Nada parece abalar a confiança de João Diogo Manteigas, que acredita que será o 35º presidente do Benfica. Durante a apresentação da lista com que irá avançar em outubro, o advogado vincou o otimismo e de que forma mudará o clube da Luz caso seja eleito. Aos jornalistas, respondeu a várias questões que marcam o processo eleitoral das águias e não só: mostrou-se, por exemplo, em desacordo com José Mourinho.
Concorda com Martim Mayer sobre o pedido a Rui Costa de todos os candidatos fazerem parte da comitiva que viaja para o Dragão, depois de José Mourinho revelar que o processo eleitoral está a impactar a equipa? "Quem valida e permite isso é o clube que recebe, o clube visitado. Portanto, não é assim tão fácil. O presidente do Benfica não consegue pedir quem quer para ir para um camarote presidencial de qualquer clube. Cada candidato tem que manter a sua independência. Relativamente à questão do José Mourinho, o que acho que tem que acontecer é que a direção do Benfica tem que proteger o José Mourinho. O José Mourinho foi contratado para ser diretor de comunicação também da direção do Benfica. É o homem que vai à frente pela experiência que tem e a capacidade que tem de comunicação. Ontem não foi justo na consideração relativamente às eleições do Benfica. Os atletas não têm essa sensibilidade para se depois repercutir na exibição dos atletas. Lamento que o José Mourinho o tenha feito, não é razão para isso. Por aí, a direção, em último lugar, é que tem culpa porque é quem deve estruturar a argumentação que o José Mourinho deve ter após o jogo. A preocupação que Mourinho tem de ter é o jogo no Dragão; é estar perto de Ríos. Temos que defender-nos todos uns aos outros e tem que trabalhar muito bem a cabeça de todos os jogadores para domingo termos sucesso, em particular o Ríos. Porque tudo o que é à volta do grupo, cabe a José Mourinho defender, mas tudo o que é à volta da equipa técnica, jogadores, etc., cabe à direção defender. E é a direção que tem que aparecer nesses momentos, não é o treinador."
Mas faz sentido irem todos os candidatos com o comitiva? "É uma opinião, não faz sentido, não deixa de fazer sentido. Eu irei para a bancada, certamente, que é onde eu vejo os jogos do Benfica, a todo o lado onde vou. É uma intenção que esse candidato tem, pode pegar através de Rui Costa, se calhar Rui Costa lança o convite, não acho que seja normal, nem que vá resolver aquele problema levantado por José Mourinho, porque na realidade eu acho que não existe esse problema."
Depois do últimos acontecimentos e alguns ataques de outros candidatos, mantém a confiança de que vencerá ou, no mínimo, irá à segunda volta como disse há poucos dias em entrevista ao Now? "Mantenho plenamente essa confiança. Isso viu-se aqui hoje. Começámos há muito tempo, preparámos muito, antecipámos tudo o que podíamos antecipar. Há sempre obstáculos pelo caminho, o que é perfeitamente normal. São muitas pessoas também para juntar e temos de ter a certeza que todos trabalhamos em conjunto e que temos tudo bem segmentado para chegarmos a dia 25 e termos tudo preparado. Portanto, sim, o facto de termos lançado há um ano também nos alimenta essa crença de chegarmos a dia 25 em primeiro, com todo o respeito, obviamente, para todos os outros candidatos. Mas sabemos muito bem o trabalho que fizemos. Foi um trabalho que demorou muito tempo. Foi um trabalho muito intenso, agora cada vez mais. Nada relacionado com as outras candidaturas, obviamente, porque seguimos o nosso caminho, estivemos aqui um ano a provar que não somos problemáticos com ninguém. Seguimos o nosso caminho, somos uma alternativa, respeitámos toda a gente e acho que os benfiquistas reconhecem isso. É a ideia que temos porque é isso que nos dão também."
O que se passou no último dia de Assembleias Gerais? "Tem que se ter algum cuidado às vezes quando se fala de determinadas coisas cá fora sem corroborar lá dentro. O que é que se passou? O que se passou é muito simples. Os sócios já não querem que um ex-presidente volte ao Benfica. Os sócios hoje em dia estão tristes com o presente, com a atual direção, estão chateados e com medo do regresso do passado, e aquilo que foi a manifestação completamente orgânica, sem que ninguém tivesse causado, sem que haja um causador para aquilo que se passou, foi uma resposta ao receio que têm. Porque, como sabemos, a pessoa que causou o distúrbio, por si só, com a sua presença acompanhada de mais pessoas predispostas também a causar esses distúrbios, teve uma resposta. As pessoas já não o querem cá porque efetivamente têm receio daquilo que aí vem. Há uma incerteza relativamente a processos judiciais que existem relacionados com o Benfica e o que aquele nome acarreta nisso. E, portanto, deram-lhe uma resposta, que foi: 'temos o direito de não ouvir'. E saíram. Porém, houve ali, obviamente, uma situação que não devia ter ocorrido. Independentemente da pessoa que vai falar, o sócio que vai falar, tem que se ouvir. Mas o problema foi resolvido porque mesmo os sócios que interromperam souberam depois respeitar. Esse sócio voltou a falar. O que se passou foi um momento temporário, suspendeu-se, aqueceram-se os ânimos, mas depois refriaram. E o sócio voltou a falar e depois foi-se embora. Portanto, é a prova de que, efetivamente, aquele sócio só foi ali para causar aquele distúrbio. E relembro que a última Assembleia Geral em que ele esteve presente, antes desta, foi quando apertou o pescoço a um sócio do Benfica. Portanto, este senhor não quer o bem do Benfica."
