Dirão os arautos do pragmatismo que o empate, consumado aos 90 minutos de um jogo praticamente iniciado com o golo de Gameiro, de nada valeu para o essencial que era sair de Sevilha em condições de discutir a qualificação na última jornada. Mas o que fica da exibição estorilista tem a ver com a capacidade para, atrasando-se logo aos sete minutos, ter conseguido jogar olhos nos olhos com um adversário que lhe é claramente superior em todos os capítulos.
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Deste empate, que selou a eliminação europeia, fica a capacidade estorilista para se manter fiel às suas ideias e conceitos; a confirmação do talento coletivo para não abrir mão de uma estratégia assente na posse de bola e na tentativa de, com ela, atingir os objetivos. Não foi suficiente para criar muitas oportunidades? É verdade. O empate não corresponde ao que aconteceu na hora e meia? Talvez. Se quisermos uma frase que resuma o que sucedeu, a melhor será esta: ter sorte dá muito, mas mesmo muito trabalho.
O golo de Gameiro constituiu um soco difícil de encaixar. Porém, o lance não abalou a consistência coletiva nem levou a equipa a perder o sentido de orientação; apenas dificultou o processo de imposição no jogo, porque tirou acutilância à posse de bola e diminuiu a contundência no momento de atacar a baliza espanhola. Isto para lá de ter dado ao adversário a tranquilidade para jogar com mais segurança, pela qualidade superior dos seus jogadores e, claro, pela vantagem cedo adquirida.
A perder, o Estoril deu mais visibilidade às suas fraquezas e aos limites como equipa de ambições moderadas, mesmo sendo parceiro nestas andanças europeias. A formação de Marco Silva dividiu a posse, trocou a bola entre si, mas fê-lo sempre longe da baliza, isto é, em zonas inofensivas, sugerindo a ideia de que tal se deveu a uma opção estratégica do Sevilha. Aliás, a estatística da primeira metade dava conta dessa diferença, traduzida no número de remates: 9-2 com vantagem para os da casa.
Alteração
Depois do intervalo, o jogo mudou. Primeiro apenas ligeiramente. Porém, o tempo encarregou-se de dimensionar essa alteração, sempre em favor da aproximação do Estoril aos padrões de qualidade dos espanhóis. Num determinado momento, admitiu-se que a equipa não teria manta para tanta ambição; que a introdução de um pendor mais ofensivo podia comprometer o equilíbrio e segurança defensiva.
O problema nunca esteve na intenção; quando muito podia estar no tamanho da manta. Desafiar os limites permitiu cumprir metade dos objetivos (evitar a derrota), sinal de que ficará para sempre a dúvida: se o copo ficou meio vazio ou meio cheio.
Árbitro: Tasos Sidiropoulos (nota 4)
Bom trabalho do juiz grego que aproveitou as circunstâncias favoráveis do jogo. Sem lances complicados para decidir, o árbitro seguiu o bom senso em termos disciplinares e deu crédito às decisões (quase todas boas) dos seus assistentes.
Melhor em campo: Gonçalo
O médio estorilista foi a autoridade máxima na zona onde tudo se decidiu. Travou o adversário e impulsionou os companheiros.
Momento
Fatalmente o golo do Estoril, ao minuto 90, num lance que ilustra a vontade da equipa em chegar, pelo menos, à igualdade.
Número
7 foram os remates estorilistas na segunda parte, prova da tendência ofensiva assumida.