece quando um jogador se destaca. Claro que isso complica-nos a missão, mas no passado aconteceu-me o mesmo e respondi bem.”
Definindo-se como um avançado que gosta de participar nas acções de ataque, Lagorio diz que se adapta a qualquer estratégia do treinador, incluindo jogar sozinho na frente de ataque.
“Contra o Benfica, por exemplo, joguei em ponta entre os defesas e isso criou-lhes mais dificuldades. Se fossem dois avançados, cada qual marcava o seu, mas assim foi melhor para nós. Depois foi aproveitar os espaços que deixaram e os lançamentos dos meus colegas, ter calma e esperar pelo momento certo para bater o guarda-redes”, explica.
Quanto ao futebol português, diz que é diferente do mexicano, onde há mais espaços para jogar. “Aqui em Portugal vim encontrar um tipo de jogo parecido com o argentino, embora mais rápido, e levei algum tempo a acostumar-me”, finaliza.
LAGORIO DISPARA NOS MARCADORES
Depois do “hat-trick” ao Benfica, Lagorio distanciou-se finalmente dos seus colegas de equipa na lista dos melhores marcadores, com cinco golos.
Num jogo apenas o avançado fez mais golos do que nas nove jornadas anteriores, onde apenas marcara dois (ao Desp. Aves, com o pé esquerdo, e ao E. Amadora, de cabeça).
FEDERICO NO NOME COMO ACOSTA
Curiosamente, o nome do meio do goleador dos madeirenses é Federico. Precisamente o mesmo de um seu compatriota conhecido pelos (muitos) golos que marca em Portugal, o sportinguista Acosta. Pelos vistos, um bom sinal para o Marítimo...
FALTOU O «PENALTY» PARA O «POKER»
Apesar da eficácia revelada, pois em três remates fez outros tantos golos, o “matador” do Marítimo poderia mesmo ter ido mais além.
É que os madeirenses reclamam (com razão) que ficou uma grande penalidade por marcar, por falta de Calado sobre o avançado.
Se José Pratas tivesse assinalado, o histórico “hat-trick” poderia ter-se transformado num “poker”...
QUEM É QUEM
Nome: Carlos Federico Lagorio
Idade: 25 anos (28-07-1975)
Naturalidade: Argentina
Altura: 1,83 metros
Peso: 77 kg
Clubes anteriores: Gymnasia y Esgrima (Argentina), Atlas e Pumas (México)
Rendimento 2000/2001: 10 jogos, sempre como titular, 792 minutos realizados e 5 golos marcados. Viu três cartões amarelos