Frederico Varandas ligou os comunicados do Benfica de arbitragem ao ato eleitoral. O que é que tem a dizer sobre isto? "O presidente Frederico Varandas já chegou à altura de parar de falar. Toda a gente sabe o que é que aconteceu em fevereiro passado, a entrevista que deu, a punição que teve e a consequência que dali saiu, sobretudo a nível desportivo, e agora, pasme-se, o Benfica já tem um problema interno que é resolver ou tentar resolver questões extra-desportivas que têm impacto no Benfica com comunicados. Isso vai acabar. O Benfica tem que parar de fazer comunicados uma vez por todas e sobretudo depois de acontecerem os factos. Faço um apelo a todos os candidatos do Benfica para que parem de se atacar uns aos outros. Foi o que aconteceu durante este fim de semana. O verdadeiro rival ou as rivais estão lá fora. Vi este fim de semana o presidente do Porto a atacar o Dr. Reinaldo da Liga. Vi este fim de semana também o presidente Frederico Varandas a ter essas considerações e vi também o Sporting a passear na Amoreira, facilmente, como vi um árbitro a empurrar um jogador do Marítimo em Alcochete. Portanto, quando vejo ou ouço o Frederico Varandas a falar de um 'bi' ou de um 'tri' que pode ser um terrorismo, só se for ao nível do Boavista em 2000, 2001. É esse nível que estamos a falar. Não mete medo ao Benfica. E eu tenho pena que o Benfica não consiga responder à altura, que não é com comunicados. É a liderar. É chegar à Liga e não permitir que Villas-Boas fale mal com o presidente da Liga. É não permitir que Frederico Varandas fale mal do desporto em Portugal, a atacar todos. E isso é só porque o Benfica não tem liderança. O Benfica é a principal força motriz do país, desportiva. E tem que mandar no sentido de união entre todos. Tem que haver respeito. E ninguém está neste momento a respeitar o Benfica. E isso deve-se à ausência e à falta de capacidade da direção do Benfica."
Qual é o seu principal adversário nestas eleições? "Não vejo isso dessa maneira. Para mim concorrem todos em pé de igualdade. Eu concorro com propostas e a atual direção concorre com contratação de treinadores e jogadores. As armas não são iguais. Mas estamos cá para isso, porque o Benfica é um desafio. O Benfica sempre foi um desafio. Mas o que é mais engraçado, se olharmos para a história, fizemos sempre das nossas fraquezas, das nossas forças. E normalmente quem está encostado, quem está encostado e tem todas as condições para tentar ganhar uma luta eleitoral, normalmente é quem está lá dentro, o incumbente, vai ter que levar uma resposta à altura por parte dos sócios. A mudança vem aí. Os sócios não querem que isto continue assim. E isso reflete-se nas pessoas que estão dentro do Benfica."
Fez uma afirmação durante esta apresentação: "ninguém se livrará de uma auditoria." É um aviso a Rui Costa? "É um ato normal de gestão que tem que ser implementado. A auditoria que foi feita sob a direção de Rui Costa foi uma auditoria específica a X número de contratos. Eu quero uma auditoria referente ao grupo Benfica. Até a formação vai ter uma auditoria. Ninguém vem à caça das bruxas. Não vou atrás de culpados ou procurar culpados. Mas não há mudança. E vi isso através da auditoria que fizeram. Eu tive o cuidado de analisar numa madrugada antes da Assembleia Geral do Orçamento, do ano passado. E não é aquilo que quero ver. Quero ver tudo. Os processos, procedimentos e voltar a assegurar. Eu não vou atrás de ninguém. Estou a praticar um ato de gestão normal que vai mudar o Benfica. Por isso tenho que perceber o que é que está mal, o que é que está bem e, obviamente, se encontrar alguma coisa que seja anormal no que é o meu conhecimento experiência profissional, porque eu estou ligado à área jurídica, aí eu terei que perceber em que enquadramento é que terei que denunciar ou não denunciar os atos que foram praticados."
Está à porta um clássico. O Benfica está obrigado a vencer? "A obrigatoriedade o Benfica tem sempre. É por isso que se chama Benfica. O Benfica foi fundado para ganhar. O ano passado correu-nos bem. Foi um ótimo jogo, um excelente resultado. Quero que isso aconteça no domingo. Fica a um ponto do Porto, tem que se aproximar imediatamente, porque aquele sentimento que o Benfica ou que o benfiquista tem tido é deplorável, eu não quero sentir isto. Detesto este sentimento de derrota. É por isso que a nossa candidatura representa exatamente uma rutura com o passado. A nossa candidatura representa tudo aquilo que são os valores do associativismo do Benfica. O Benfica vai ser representado por pessoas da base, pessoas competentes, cheias de energia e vontade para liderar e ganhar. Com respeito por todos. Isto não é querer passar por cima de ninguém. Já ninguém está habituado a um Benfica que lidera, que ganha, que impõe respeito aos outros. Isso parece que terminou, mas não pode ser um ponto final. Tem que recomeçar do zero. E é isso que propomos fazer. O mesmo treinador, o staff, tem contrato assinado e é para cumprir com contratos. Vamos explicar tudo aquilo que é o nosso modelo desportivo. São as primeiras reuniões que vamos ter. Mas a nossa maior preocupação, no imediato, é perceber o que é que se está a passar com o futebol. Vamos sentar à mesa com o Mourinho e a sua equipa técnica e posso dizer que o Mourinho tem todas as condições, todas, para ser um treinador dentro do projeto que queremos, pelo menos até ao final da época. Porque aquilo que queremos é a experiência que tem o Mourinho, desde que seja protegido, vai ser o treinador no imediato para os resultados imediatos. Mas o futuro logo se vê. Se ele quer ir para a Federação, se não quer ir para a federação, tudo se resolve. Temos sempre um plano B e um plano C. Sempre disse isto."
Por Rita Pedroso